#diversifica

No 2 – Pág. 9 criar vaga pra negro ou indígena, a gente tem que romper com conceitos eurocêntricos e até mesmo do jornalismo norteamericano, porque a diversidade não está presente apenas nos jornalistas que atuam em uma redação. No caso da Amazônia Real, por exemplo, ela também é vista na forma como a gente trabalha, as pessoas que a gente ouve. Se vamos a uma comunidade quilombola ou indígena, vamos ouvir homens e mulheres. Nossos personagens são diversos, por isso é tão óbvio pra gente. Tem que haver espaço para os mais variados perfis. No caso da Amazônia Real não tinha nem como a gente não ter a diversidade no DNA, apesar de que é um termo que eu espero que um dia acabe. Que seja tão comum que deixe de ser uma questão”. O caso da Amazônia Real é um exemplo claro de como a diversidade aplicada de maneira responsável e plena traz resultados muito positivos para uma publicação. Com uma equipe bastante diversa e com autonomia para sugerir novos olhares sobre o que é notícia e quem é notícia, a agência, dentro do seu foco de atuação, tornou-se um case no jornalismo nacional. “Quando você se propõe a criar uma vaga de trabalho e dar espaço para uma pessoa que num passado recente raramente tinha condições, você tem que entender que essas pessoas também trazem outras visões de mundo, uma outra forma de olhar, então é preciso primeiro mudar a cabeça”, acrescenta Elaíze. “Não dá pra impor a sua forma de observar e de transmitir conhecimento e informação a partir da sua lógica. Se você está se propondo, precisa primeiro ter consciência de que é preciso mudar mesmo, e romper commuitas lógicas que durante décadas, séculos, foram predominantes, seja no processo de sua própria formação e sobretudo pelo processo de colonização pelo qual o Brasil passou e passa até hoje. Então, quando você está construindo um jornalismo mais diverso, precisa mudar a cabeça do patrão. Aí sim, quando tem essa noção, você começa a refletir a realidade que está somando com aquelas pessoas”. Casos como da Énois, da Amazônia Real e até mesmo de agências como a Ecomunica mostram que implantar diversidade no jornalismo vai muito além de contratar pessoas com perfis e histórias de vidas diversas. É ummovimento que impõe algumas quebras de paradigmas de como fazer jornalismo, além de como gerir equipes e ambientes de trabalho. “É importante, por exemplo, também repensar aquela fonte que você sempre consulta e não chamar apenas seu amigo branco pra ser editor do seu jornal”, complementa Sanara Santos, da Énois. “Organizar demandas que farão repensar seu lugar e prática de liderança, e sair da zona de conforto para procurar pessoas diversas exige tempo e protocolos, mas a Énois trabalha justamente para facilitar isso, e de graça. A gente já teve resultados maravilhosos, commulheres passando a ocupar espaço de liderança no meio do curso formativo. Vimos publicações que produziam dois conteúdos por mês com o recorte de diversidade passarem a produzir mais de 20, mudando inclusive seu olhar para a periferia. Além disso, políticas foram geradas, com redações adotando práticas de como checar a saúde mental dos jornalistas. Nada disso acontecerá de um dia pro outro, mas é importante que o caminho seja sempre pra frente”. E é justamente essa combinação de profissionais, Sanara Santos

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