11 comunicar muito eficiente. Acho que as fotografias têm essa capacidade de atrair as pessoas para que se interessem pelas histórias. Não adianta só ficar falando que o Pantanal está queimando, queimou 30% do pantanal − tudo bem, é importante, mas acho que as pessoas conseguem se conectar mais com essa notícia quando veem por exemplo a foto do bugio queimado. Eu acho que a fotografia, nesse sentido, tem uma eficiência enorme. J&Cia/PJ – Investigações jornalísticas têm seus riscos, e com a cobertura da Amazônia e de questões socioambientais não é diferente. O que você tem a dizer sobre a questão da segurança dos jornalistas durante essas coberturas mais arriscadas? Lalo – No caso da cobertura da Amazônia, especificamente, acredito que precisamos falar sobre alguns pontos que tornam o trabalho mais desafiador e mais perigoso. Grande parte das atividades que acontecem na Amazônia de alguma forma estão ligadas a atividades ilícitas, garimpo, extração de madeira, grilagem de terra, assuntos recorrentes nas coberturas. Então, o tempo inteiro estamos em contato com esses grupos que praticam atos ilícitos, e às vezes até estão ligados a políticos, que estão cometendo crimes e obviamente não querem se expor. E cada vez mais temos grandes facções criminosas que estão por trás dessas atividades ilícitas, a situação vem se tornando complexa. Para nós, que cobrimos pautas ligadas à Amazônia, a sensação que eu tenho é que, atrás daquela determinada curva ou árvore, pode ter alguém te esperando, sabe? E nós andamos muito nessas coberturas, não ficamos parados, vamos atrás da notícia, e então ficamos expostos a todo o momento, e com pouquíssimos recursos de como pedir socorro. Estamos muito por conta própria. Outro ponto a se pensar é o seguinte: são regiões tão tensas que qualquer mal-entendido pode gerar uma tragédia. Uma vez, durante uma cobertura, novamente com Fabiano Maisonnave, estávamos num ramal da Transamazônica e paramos para fotografar um jerico, um caminhãozinho muito utilizado por lá, que tinha um adesivo do Bolsonaro. Descemos para tirar uma foto desse jerico, o Fabiano fez uma foto com o celular mesmo, e aí um cara saiu correndo com uma peixeira atrás da gente. Em outra ocasião, eu estava em Altamira, tomando um guaraná num boteco. E o som estava bem alto, tocando músicas de sofrência, que falavam sobre traição, e tinha um casal já bêbado tomando cerveja do meu lado. Aí falei para o meu amigo e colega Marcelo Leite que estava na cobertura comigo: “Marcelão, você já reparou que aqui só toca música de corno?” E isso eu estava falando para ele, fiz uma piada. Aí o homem do lado ouviu, e Lalo fotografando uma área invadida por grileiros dentro da Terra Indígena Trincheira/Bacajá (PA)
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