#diversifica

No 1 – Pág. 36 “Por que não trazer um pouco da nossa cultura e dos nossos saberes para dentro das redações também?”, questiona Luciene. “Esse espaço precisa ser ocupado. Tantas outras questões de inclusão estão sendo discutidas, mas e os povos indígenas? Por que ainda é tão estranho ter um indígena dentro de uma redação?”. (Convidada deste especial para discutir a questão da Negritude nas redações, Luciana Barreto também alertou para essa falta de representatividade: “Hoje já há um constrangimento no jornalismo quando as pessoas discutem assuntos relacionados a racismo sem a presença de pessoas negras no debate, mas por que isso não acontece quando o assunto diz respeito aos indígenas?”, questionou ela.) Apesar do pouco espaço nas redações tradicionais, Luciene acredita que o aumento da visibilidade de comunicadores indígenas nas redes sociais poderá ser um caminho para esses profissionais chegarem às redações. “Nós ocupamos faculdades e espaços urbanos, trabalhamos na cidade, por que então não termos espaço também nas redações? Essa não é uma necessidade só nossa, é do próprio jornalismo, porque como jornalista, amazônida e indígena, percebo que há uma dificuldade grande de elas se comunicarem com as comunidades tradicionais e com a população da Amazônia. É preciso aproximar a linguagem e o conteúdo que é entregue para que nós possamos receber esse material e tornar isso parte do nosso cotidiano”. Luciene acredita ainda que com um possível aumento da presença de jovens comunicadores como ela nas redações, não apenas a questão indígena, mas também as narrativas Povo Paiter Suruí: Café de Rondônia para o mundo Confira a íntegra da entrevista com Luciene Kaxinawá, no YouTube e nos principais tocadores de podcast: Spotify, Orelo, Google Podcasts e Amazon Music. sobre a própria Amazônia serão beneficiadas. “O que se ouve muito hoje é a questão do desmatamento ou quando tem algum grande crime, como aconteceu recentemente com o Dom Phillips e o Bruno Pereira, que foi noticiado mundialmente. É importante, sim, estar em cima e cobrar as autoridades em relação a esses problemas, mas a Amazônia é muito mais do que isso. A região também tem histórias muito interessantes e que estão invisibilizadas”. Ela usa como exemplo o caso do povo Paiter Suruí, do interior de Rondônia, que produz café orgânico em uma área totalmente reflorestada e hoje exporta parte da produção para a Suíça. “É uma história interessante, que poderia estar sendo contada, assim também como a questão do etnoturismo, que está crescendo muito na região Amazônica”. Em que pese a defesa que faz de uma cobertura mais ampla, capaz de mostrar o que há de positivo na Amazônia, em especial temas relacionados às etnias indígenas, Luciene sabe que a realidade de atuar na região é cheia de riscos. Ela mesma já recebeu ameaças em seu ambiente de trabalho. Nesse sentido, ser uma profissional independente, sem o apoio de uma grande mídia por trás, dificulta ainda mais o trabalho. “A Amazônia não é para aventureiros”, alerta. “Cobrir a região é um trabalho muito arriscado, principalmente para os jornalistas que precisam entrar nas reservas e nas comunidades para conversar com indígenas que estão ameaçados de morte. Até mesmo dentro da reserva já fui ameaçada várias vezes, inclusive por um político”. E conclui: “Viver e trabalhar na Amazônia é pra quem tem coragem”.

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