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9 20 dias na selva: a jornada por uma onça-pintada Jean Leopold Solari nasceu em Paris, em 1933. Tornouse fotógrafo e chegou ao Brasil cedo, com menos de 20 anos, em 1950. Radicou-se primeiramente no Rio de Janeiro e, posteriormente, em São Paulo. Ele lembra da reunião de pauta que decidiu os temas que seriam fotografados na expedição à Amazônia. O encontro foi em Copacabana, no apartamento de Claudia Andujar e George Love, na época casados. “Determinamos como seriam as reportagens, e dividimos quem fotografaria o quê. Claudia ficou com os índios, Love ficou com as visões aéreas, e eu fiquei com a onça. Sobrou para mim, que era o mais novo, então tive que topar (risos)”. O fotógrafo ficou três meses na região, sendo 20 dias no meio da mata, acompanhando caçadores em busca de uma onça-pintada. Ao lado de Solari estava o renomado repórter policial Octavio Ribeiro, o Pena Branca. Segundo ele, Pena Branca chorava e reclamava constantemente do que estava acontecendo, de ter que carregar peso nas costas durante a caminhada, mas sempre acompanhado de muitos maços de cigarro. Solari lembra com detalhes do período em que ficaram no meio da selva, em especial da fome que passaram e que o fez perder oito quilos: “Em determinado momento, a comida acabou. Os caçadores comiam carne de macaco, mas nós relutamos o máximo possível para experimentar tal iguaria. Nós não tínhamos coragem de comer, parecia uma criança dentro da travessa. Eles iam para cima, comiam bem, e não deixavam quase nada para a gente. Graças a deus apareceu um porco do mato, para matar nossa fome. Ficamos com pena dele, mas a fome era de um leão”. Danielle Solari, filha de Jean que contribuiu para esta entrevista, conta que não reconheceu de imediato o pai após seu retorno: “Tinha por volta de dois anos, minha mãe conta que estranhei, não o reconheci, quando ele voltou depois de três meses longe. Ficava olhando para ele desconfiada (risos)”. Outro problema enfrentado na jornada foi o clima chuvoso. “Nós ficávamos quase sempre com as roupas encharcadas, coladas ao corpo. Em certos dias, as trilhas escorregavam bastante. Chovia muito e não tinha onde se abrigar. Além disso, no meio da selva, diversos tipos de mosquitos atrapalhavam a expedição. Tinha muitas ondas de mosquitos, você tinha que usar roupas que pudessem te proteger minimamente, e usar bastante repelente, às vezes nós não aguentávamos o cheiro forte de tanto repelente”. Preparado para fotografar em qualquer que fosse a situação, Solari foi bastante preparado para a Amazônia e levou diversos tipos de equipamentos, para registros de diferentes ângulos, tipos e distâncias, com o objetivo de retratar ao máximo a riqueza de detalhes da fauna e flora que via ao seu redor. Infelizmente, logo nos primeiros dias de selva, ele percebeu que levou equipamento à toa, pois a floresta era muito fechada e, em alguns períodos, bem escura pois a claridade não batia. Os equipamentos para fotos com profundidade, por exemplo, não foram utilizados, pois só era possível Jean Solari e indígenas Acervo pessoal

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