12 ele queria me matar. Ele estava bêbado e disse que ia me matar e esperar a polícia. Outro problema é que estamos constantemente em lugares muito remotos, afastados. Então, qualquer emergência de saúde que você tiver, você está perdido. Imagine que você está no meio do Vale do Javari e toma uma picada de cobra. E aí? Não tem soro, você está há três dias de barco de qualquer lugar... Eu, por exemplo, quase morri em 2023. Estava indo para Oiapoque, saindo do Amapá, para cobrir a exploração de petróleo na região. No meio do caminho, comecei a me sentir mal, sorte que eu estava com meu colega de cobertura e amigo Vinicius Sassine. Fui para o hospital, o médico pediu uns exames, eu comecei a alucinar, cheguei a ficar inconsciente, fiquei muito mal mesmo. Resumindo, eu estava com Meningite Meningocócica. Só que o médico até então achava que eu estava com dengue. Começaram a aparecer manchas no meu corpo, e por sorte o Vinicius Sassine fotografou e mandou para a irmã dele que era médica e estava fazendo residência em Ribeirão Preto (SP). Ela mostrou para um professor, que disse que isso estava com cara de Meningite Meningocócica. Ele falou que eu tinha horas de vida. Aí foi uma correria, eu precisei ser transferido para outro hospital, precisava de um avião UTI, já estava inconsciente, todo o rolo para pagar o preço caríssimo do avião, a saúde foi caindo por causa da demora, mas consegui chegar a São Paulo e me curei. Mas as chances de eu ter sobrevivido eram mínimas e eu deveria ter muitas sequelas, e não tive nada, foi um milagre. Tudo isso que passei foi muito ruim, mas poderia ter sido bem pior se eu estivesse em um local mais remoto. J&Cia/PJ – Qual foi o trabalho mais difícil que você já fez? Lalo – Trabalhos difíceis acho que foram muitas pautas na Amazônia, muitas histórias angustiantes de fazer, tanto pela dificuldade em contar a história, os riscos que essa história envolvia, o quanto nós nos expusemos. Mas do ponto de vista pessoal, uma das histórias que mais me tocou como ser humano, como pessoa, que me deixou muito aflito e arrasado mesmo, foi a história do estreito de Darién, que fiz com a Mayara Paixão, no ano passado. A selva de Darién, entre a Colômbia e o Panamá, é uma rota extremamente perigosa, pela qual passam milhares de pessoas diariamente, consumidas pelo sonho de chegar aos Estados Unidos. É um drama humano terrível, que envolve muitas crianças, passando por essa experiência horrorosa que é fazer essa travessia. Eu saí arrasado dessa cobertura. As crianças sofriam muito, e as famílias faziam a travessia sem recurso nenhum, na cara e na coragem, por esperança, por desespero, um pouco de tudo. E zero recursos. E eles ainda precisavam chegar Foto da série Darién, a Selva da Morte, publicada em 2024. A imagem mostra a situação de milhares de famílias que fazem esta perigosa travessia diariamente
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