Ranking +Premiados da Imprensa 2023

Janeiro de 2024 Realização: zNúmero de prêmios avaliados chega a 190 zA reportagem que mudou a história do Prêmio Esso zCinco anos sem o mais admirado jornalista do Brasil zGuia inédito destaca mais de 50 prêmios em atividade E mais... Eliane Brum confirma e amplia liderança como a +Premiada da História Grupo Globo lidera premiações de veículos e grupos de comunicação 2023 Repórter fotográfica Márcia Foletto, de O Globo, é a +Premiada Jornalista de 2023 A fotografia dá o tom e o compasso

2 Carta ao leitor .....................................................................................................................................................4 .................................................................................................................................................................................6 Entenda o cálculo que define os +Premiados da Imprensa....................................................... 18 Número de prêmios avaliados chega a 190...................................................................................... 20 +Premiados Veículos do Ano.................................................................................................................30 +Premiados Grupos de Comunicação do Ano............................................................................... 36 Os jornalistas mais premiados por ano .............................................................................................. 38 Série Mutilados, de O Globo, é a +Premiada Reportagem do Ano........................................ 39 +Premiados Veículos da História............................................................................................................ 58 +Premiados Grupos de Comunicação da História........................................................................ 74 Ricardo Boechat: Cinco anos sem o mais admirado jornalista do Brasil.............................. 76 Guia de Prêmios de Jornalismo............................................................................................................... 78 ...............................................................................................................................................................................42 ...............................................................................................................................................................................22 Marcia Foletto (O Globo) é a +Premiada Jornalista de 2023 Eliane Brum amplia liderança entre +Premiados Jornalistas da História. Especial Realidade Amazônia

3 Índice PARA HOMENAGEAR OS VENCEDORES, FIZEMOS UM ANÚNCIO DO JEITO QUE JORNALISTA GOSTA: UMA PÁGINA INTEIRA DE TEXTO. JORNALISMO EM TEXTO Ouro branco, ouro roxo: a batata doce como preciosidade agrícola do Agreste de Sergipe (Portal Fan F1 / SE) Equipe: Diego Rios e Larissa Gaudêncio JORNALISMO EM VÍDEO Globo Repórter -- A Força do Coletivo (TV Globo / RJ) Equipe: Patricia Casanova, Arlete Heringer, Carlos de Lannoy, Lariza Relvas, Gisele Machado, Alex Monteiro, Ana Dorneles, Ana Flavia Pinheiro, Carla Suzanne, Cleriston Santana, Camila Marinho, Patricia Trigueiros, Luciano Ribeiro, Rodrigo Nogueira, Andre Ramos, Raphael Rodrigues, Adriano Ferreira, Neto Lima, Tiago do Carmo, Jeová Luz e Anna Paula Ferreira JORNALISMO EM ÁUDIO Empreendedorismo de Transformação (Podcast do Jornal O Tempo / MG) Equipe: Queila Ariadne, Maria Irenilda, Cristiana Andrade e Lucas Morais FOTOJORNALISMO Agricultura regenerativa: uma nova era da cafeicultura brasileira (Revista Negócio Rural / ES) Equipe: Julio Huber e Bruno Pinheiro Faustino GRANDE PRÊMIO SEBRAE DE JORNALISMO Ouro branco, ouro roxo: a batata doce como preciosidade agrícola do Agreste de Sergipe (Portal Fan F1 / SE) Equipe: Diego Rios e Larissa Gaudêncio JORNALISTA PARCEIRA DO EMPREENDEDOR Homenageada: Ana Carolina Diniz Veículo: O Globo EMPREENDEDORISMO SOCIAL Moeda local impulsiona negócios e muda realidade de moradores do Vergel do Lago (TV Ponta Verde / AL) Equipe: Lucas Araújo, Marcelo Moreno, Manoel Salviano, Roberto Rocha e Fernando Moura PRÊMIOS ESPECIAIS Confira todos os trabalhos premiados em: premiosebraejornalismo.com.br/historico-do-premio Fique ligado, pois as inscrições para o 11o PSJ serão abertas em breve. Acompanhe no site.

4 * Fernando Soares, editor de Jornalistas&Cia e coordenador do Ranking +Premiados da Imprensa Brasileira A última edição do Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, divulgado em 25 de janeiro pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), apontou uma redução de mais de 50% nos números absolutos da violência contra profissionais da imprensa em 2023. De acordo com a pesquisa, o resultado foi consequência direta da ainda mais significativa retração no número de episódios envolvendo a descredibilização da imprensa e a censura, ambas infladas em 2022 (e nos três anos anteriores). Este retorno gradual à normalidade impactou também no perfil das pautas e grandes reportagens premiadas em 2023. A cobertura de escândalos e ataques políticos, que tantas vezes monopolizou a agenda do jornalismo brasileiro, voltou a dar espaço para coberturas de temas com impacto social mais direto na vida da população. Os resultados do Ranking dos +Premiados da Imprensa 2023, que você acessa nas páginas a seguir, são um forte indicativo desse movimento. Ao olharmos, por exemplo, para os três primeiros colocados entre os +Premiados Jornalistas do Ano, suas posições foram garantidas por reportagens especiais sobre temas mais variados, como segurança pública, saúde e exploração ambiental e social. Isso marca um contraponto às últimas edições da pesquisa, em que três dos quatro anos anteriores o +Premiado Jornalista do Ano alcançou tal posição em decorrência da cobertura política nacional, inclusive sofrendo ataques por seus trabalhos, como foram os casos de Patricia Campos Mello (2019 e 2020) e Eliane Brum (2021). Pelo segundo ano sendo divulgado em uma edição especial unificada, o Ranking dos +Premiados da Imprensa Brasileira também diversificou seu conteúdo. Além dos resultados dos jornalistas, veículos e grupos de comunicação mais premiados do ano e da história, e dos textos complementares que explicam a dinâmica da pesquisa, nas próximas páginas você encontrará uma série de conteúdos extras. Destaque para a reportagem especial da extinta revista Realidade sobre a maior incursão de uma publicação brasileira na Amazônia, que mudou a história do Prêmio Esso; uma homenagem a Ricardo Boechat, jornalista mais admirado da história do Brasil, que nos deixou há cinco anos; e para um inédito Guia de Prêmios de Jornalismo, com informações sobre as principais premiações nacionais e internacionais ainda ativas. Boa leitura! Fernando Soares* Expediente O Ranking +Premiados da Imprensa Brasileira é uma produção da Jornalistas Editora Ltda. Coordenação Geral: Fernando Soares Clemente Reportagem: Victor Felix Revisão: Wilson Baroncelli Direção: Eduardo Ribeiro Diagramação: Paulo Sant’Ana Este conteúdo pode ser reproduzido livremente mediante citação da fonte. O jornalismo brasileiro volta a respirar

5 Editorial 2

6 Criado em 1956, o Prêmio Esso fez história e por seis décadas foi o principal reconhecimento ao trabalho dos jornalistas brasileiros. Com 60 edições realizadas até 2015, quando encerrou suas atividades, a iniciativa analisou mais de 30 mil reportagens e premiou quase 700 trabalhos que ajudaram a contar e a mudar o rumo da história do Brasil e − por que não? – do próprio Esso, que com o passar dos anos também foi se adaptando às novas realidades do jornalismo. Uma dessas viradas de chave veio em 1971, quando a Realidade, revista criada em 1966 pela Editora Abril, surpreendeu o mercado ao apresentar uma edição especial com 320 páginas inteiramente dedicadas a retratar a Amazônia. Com seu estilo inovador, adotando características de design e escrita baseados no New Journalism, criado nos Estados Unidos no início da década de 1960, a publicação foi um divisor de águas no jornalismo brasileiro – mesmo tendo durado apenas dez anos –, ao apostar em grandes e aprofundadas reportagens. Em 1971, quando vivia uma fase mais conservadora, com uma pegada menos investigativa por conta da censura imposta pelo regime militar, mas ainda marcada por suas reportagens em profundidade, a revista partiu para aquela que seria a maior empreitada de sua história: um especial que tinha como objetivo mostrar e desmistificar a Floresta Amazônica, região até então pouco conhecida entre os próprios brasileiros. No total, 38 profissionais estiveram envolvidos no projeto, que durou nove meses e foi capitaneado por Raimundo Rodrigues Pereira. Foram cinco meses de viagens, 1.232 horas à bordo de barcos, 184 mil quilômetros de avião e 131 cidades, isso sem contar as muitas horas de incursões a pé pela floresta. Dentre os profissionais que estiveram naquela empreitada, alguns figuram até hoje entre os +Premiados Jornalistas da História, como José Hamilton Ribeiro, atual quinto colocado e líder do levantamento em três edições (2011, 2013 e 2014); Domingos Meirelles, que atualmente ocupa a 17ª posição; e Lúcio Flávio Por Victor Felix (*) A saga da maior incursão de uma publicação pela Amazônia que mudou a história do Prêmio Esso Desbravando novos territórios Imagem cedida pelo Acervo Abril ([email protected])

7 Pinto, o +Premiado Jornalista da Região Norte. Outro destaque foi a equipe de imagem, que reuniu nomes nacionais e internacionais de prestígio, como Cláudia Andujar, George Love, Jean Solari, Maureen Bisilliat, Amâncio Chiodi e Darcy Trigo. Juntos, eles registraram mais de 30 mil flagrantes da região, um acervo único para a época. Sucesso de público e crítica, a edição especial logo se esgotou nas bancas e hoje é item raro de colecionador. O resultado foi tão único e impressionante que além de garantir o Prêmio Esso de Jornalismo em 1972, principal categoria do principal concurso jornalístico do Brasil, a reportagem também foi agraciada com um reconhecimento extra, até então inédito, o de Melhor Contribuição à Imprensa. Desafio sem precedentes “O nosso plano foi o maior dos que já elaboramos para uma única reportagem: queríamos documentar de maneira definitiva o momento mais dramático da vida da Amazônia”, escreveu Luis Carta, que à época dirigia a Realidade, na introdução do especial, ainda tão atual mesmo passadas mais de cinco décadas. “A última grande reserva natural do planeta, que está perdendo seu isolamento milenar e é de repente invadida por estradas, cientistas, colonos, gado, mineradores e industriais”. Entre as diversas histórias que a Realidade-Amazônia trouxe aos leitores está a jornada do repórter Octávio Ribeiro, o Pena Branca, e do fotógrafo francobrasileiro Jean Solari no meio da mata, acompanhando caçadores em busca de uma onça-pintada. Eles ficaram cerca de 20 dias na selva, comeram carne de macaco (quando havia comida para se alimentar), carregaram quilos de equipamentos nas costas, quase todo o tempo encharcados devido à chuva. A fotógrafa Cláudia Andujar viveu por alguns dias em meio a índios Yanomami e fez um belíssimo ensaio das belezas naturais e humanas da região, que passariam a ser sua causa dali para a frente. É dela, inclusive, a foto que estampou a capa da edição. Domingos Meirelles e Darcy Trigo percorreram todos os países que integram a chamada Amazônia Legal em viagem que durou 47 dias. Na Guiana Francesa, fizeram uma reportagem sobre a Base Aeroespacial de Kourou, projeto que exemplificava o sonho dos governantes do país na época de transformar a nação em uma potência espacial. Essas e outras histórias são contadas e retratadas ao longo das páginas da revista, um verdadeiro marco, segundo jornalistas que fizeram parte de sua equipe. “Nenhuma empreitada jornalística se aproximou sequer de Realidade-Amazônia. É quase certo que jamais o que foi realizado nessa edição se repetirá”, relembrou Lúcio Flávio Pinto em texto publicado em 2011 no Observatório da Imprensa. Para ele, esse especial é único na história do jornalismo brasileiro: “Primeiro por Lúcio Flávio Pinto Twitter

8 impossibilidade – ou incapacidade – de as empresas investirem o que foi aplicado na cobertura da Amazônia pela revista. Qual seria o valor atual? Seria bom fazer um cálculo exato. Mas nunca ficaria abaixo do milhão de reais. Em segundo, pela qualidade da equipe comandada com maestria por Raimundo Rodrigues Pereira. O trabalho levou o tempo de um parto, nove meses, para ser finalizado. Nesse período, os repórteres contaram com todos os meios de transporte disponíveis, incluindo numerosos fretes de pequenos aviões, para ir onde fosse necessário para documentar ‘de maneira definitiva o momento mais dramático da Amazônia’”. Um dos grandes nomes na cobertura das agressões à região amazônica, tendo inclusive acumulado diversas ameaças e ataques pessoais e jurídicos ao longo de sua carreira, Lucio Flavio explica que a revista documentou o período de “ocupação agressiva” da Amazônia, com estradas e exploração de diversos tipos: “Foi uma felicidade para mim ter integrado a equipe. Aprendi com Raimundo um tanto do que apenas dois outros jornalistas me ensinaram: Cláudio Augusto de Sá Leal, em Belém, e Raul Martins Bastos, em São Paulo. No final da jornada eu tinha certeza de que minha tarefa não era olhar para a Amazônia de um promontório paulistano, mas varejando por suas trilhas, à cata dos fatos, de uma verdade, da história”. De volta à floresta Três anos após perder uma perna ao pisar em uma mina no Vietnã, enquanto realizava a cobertura da guerra para a mesma Realidade, José Hamilton Ribeiro de repente se via novamente desbravando uma floresta desconhecida, ainda que em outro contexto histórico: “O acesso era muito difícil, tinha muita mata e dificuldade de comunicação e transporte interno. Naquela época, foi um desafio muito grande fazer um retrato tão rico daquela região. Foi uma experiência editorial ímpar até aquele momento”. Ele explica que, para produzir a revista, a equipe precisou superar muitos desafios inéditos e momentos cruciais ao longo de nove meses. “A Realidade, por natureza, oferecia aos leitores cerca de 12 a 15 reportagens por edição, cada uma voltada para um assunto diferente. No caso da edição sobre a Amazônia, todas as reportagens eram sobre diferentes aspectos da mesma região. A ideia era fazer com que elas fossem únicas, cada uma com seus aspectos singulares e que pudessem ser aproveitadas em sua unidade, mas de modo que elas também não se encavalassem umas com as outras. Cada reportagem tinha um olhar específico”. “A sucessão de reportagens criou um caleidoscópio que causou deslumbre na época”, lembra. “Pode-se dizer que imprensa brasileira jamais fez alguma coisa do nível da Realidade-Amazônia, e muito se deve ao trabalho do Raimundo Pereira. Ele foi o homem que teve a ideia da edição, pensou na pauta e acompanhou toda a execução. Durante a concepção do especial, ele foi repórter de campo, editor e chefe de reportagem, tudo ao mesmo tempo, e concebeu todas as reportagens de forma a fazer um mostruário da Amazônia como nunca se vira até então, um feito da imprensa brasileira que não se repetiu”. Para ele, já está na hora de fazer um novo trabalho sobre a Amazônia atual, tão grandioso e complexo como a da Realidade, atualizando o panorama apresentado pela revista na época: “Seria extraordinário poder refazer aquele especial com o olhar de hoje, um retrato atual que tivesse aquela edição da Realidade de fundo para mostrar o que mudou na Amazônia de lá para cá, o que permaneceu igual, e fazer um documento nesse sentido”. José Hamilton Ribeiro TV Cultura/YouTube

9 20 dias na selva: a jornada por uma onça-pintada Jean Leopold Solari nasceu em Paris, em 1933. Tornouse fotógrafo e chegou ao Brasil cedo, com menos de 20 anos, em 1950. Radicou-se primeiramente no Rio de Janeiro e, posteriormente, em São Paulo. Ele lembra da reunião de pauta que decidiu os temas que seriam fotografados na expedição à Amazônia. O encontro foi em Copacabana, no apartamento de Claudia Andujar e George Love, na época casados. “Determinamos como seriam as reportagens, e dividimos quem fotografaria o quê. Claudia ficou com os índios, Love ficou com as visões aéreas, e eu fiquei com a onça. Sobrou para mim, que era o mais novo, então tive que topar (risos)”. O fotógrafo ficou três meses na região, sendo 20 dias no meio da mata, acompanhando caçadores em busca de uma onça-pintada. Ao lado de Solari estava o renomado repórter policial Octavio Ribeiro, o Pena Branca. Segundo ele, Pena Branca chorava e reclamava constantemente do que estava acontecendo, de ter que carregar peso nas costas durante a caminhada, mas sempre acompanhado de muitos maços de cigarro. Solari lembra com detalhes do período em que ficaram no meio da selva, em especial da fome que passaram e que o fez perder oito quilos: “Em determinado momento, a comida acabou. Os caçadores comiam carne de macaco, mas nós relutamos o máximo possível para experimentar tal iguaria. Nós não tínhamos coragem de comer, parecia uma criança dentro da travessa. Eles iam para cima, comiam bem, e não deixavam quase nada para a gente. Graças a deus apareceu um porco do mato, para matar nossa fome. Ficamos com pena dele, mas a fome era de um leão”. Danielle Solari, filha de Jean que contribuiu para esta entrevista, conta que não reconheceu de imediato o pai após seu retorno: “Tinha por volta de dois anos, minha mãe conta que estranhei, não o reconheci, quando ele voltou depois de três meses longe. Ficava olhando para ele desconfiada (risos)”. Outro problema enfrentado na jornada foi o clima chuvoso. “Nós ficávamos quase sempre com as roupas encharcadas, coladas ao corpo. Em certos dias, as trilhas escorregavam bastante. Chovia muito e não tinha onde se abrigar. Além disso, no meio da selva, diversos tipos de mosquitos atrapalhavam a expedição. Tinha muitas ondas de mosquitos, você tinha que usar roupas que pudessem te proteger minimamente, e usar bastante repelente, às vezes nós não aguentávamos o cheiro forte de tanto repelente”. Preparado para fotografar em qualquer que fosse a situação, Solari foi bastante preparado para a Amazônia e levou diversos tipos de equipamentos, para registros de diferentes ângulos, tipos e distâncias, com o objetivo de retratar ao máximo a riqueza de detalhes da fauna e flora que via ao seu redor. Infelizmente, logo nos primeiros dias de selva, ele percebeu que levou equipamento à toa, pois a floresta era muito fechada e, em alguns períodos, bem escura pois a claridade não batia. Os equipamentos para fotos com profundidade, por exemplo, não foram utilizados, pois só era possível Jean Solari e indígenas Acervo pessoal

10 enxergar cinco ou seis metros à frente. Com isso, o peso dos equipamentos também acabou se tornando um obstáculo. “Carregava quase 40 quilos nas costas durante a caminhada. A floresta era muito fechada e muito escura, então eu tive que trabalhar com esse contexto para conseguir fotografar algo”, explica. Durante a expedição, os jornalistas não enfrentaram nenhum tipo de perigo em relação aos animais da floresta. À noite, porém, Solari contou que ouvia o barulho de macacos, e ele e Ribeiro ficavam às vezes apreensivos, mas os caçadores diziam que a espécie que cantava especificamente não atacava, não representava perigo. Em um dos dias da caminhada, um caçador deu um tiro para o alto e matou uma cobra venenosa. Outro detalhe interessante: um dos caçadores cortou a cabeça de um macaco, pendurou no cinto e passou a caminhar com aquilo. Além disso, Solari e Ribeiro seguiam certos protocolos de segurança para evitar acidentes. À noite, por exemplo, dormiam em barracas e redes de náilon: “Tínhamos um lugar específico para botar os sapatos, porque havia sempre o risco de, ao levantar de manhã, ter algum animal não desejado dentro deles, podíamos levar uma picada de algo venenoso. Então, os sapatos ficavam sempre na rede com a gente”. Durante a noite, para passar o tempo, jogavam dominó. “Aprendemos com os caçadores, e sempre tínhamos dificuldade de múltiplos de cinco nas pontas (risos). Jogávamos sempre à noite, no pé da fogueira. Os caçadores eram muito bons, quase sempre ganhavam”. E então, finalmente, depois de dias de caminhada, fome, dor nas costas e encharcados, o caçador tocou a cuíca que imitava o som de uma onça, e o animal que estavam caçando respondeu. O caçador continuou a tocar a cuíca até ela se aproximar. E então, ele disparou contra o animal, que caiu morto. O problema é que o tiro não saiu em cheio, não foi na cabeça da onça, e sim no meio das costas. E isso interferiu no valor final da pele, que acabou sendo vendida por um preço menor. O caçador reclamou muito de ter perdido dinheiro. Mas, finalmente, a jornada no meio da selva havia acabado. Atualmente, Solari, que completou 90 anos em 2023, está aposentado e morando em Saquarema, no Rio de Janeiro. Mas, ao relembrar sua carreira, diz que sem dúvida a jornada na selva foi um dos momentos mais marcantes da expedição à “ainda desconhecida Amazônia”. Um mês e meio pelos países da Amazônia Legal Domingos Meirelles é outro premiado jornalista que fez parte do time que foi a campo para a Realidade-Amazônia. Então recémintegrado à equipe da publicação, ele havia se destacado três anos antes por uma reportagem para a Quatro Rodas que desvendou uma série de irregularidades cometidas no Detran do Rio de Janeiro, e que lhe rendeu um Prêmio Esso. “Era muito jovem no ofício, tinha apenas cinco anos de profissão. Credito o convite às matérias que produzi para a revista Quatro Rodas, também editada pela Abril”, conta. “Além da reportagem com a qual conquistei o Esso em 1968, fiz uma boa reportagem para a própria Realidade, na Bolívia, sobre o primeiro aniversário da morte de Che Guevara. O convite para a Realidade foi de Milton Coelho da Graça, que na época dirigia a revista e tinha sido meu chefe de redação na Quatro Rodas”. Para a Realidade-Amazônia, em 1971, Meirelles, ao lado do fotógrafo Darcy Trigo, percorreu ao longo de 47 dias todos os países que compõem a Amazônia Legal: Guiana Francesa, Guiana, Colômbia, Venezuela e Peru. O objetivo era coletar dados oficiais Jean Solari Acervo pessoal

11 sobre a região para posteriormente criar um mapa completo com informações variadas da Amazônia. Meirelles e Trigo levantaram informações sobre estradas, bacias hidrográficas, riquezas naturais, número de habitantes, fontes de renda das populações que viviam na floresta, taxa anual de crescimento, principais produtos de exportação, entre outros tópicos relevantes. “A Amazônia começava a ser descoberta quase ao mesmo tempo da conquista da lua”, relembra Meirelles. “Era um pedaço do nosso planeta até então quase totalmente inativo, silencioso e desabitado. À época, a floresta ocupava cerca de 60% do território brasileiro, uma área quase 20 vezes o tamanho da Alemanha Ocidental. Fazia parte do governo brasileiro criar uma malha de 14 mil quilômetros de estradas em toda a região”. Ele destacou a importância de ter Trigo ao seu lado durante a cobertura por causa de seu conhecimento da região: “Profissional experiente, que trabalhara em O Cruzeiro Internacional, projeto audacioso de Assis Chateaubriand, cuja redação ficava em Buenos Aires, Trigo era fluente em espanhol, conhecia os países da América Latina, além de dominar todos os truques necessários para se obter determinadas autorizações especiais. Ele foi fundamental ao longo dessa viagem fascinante”. A primeira “parada” da viagem foi na Guiana Francesa, onde os dois profissionais produziram uma reportagem sobre a Base Aeroespacial em Kourou, projeto da época do governo do General Charles de Gaulle, que sonhava em transformar o país em uma potência espacial. “Tivemos acesso apenas a alguns trechos da base, considerada área de segurança pelas autoridades francesas. A Guiana possuía densa floresta, servida por uma rede de estradas padrão europeu”, conta Meirelles. “A Base de Kourou foi construída com grande parte de mão de obra brasileira, em sua maioria nordestinos. O local foi escolhido por sua localização privilegiada. As obras começaram por volta de 1964, mas o projeto só foi finalizado em 1975. Em determinado momento, os trabalhos foram interrompidos, e os nordestinos que trabalhavam na construção se espalharam por várias cidades da Guiana Francesa, inclusive a capital Caiena, onde eram balconistas, motoristas e garçons”. Além de informações gerais sobre os países da Amazônia Legal, Meirelles e Trigo tinham como objetivo levantar pautas para outras edições da Realidade. Os dois produziram mais três reportagens que foram publicadas em diferentes números da revista. Em uma delas, Meirelles e Trigo foram até a Guiana. “A então República Cooperativista da Guiana tinha um lema que era ‘Um povo, uma nação, um destino’”, lembra Meirelles. “Era a única nação do mundo que adotara o cooperativismo como forma de governo. A capital, Georgetown, com seus telhados enferrujados, mais parecia uma decadente aldeia africana. A Guiana era governada por uma espécie de Papa Doc, o primeiro-ministro Forbes Burnham, um metodista populista de quinta categoria. A maioria da população era formada por negros, chineses e indianos que viviam em permanente conflito. Ninguém saía de casa à noite, depois do jantar, por causa da violência. Os hotéis forneciam aos raros hóspedes estrangeiros um mapa indicando as áreas mais perigosas da capital. Ficamos cinco dias na Guiana”. Posteriormente, os jornalistas fizeram escala em Trinidad e Tobago e chegaram à Venezuela. Depois de levantarem dados oficiais dos mais diversos tipos sobre Caracas, foram conhecer o interior e sobrevoar a região amazônica venezuelana. Nessa viagem, Meirelles conta que viveu um dos momentos mais mágicos da expedição: Ver Salto Angel, uma cachoeira em plena selva, no meio da floresta, em Ciudad Bolívar: “Era uma imensa Domingos Meirelles Acervo pessoal

12 “ “ queda d’água, o maior salto do mundo, com 979 metros de altura. A visão exuberante do Salto Angel, quase na fronteira do Brasil com a Guiana, é inesquecível. A cachoeira fora descoberta, no meio da mata, pelo explorador Ernesto Sanchez, que em 1910 comunicou seu achado às autoridades de Caracas”. Os jornalistas também passaram pelo Vale do Orinoco, onde conheceram Guayamo, uma cidade pequena de exploração de diamantes, cujo negócio era administrado na época por brasileiros, em sua maioria cariocas e nordestinos. E em um dos últimos países do “roteiro”, Meirelles e Trigo passaram pela Colômbia, onde vivenciaram um dos episódios mais curiosos da viagem, envolvendo Eugênia Rojas Pinilla, a primeira mulher na América Latina a disputar o cargo de presidente de um país da região. Reproduzimos a seguir a história na íntegra, nas palavras do próprio Meirelles. Com mais de meio século de experiência no jornalismo, Meirelles lembra com muito carinho do tempo que ficou na Amazônia e por ter feito parte de um trabalho jornalístico histórico. Segundo ele, Realidade-Amazônia é “um projeto editorial impensável para os dias de hoje”: “‘A Amazônia é um capítulo do Gênesis por escrever’, registrara Euclydes da Cunha, sem suspeitar que ainda no século XX seria realizado o encontro do homem com esse legado da natureza. O projeto da Abril, por sua importância e abrangência, acabaria se transformando na iniciativa jornalística mais audaciosa da história da imprensa contemporânea”, concluiu Meireles. Na Colômbia, que desfruta de extensa região amazônica, a segunda maior área depois do Brasil, repetimos o mesmo caminho dos países anteriores. Recolhemos mapas e todo tipo de informações disponíveis para que o departamento de arte da revista pudesse produzir um retrato desse imenso planeta verde a ser desvendado pelo homem. Uma notícia de jornal, na primeira página de El Expectador, nos levaria à terceira matéria independente. O jornal informava que a senadora Maria Eugênia Rojas Pinilla lançaria sua candidatura à presidência da República da Colômbia, na cidade de Cúcuta, naquela tarde. Era a primeira mulher a disputar esse cargo em toda a América Latina. Fomos para o Aeroporto de El Dorado e esperamos a chegada da caravana que acompanharia La Capitana del Pueblo, como a senadora era politicamente conhecida entre os seus seguidores. Não havia mais vagas no voo para Cúcuta. Eu e o Trigo nos aproximamos da senadora, contei que trabalhávamos na maior revista do Brasil, e que havíamos viajado à Colômbia especialmente para fazer uma reportagem sobre o lançamento da sua candidatura. Infelizmente não conseguimos comprar as passagens, todos os voos estavam lotados. Uma hora depois, estávamos a bordo, sentados ao lado da senadora. Pela janela do avião podia-se ver duas freiras que discutiam com os funcionários da empresa, no saguão do aeroporto, exibindo seus bilhetes de embarque. Maria Eugênia viu a cena e sorriu. R Uma homenagem a todos os profissionais que constroem, dia a dia, um jornalismo ético e com seriedade. Parabéns aos premiados!

13 Por onde andam? Amancio Chiodi (fotógrafo) – Começou a carreira como assistente de José Augusto Godoy, diretor de fotografia da Folha de S.Paulo. Com passagens por A Gazeta, O Bondinho e Ex, cobriu movimentos estudantis e manifestações durante a ditadura. Em 1968, registrou o tiro certeiro que matou o estudante secundarista José Guimarães, aos 20 anos, na chamada Batalha da Rua Maria Antônia. Aos 76 anos, vive em Bauru, no interior de São Paulo. Carlos Azevedo (repórter) – Um dos fundadores da revista Realidade, começou no jornalismo em 1959. Foi repórter em A Hora, Estadão, Folha de S.Paulo, Diário da Noite, nas revistas O Cruzeiro, Quatro Rodas, entre outros veículos, até 1968. Na ditadura militar, participou de movimentos antirrepressão e viveu dez anos na clandestinidade, de 1969 a 1979. Após a ditadura, trabalhou na TV Globo e na TV Cultura. Aposentado, vive atualmente no bairro do Butantan, Zona Oeste de São Paulo. Claudia Andujar (fotógrafa) – Nascida na Suíça, em 1931, filha de um engenheiro judeu morto em um campo de concentração próximo a Munique, viveu seus primeiros anos de vida fugindo com sua mãe para sobreviver à Segunda Guerra Mundial. Em 1948 foi morar com um tio nos Estados Unidos, onde desenvolveu interesse pela pintura. Mas foi só em 1955, quando veio ao Brasil para reencontrar sua mãe, que vivia há alguns anos por aqui, que iniciou a carreira de fotógrafa. Ao longo de 40 anos de carreira, percorreu o Brasil e colaborou com diversas revistas nacionais e internacionais, como Life, Aperture, Look, Cláudia, Quatro Rodas, Realidade e Setenta. Dedicou boa parte de sua carreira a registrar e defender a causa dos Yanomamis. Sua exposição mais recente foi A luta Yanomami, no Instituto Moreira Salles, em 2018. Em 2024, o Itaú Cultural terá uma mostra da fotógrafa. Domingos Meirelles (repórter) – Com mais de 60 anos de carreira no Jornalismo, começou no jornal Última Hora, e posteriormente transferiu-se para a Editora Abril, onde trabalhou na Quatro Rodas e na Realidade. Passou também por Estadão, SBT, Record e Rede Globo, onde apresentou o Linha Direta. Foi também presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Seu último trabalho mais conhecido foi na Record TV, de onde se desligou em 2021. Depois disso, candidatou-se a deputado estadual pelo Rio de Janeiro em 2022, mas não foi eleito, e participou de um documentário para o History Channel sobre a origem do crime organizado no Rio. Amancio Chiodi Instagram Carlos Azevedo YouTube Claudia Andujar Guilherme Aquino Domingos Meirelles Acervo pessoal

14 George Love (fotógrafo) – Um dos grandes nomes da fotografia mundial, nasceu na Carolina do Norte. Começou a fotografar em 1957, interessado nas relações entre ambientes e diferentes culturas. Em 1963, fundou a Association of Heliographers, na qual deu aulas de fotografia e organizou exposições. Chegou ao Brasil em 1966 e estabeleceu-se em São Paulo. Foi para a Editora Abril, onde trabalhou nas revistas Claudia, Quatro Rodas e Realidade. Foi editor da revista O Bondinho e coordenador do laboratório e do curso de fotografia do MASP. Suas fotografias foram expostas em diversas mostras pelo Brasil e no exterior. Foi casado com a também fotógrafa Claudia Andujar. Faleceu em 1995, aos 58 anos, em São Paulo. Geraldo Mayrink (repórter) – Mineiro de Juiz de Fora, começou a carreira em 1960. Ao longo de quase 50 anos de jornalismo, passou por O Globo, Estadão, Jornal do Brasil, Veja, Manchete, IstoÉ, Binômio, Diário de Minas, Playboy, Afinal, Correio Braziliense, Revista Goodyear, Jornal da Tarde, Época e Diário do Comércio. É autor de diversos livros, como a biografia de Juscelino Kubitschek, e Escuridão ao Meio-dia. Morreu em 2009, aos 67 anos, em São Paulo. Hamilton Almeida Filho (editor-assistente) – Filho de um trapezista e de uma bailarina, criado pelo tio militar e comunista, HAF, como era conhecido entre os colegas de redação, começou a carreira cedo, aos 15 anos, no jornal carioca A Noite. Na Realidade, formou dupla com Paulo Henrique Amorim, e ao longo de sua carreira passou por JB, Estadão, Jornal da Tarde, Opinião, SBT, O Cruzeiro, Tribuna da Bahia, além de veículos da imprensa alternativa como Bondinho e Ex. Venceu três Prêmios Esso de Jornalismo. Foi um dos fundadores do Jornal da Tarde e da Revista Placar e é autor do livro A Sangue Quente, sobre a morte de Vladimir Herzog. Faleceu prematuramente, em 1993, aos 47 anos. Jean Solari (fotógrafo) – Nascido em Paris, na França, em 1933, Solari tornou-se fotógrafo e chegou ao Brasil cedo, com menos de 20 anos, em 1950. Radicou-se primeiramente no Rio de Janeiro e, posteriormente, em São Paulo. Trabalhou nas revistas Radiolândia e O Cruzeiro, além da própria Realidade. A partir da década de 1970, passa a se dedicar à produção de audiovisuais e multivisões, e cria a empresa Réalité. Completou 90 anos em 2023 e está atualmente aposentado, morando em Saquarema, no Rio de Janeiro. José Carlos Marão (repórter) – Iniciou a carreira na Folha de S.Paulo, em 1960. Passou também por O Cruzeiro, Estadão, Jornal da Tarde, Realidade e Quatro Rodas, nesta última foi diretor de redação e diretor editorial. Em 1992, em parceria com a esposa, a também jornalista Ligia Martins de Almeida, criou a Anagrama Editorial, que editou revistas como Muito Melhor, Anagrama e Muito Melhor Astrologia. Em 2010, lançou, em parceria com José Hamilton Ribeiro, o livro Realidade Re-vista, sobre a história e o sucesso da publicação em sua primeira fase. Aos 83 anos, mora atualmente em São Paulo. Claudia Andujar e George Love Elephant.art Geraldo Mayrink geraldomayrink.com.br Hamilton Almeida Filho Jean Solari Acervo pessoal José Carlos Marão Instituto Vladimir Herzog

15 José Hamilton Ribeiro (repórter) – Primeiro jornalista a liderar o Ranking +Premiados da Imprensa Brasileira, em 2011, começou a carreira na Rádio Bandeirantes, e em seguida ingressou na Editora Abril, como repórter da Quatro Rodas. Transferido mais tarde para a Realidade, participou de importantes coberturas, entre elas da Guerra do Vietnã, em 1968, quando perdeu parte da perna esquerda ao pisar em uma mina. Foi condecorado com o Maria Moors Cabot, da Universidade de Columbia, um dos mais importantes e antigos prêmios do jornalismo mundial. Dedicou 40 anos da carreira à Rede Globo, com trabalhos realizados para os telejornais Fantástico, Globo Repórter e Globo Rural, entre outros. Deixou a emissora em 2021 e desde então mora em sua fazenda em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Lúcio Flávio Pinto (repórter) – +Premiado Jornalista da História na Região Norte, após sua colaboração para a Realidade, foi correspondente da BBC Radio News, responsável pela sucursal do Estadão na Amazônia e repórter dos jornais O Liberal e A Província do Pará, entre outros. Em 1987, ao lado do irmão Luiz Pinto, fundou o Jornal Pessoal, publicação independente e combativa na Região Amazônica. Escreveu mais de 20 livros sobre a região e foi contemplado com algumas da mais importantes premiações mundiais do jornalismo, como o Colombe d’oro per La Pace e o CPJ International Press Freedom. Em decorrência do Mal de Parkinson, diagnosticado há alguns anos, anunciou sua aposentadoria em 2023, quando a doença começou a afetar sua cognição. José Carlos Bardawill (repórter) – Cearense de Fortaleza, passou pelo Correio do Povo, de Porto Alegre, integrou as equipes que fundaram as revistas Veja e IstoÉ, foi coordenador de política de O Globo e na década de 1990 era responsável pela coluna Fax Brasília e diretor da sucursal da Isto É no Distrito Federal. Faleceu em 1997, aos 54 anos, vítima de problemas circulatórios. Luis Carta (diretor editorial) – Irmão mais novo do também jornalista Mino Carta, foi diretor das revistas Manchete, Claudia, Realidade, Veja e IstoÉ, tendo inclusive sido um dos fundadores da Editora Três. Em 1976 desligou-se da sociedade para lançar a edição brasileira da Vogue por sua própria empresa, a Carta Editorial. Em 1987, a Condé Nast, que publica a Vogue internacional, convidou Carta para lançar e dirigir a revista na Espanha. Baseado em Madri, faleceu em 1994, aos 57 anos, vítima de embolia pulmonar. Maureen Bissilliat (fotógrafa) – Filha de uma pintora com um diplomata, nasceu na Inglaterra e chegou ao Brasil pela primeira vez em 1952, fixandose definitivamente em 1957 em São Paulo. Começou a carreira como pintora, mas em 1962 passou a dedicar-se à fotografia. Seu trabalho como fotojornalista durou apenas dez anos, e após o trabalho para a Realidade fundou a galeria de arte O Bode e passou a viajar pelo Brasil em busca de trabalhos de artistas populares e artesãos para compor seu acervo. Aos 92 anos de idade, é uma das fotógrafas mais relevantes do Brasil. Mino Carta (supervisor de texto) – Nascido na Itália, chegou a São Paulo em 1946 ao lado dos pais e do irmão mais novo, Luis, que também se tornaria jornalista e mais tarde diretor editorial da Realidade. Dirigiu as equipes de criação de publicações que fizeram história na imprensa brasileira, como Quatro Rodas, Jornal da Tarde, Veja, IstoÉ e CartaCapital, da qual ainda é diretor de Redação. José Hamilton Ribeiro TV Cultura/YouTube Lúcio Flávio Pinto Twitter Maureen Bissilliat Acervo IMS Mino Carta

16 Mylton Severiano (repórter) – Também conhecido como Myltainho pelos colegas de profissão, nasceu em Marília, interior de São Paulo, em 1940. Além da Realidade, passou por Folha de S.Paulo, Estadão, Jornal da Tarde, Quatro Rodas, TV Globo, TV Cultura, TV Tupi, TV Abril, A Nação, Ex-, Bondinho, O Jornal, Panorama (Londrina, PR), Brasil Extra, Extra-Realidade Brasileira e Caros Amigos. Morreu em 9 de maio de 2014, aos 74 anos, vítima de infarto, em Florianópolis. Norma Freire (repórter) – Com passagens por Realidade, Veja, Editora Visão, Estadão e Fundação Padre Anchieta, foi mestre e doutora em Comunicação e Semiótica e publicou diversos livros infantis e infanto-juvenis. Foi também membro da Associação Brasileira de Estudos Medievais e participou do Centro de Estudos da Oralidade. Faleceu em 21 de outubro de 2019, em São Paulo. Octávio Ribeiro (repórter) – Jornalista policial e militante comunista, era popularmente conhecido como Pena Branca, apelido que ganhou ainda na adolescência por causa de uma mecha de cabelo branco no topete. Fundou com Samuel Wainer o jornal Última Hora e foi um dos mentores de Caco Barcellos, chegando inclusive a ser retratado com destaque na série Rota 66, lançada em 2022 pelo GloboPlay (2022), que narra a história do premiado livro homônimo escrito por Caco. Faleceu em 1984, aos 82 anos, vítima de edema pulmonar. É pai do também jornalista Dácio Malta. Palmério Dória de Vasconcellos – Paraense de Santarém, foi criado por um padre na capital Belém, onde iniciou a carreira no Jornalismo e foi convidado para integrar a equipe que produziu o especial Amazônia. Anos mais tarde, mudou-se para São Paulo onde fez carreira e se destacou por passagens pela Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e revista Caros Amigos. Também foi chefe de reportagem da Rede Globo e diretor da revista Sexy. Após anos lutando contra um câncer, faleceu em 31 de março de 2023, aos 74 anos. Raimundo Rodrigues Pereira (editor) – Pernambucano de Exu, também integrou a equipe que lançou a revista Veja. Passou por Senhor, Retrato do Brasil, Ciência Ilustrada, IstoÉ e Folha da Tarde, criou e dirigiu o jornal Movimento, e por anos comandou o projeto jornalístico Oficina da Informação, que editou a revista Grandes Reportagens. Aos 83 anos, recentemente atuou como colunista e repórter do site Brasil 247. Sergio Ribeiro Pompeu (repórter) – Filho, pai e irmão de jornalistas, integrou as equipes responsáveis pelos lançamentos das revistas Veja, Ciência Ilustrada e Globo Rural, e dos jornais Notícias Populares e Jornal da Tarde. Na Veja, foi redator-chefe e diretor de Redação, além de diretor Editorial da Abril. Também passou por Folha de S.Paulo, Placar e Guia Rural. Faleceu em 1º de janeiro de 2000, aos 61 anos, em Jaú, devido a uma parada respiratória. Mylton Severiano Norma Freire Octavio Ribeiro Raimundo Pereira Memorial da Resistência de São Paulo Palmerio Doria

17 Para responder a essa pergunta, um grupo de professores do curso de Jornalismo da ESPM criou a pesquisa “A inteligência artificial para jornalistas brasileiros”. No estudo, em parceria com o Jornalistas&Cia, o grupo de pesquisa Tecnologias, Processos e Narrativas Midiáticas − ESPM está coletando respostas sobre o uso da inteligência artificial generativa no jornalismo. Sua participação é muito importante para entendermos os impactos da IA no jornalismo brasileiro e como essa tecnologia pode mudar a rotina da nossa profissão. Na primeira fase da pesquisa, basta responder a um questionário de múltipla escolha, que leva 5 minutos para ser preenchido. Os nomes dos participantes serão preservados. Em uma segunda fase do levantamento, os jornalistas serão convidados para uma entrevista. Como jornalistas brasileiros usam a inteligência artificial? Para participar do estudo, é só clicar aqui.

18 Em sua 13ª edição, o Ranking +Premiados da Imprensa Brasileira segue com o modelo de sucesso adotado nos últimos anos para definir os jornalistas, veículos e grupos de comunicação mais premiados do Brasil − em 2023 e na história. Entre iniciativas nacionais e internacionais, foram analisados os resultados de 190 premiações jornalísticas. Um universo extremamente amplo, repleto de particularidades, diferentes prestígios e que há mais de oito décadas reconhece a excelência do jornalismo brasileiro. Para chegar aos resultados, as premiações são classificadas de acordo com suas amplitudes temáticas e geográficas. Quanto mais ampla e abrangente for a possibilidade de participar de uma iniciativa, mais pontos ela renderá ao jornalista premiado. “O sistema de pontos, se não é perfeito, é extremamente justo e orientado pelo desafio de dar objetividade a algo tão subjetivo como o valor intrínseco que a conquista de um prêmio tem para alguém”, explica o coordenador da pesquisa Fernando Soares. No formato adotado, o Ranking atribui de 10 a 100 pontos para cada prêmio vencido por jornalistas e seus veículos. Apenas conquistas de 1º lugar são consideradas pela pesquisa, deixando de fora possíveis reconhecimentos para 2º e 3º colocados ou menções honrosas. DIVISÃO GEOGRÁFICA SUBDIVISÃO TEMÁTICA PONTOS GLOBAIS GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM GERAL 100 HOMENAGEM GERAL 100 PRÊMIO DE REPORTAGEM GERAL 90 GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM ESPECÍFICA 85 HOMENAGEM ESPECÍFICA 85 PRÊMIO DE REPORTAGEM ESPECÍFICA 75 GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM INSTITUCIONAL 70 HOMENAGEM INSTITUCIONAL 70 PRÊMIO DE REPORTAGEM INSTITUCIONAL 60 CONTINENTAIS (Prêmios exclusivos para Américas) GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM GERAL 90 HOMENAGEM GERAL 90 PRÊMIO DE REPORTAGEM GERAL 80 GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM ESPECÍFICA 75 HOMENAGEM ESPECÍFICA 75 PRÊMIO DE REPORTAGEM ESPECÍFICA 65 GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM INSTITUCIONAL 60 HOMENAGEM INSTITUCIONAL 60 PRÊMIO DE REPORTAGEM INSTITUCIONAL 50 NACIONAIS GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM GERAL 75 HOMENAGEM GERAL 75 PRÊMIO DE REPORTAGEM GERAL 65 GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM ESPECÍFICA 60 HOMENAGEM ESPECÍFICA 60 PRÊMIO DE REPORTAGEM ESPECÍFICA 50 GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM INSTITUCIONAL 45 HOMENAGEM INSTITUCIONAL 45 PRÊMIO DE REPORTAGEM INSTITUCIONAL 35 PRÊMIO DE VOTAÇÃO DIRETA GERAL 35 PRÊMIO DE VOTAÇÃO DIRETA ESPECÍFICA 30 Entenda o cálculo que define os +Premiados da Imprensa Levantamento agrupa premiações de acordo com suas variações temáticas e geográficas para chegar a um sistema de pontuação justo e objetivo

19 DIVISÃO GEOGRÁFICA SUBDIVISÃO TEMÁTICA PONTOS REGIONAIS GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM GERAL 60 HOMENAGEM GERAL 60 PRÊMIO DE REPORTAGEM GERAL 50 GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM ESPECÍFICA 45 HOMENAGEM ESPECÍFICA 45 PRÊMIO DE REPORTAGEM ESPECÍFICA 35 GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM INSTITUCIONAL 30 HOMENAGEM INSTITUCIONAL 30 PRÊMIO DE REPORTAGEM INSTITUCIONAL 20 PRÊMIO DE VOTAÇÃO DIRETA GERAL 20 PRÊMIO DE VOTAÇÃO DIRETA ESPECÍFICA 15 LOCAIS (Estaduais e municipais) GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM GERAL 50 HOMENAGEM GERAL 50 PRÊMIO DE REPORTAGEM GERAL 40 GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM ESPECÍFICA 35 HOMENAGEM ESPECÍFICA 35 GRANDE PRÊMIO DE REPORTAGEM INSTITUCIONAL 25 HOMENAGEM INSTITUCIONAL 25 PRÊMIO DE REPORTAGEM ESPECÍFICA 25 PRÊMIO DE REPORTAGEM INSTITUCIONAL 15 PRÊMIO DE VOTAÇÃO DIRETA GERAL 15 PRÊMIO DE VOTAÇÃO DIRETA ESPECÍFICA 10 INTERNOS DE VEÍCULOS GRANDE PRÊMIO 15 PRÊMIOS REGULARES 10 ESPECIAIS ESPECIAL - GRANDE PRÊMIO ESSO DE JORNALISMO 100 ESPECIAL - GP EMBRATEL (BARBOSA LIMA SOBRINHO) 85 ESPECIAL - ESSO DE TELEJORNALISMO 85 No caso dos profissionais, esses pontos são considerados na totalidade para conquistas individuais, e pela metade para trabalhos em equipe. Já para veículos e grupos cada conquista é única, independentemente da quantidade de profissionais da equipe que conquistaram o prêmio, e sua pontuação considerada de maneira integral. Ao ser cadastrada na pesquisa, uma premiação é classificada levando em consideração os aspectos Geográfico e Temático, cada um com subdivisões próprias: Geográfico zGlobal: Concorrem com profissionais de todo o mundo; zContinental: Iniciativas destinadas ao Jornalismo nas Américas; zNacional: Concorrem profissionais de todo o País; zRegional: Destinada a premiações divididas por regiões brasileiras; zLocal: Iniciativas estaduais, municipais ou macrorregionais dentro de um único estado; zInterno: Premiações de veículos ou grupos de Comunicação. Temático: zGeral: Premiações e homenagens que não fazem distinção de tema; zEspecífica: Premiações e homenagens direcionadas a determinadas editorias (Economia, Meio Ambiente, Política etc.); zInstitucional: Premiações e homenagens com foco em temas pré-determinados por entidades e empresas organizadoras, que se beneficiam diretamente do assunto abordado; Por seu valor histórico para o jornalismo brasileiro, os prêmios Esso e Embratel são os únicos que contam com pontuações específicas e próprias, mas que também levam em consideração as divisões geográficas e temáticas. A pontuação é definida a partir do cruzamento das subdivisões em que cada categoria de um prêmio se encaixa, como mostra a tabela ao lado. Vale destacar que um mesmo prêmio pode ter categorias em mais de uma classe de pontos. Um exemplo é o próprio Prêmio Esso, que se notabilizou por reconhecer, além de reportagens nacionais de temática geral, também trabalhos divididos por temáticas, como o prêmio de Informação Econômica (Nacional/Específica) ou pelas regiões do Brasil (Regional/Geral). Depois de as premiações serem cadastradas, uma soma simples dos resultados aponta quais são os jornalistas, veículos e grupos mais premiados no ano e na história.

20 Internacionais zColombe D’oro Per La Pace** zCPJ Internacional Press Freedom zEconômico Ibero Americano zEvery Human Has Rights zEset-LA zGabo zGlobal Shining Light Award zIberoamericano Rei da Espanha zKnight International zKurt Schork zLatino Americano em Saúde Vascular zLatinoamericano de Jornalismo Investigativo zLorenzo Natali zMaria Moors Cabot zRoche zSeal Awards** zSIP zWash Media Awards Nacionais z+Admirados da Imprensa z3M z99 zABCR zABCZ zAbdias Nascimento zAbear zAbecip zABF zAbimilho zAbmes zABP zAbraciclo zAbracopel zAbrafarma zAbraji zAbramge zAbrapp zAbrelpe zAbvcap zACIE zAdpergs zAEA de Meio Ambiente zAllianz Seguros zAlltech zAmaerj – Patrícia Acioli zAMB zANA zAnamatra zAndifes zANTF zAutomação Imprensa zAyrton Senna zBiodiversidade da Mata Atlântica zBM&FBovespa zBracelpa zBrasil Ambiental zC6** zCaixa zCâmara Espanhola zCbic zCICV zCiti zCláudio Abramo zCláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados zCNA zCNH zCNI zCNT zComissão Europeia de Turismo zComunique-se zDireitos Humanos zEcopet zEmbrapa zEmbratel zEsso zEstácio de Sá zEthos zFenacon zFraterno Vieira O Ranking +Premiados da Imprensa Brasileira 2023 ampliou para 190 o número de premiações avaliadas. A marca é quase três vezes maior do que a registrada na primeira edição da pesquisa, publicada em 2011, quando foram analisadas 65 iniciativas. Dentre as novidades desta edição estão as inclusões dos prêmios internacionais Colombe D’oro Per La Pace, concedido pelo Istituto di Ricerche Internazionali Archivio Disarmo, entidade com sede em Roma que promove a investigação científica sobre desarmamento, segurança e resolução não violenta de conflitos; e o Seal Awards, iniciativa com foco em defesa ambiental. Também foram incluídos os prêmios nacionais C6, José Luiz Egydio Setúbal e Troféu Audálio Dantas, e os locais Justiça Eleitoral e Themis, ambos do Rio Grande do Sul. Vale lembrar que apenas iniciativas que já tiveram ao menos três edições realizadas em sua história estão aptas a serem incluídas na lista de premiações avaliadas. Ranking de veículos Para chegar aos resultados dos rankings de veículos e grupos mais premiados do ano e da história, algumas medidas e ajustes são necessárias. Além de considerar a pontuação integral de maneira única para o caso de trabalhos em equipe, conforme já adiantado na explicação sobre como funciona o ranking, não são computados os resultados dos prêmios internos de veículos. Com isso, em vez de 190 iniciativas, esses levantamentos levam em consideração os resultados de 183 premiações, desconsiderando assim os prêmios Abril, Agência Estado, Editora Globo, Estadão, Folha, RBS e Zero Hora. Confira a relação completa: Número de prêmios avaliados chega a 190

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