10 enxergar cinco ou seis metros à frente. Com isso, o peso dos equipamentos também acabou se tornando um obstáculo. “Carregava quase 40 quilos nas costas durante a caminhada. A floresta era muito fechada e muito escura, então eu tive que trabalhar com esse contexto para conseguir fotografar algo”, explica. Durante a expedição, os jornalistas não enfrentaram nenhum tipo de perigo em relação aos animais da floresta. À noite, porém, Solari contou que ouvia o barulho de macacos, e ele e Ribeiro ficavam às vezes apreensivos, mas os caçadores diziam que a espécie que cantava especificamente não atacava, não representava perigo. Em um dos dias da caminhada, um caçador deu um tiro para o alto e matou uma cobra venenosa. Outro detalhe interessante: um dos caçadores cortou a cabeça de um macaco, pendurou no cinto e passou a caminhar com aquilo. Além disso, Solari e Ribeiro seguiam certos protocolos de segurança para evitar acidentes. À noite, por exemplo, dormiam em barracas e redes de náilon: “Tínhamos um lugar específico para botar os sapatos, porque havia sempre o risco de, ao levantar de manhã, ter algum animal não desejado dentro deles, podíamos levar uma picada de algo venenoso. Então, os sapatos ficavam sempre na rede com a gente”. Durante a noite, para passar o tempo, jogavam dominó. “Aprendemos com os caçadores, e sempre tínhamos dificuldade de múltiplos de cinco nas pontas (risos). Jogávamos sempre à noite, no pé da fogueira. Os caçadores eram muito bons, quase sempre ganhavam”. E então, finalmente, depois de dias de caminhada, fome, dor nas costas e encharcados, o caçador tocou a cuíca que imitava o som de uma onça, e o animal que estavam caçando respondeu. O caçador continuou a tocar a cuíca até ela se aproximar. E então, ele disparou contra o animal, que caiu morto. O problema é que o tiro não saiu em cheio, não foi na cabeça da onça, e sim no meio das costas. E isso interferiu no valor final da pele, que acabou sendo vendida por um preço menor. O caçador reclamou muito de ter perdido dinheiro. Mas, finalmente, a jornada no meio da selva havia acabado. Atualmente, Solari, que completou 90 anos em 2023, está aposentado e morando em Saquarema, no Rio de Janeiro. Mas, ao relembrar sua carreira, diz que sem dúvida a jornada na selva foi um dos momentos mais marcantes da expedição à “ainda desconhecida Amazônia”. Um mês e meio pelos países da Amazônia Legal Domingos Meirelles é outro premiado jornalista que fez parte do time que foi a campo para a Realidade-Amazônia. Então recémintegrado à equipe da publicação, ele havia se destacado três anos antes por uma reportagem para a Quatro Rodas que desvendou uma série de irregularidades cometidas no Detran do Rio de Janeiro, e que lhe rendeu um Prêmio Esso. “Era muito jovem no ofício, tinha apenas cinco anos de profissão. Credito o convite às matérias que produzi para a revista Quatro Rodas, também editada pela Abril”, conta. “Além da reportagem com a qual conquistei o Esso em 1968, fiz uma boa reportagem para a própria Realidade, na Bolívia, sobre o primeiro aniversário da morte de Che Guevara. O convite para a Realidade foi de Milton Coelho da Graça, que na época dirigia a revista e tinha sido meu chefe de redação na Quatro Rodas”. Para a Realidade-Amazônia, em 1971, Meirelles, ao lado do fotógrafo Darcy Trigo, percorreu ao longo de 47 dias todos os países que compõem a Amazônia Legal: Guiana Francesa, Guiana, Colômbia, Venezuela e Peru. O objetivo era coletar dados oficiais Jean Solari Acervo pessoal
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