11 sobre a região para posteriormente criar um mapa completo com informações variadas da Amazônia. Meirelles e Trigo levantaram informações sobre estradas, bacias hidrográficas, riquezas naturais, número de habitantes, fontes de renda das populações que viviam na floresta, taxa anual de crescimento, principais produtos de exportação, entre outros tópicos relevantes. “A Amazônia começava a ser descoberta quase ao mesmo tempo da conquista da lua”, relembra Meirelles. “Era um pedaço do nosso planeta até então quase totalmente inativo, silencioso e desabitado. À época, a floresta ocupava cerca de 60% do território brasileiro, uma área quase 20 vezes o tamanho da Alemanha Ocidental. Fazia parte do governo brasileiro criar uma malha de 14 mil quilômetros de estradas em toda a região”. Ele destacou a importância de ter Trigo ao seu lado durante a cobertura por causa de seu conhecimento da região: “Profissional experiente, que trabalhara em O Cruzeiro Internacional, projeto audacioso de Assis Chateaubriand, cuja redação ficava em Buenos Aires, Trigo era fluente em espanhol, conhecia os países da América Latina, além de dominar todos os truques necessários para se obter determinadas autorizações especiais. Ele foi fundamental ao longo dessa viagem fascinante”. A primeira “parada” da viagem foi na Guiana Francesa, onde os dois profissionais produziram uma reportagem sobre a Base Aeroespacial em Kourou, projeto da época do governo do General Charles de Gaulle, que sonhava em transformar o país em uma potência espacial. “Tivemos acesso apenas a alguns trechos da base, considerada área de segurança pelas autoridades francesas. A Guiana possuía densa floresta, servida por uma rede de estradas padrão europeu”, conta Meirelles. “A Base de Kourou foi construída com grande parte de mão de obra brasileira, em sua maioria nordestinos. O local foi escolhido por sua localização privilegiada. As obras começaram por volta de 1964, mas o projeto só foi finalizado em 1975. Em determinado momento, os trabalhos foram interrompidos, e os nordestinos que trabalhavam na construção se espalharam por várias cidades da Guiana Francesa, inclusive a capital Caiena, onde eram balconistas, motoristas e garçons”. Além de informações gerais sobre os países da Amazônia Legal, Meirelles e Trigo tinham como objetivo levantar pautas para outras edições da Realidade. Os dois produziram mais três reportagens que foram publicadas em diferentes números da revista. Em uma delas, Meirelles e Trigo foram até a Guiana. “A então República Cooperativista da Guiana tinha um lema que era ‘Um povo, uma nação, um destino’”, lembra Meirelles. “Era a única nação do mundo que adotara o cooperativismo como forma de governo. A capital, Georgetown, com seus telhados enferrujados, mais parecia uma decadente aldeia africana. A Guiana era governada por uma espécie de Papa Doc, o primeiro-ministro Forbes Burnham, um metodista populista de quinta categoria. A maioria da população era formada por negros, chineses e indianos que viviam em permanente conflito. Ninguém saía de casa à noite, depois do jantar, por causa da violência. Os hotéis forneciam aos raros hóspedes estrangeiros um mapa indicando as áreas mais perigosas da capital. Ficamos cinco dias na Guiana”. Posteriormente, os jornalistas fizeram escala em Trinidad e Tobago e chegaram à Venezuela. Depois de levantarem dados oficiais dos mais diversos tipos sobre Caracas, foram conhecer o interior e sobrevoar a região amazônica venezuelana. Nessa viagem, Meirelles conta que viveu um dos momentos mais mágicos da expedição: Ver Salto Angel, uma cachoeira em plena selva, no meio da floresta, em Ciudad Bolívar: “Era uma imensa Domingos Meirelles Acervo pessoal
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