#diversifica

No 1 – Pág. 29 em um tal ‘sotaque neutro’. Gente, assim como não existe jornalista neutro, não existe sotaque neutro! Paulista tem sotaque, carioca tem sotaque. O que muita gente ainda quer é que a gente se ajuste a um sotaque local para poder atender a um público nacional”. “Se um jornalista da Paraíba entra ao vivo do Jornal Nacional para cobrir um fato em Campina Grande, por exemplo, e ele não fala como as pessoas da Paraíba, como elas vão se identificar com aquela realidade, se enxergar naquela pauta? O Brasil é enorme, tão diverso... Por que não valorizar isso? Por que acha feio? Não faz o menor sentido. Não é à toa que as crianças hoje estão todas falando igual ao Felipe Neto. Não que seja feio o jeito dele falar, mas é triste ver uma criança lá de Cajazeiras falando igual a ele”, complementa Nayara. Jornalismo local também é jornalismo Para ter acesso a melhores oportunidades de trabalho e reconhecimento, jornalistas com história de vida similares à de Nayara Felizardo acabam optando por buscar oportunidades em grandes veículos de cobertura nacional. Além de crescimento profissional, movimentos como esse permitem que também tenhammais oportunidade de levar para um público maior e diverso conteúdos relacionados às suas regiões de origem. Mas aí surgem novos problemas: “Muitas vezes não importa se você tem dez anos de carreira, acumulou promoções e prêmios. Quando aparece uma oportunidade em um veículo nacional, o que já não é muito comum, somos tratados como se estivéssemos começando. É como se o jornalismo local que fazíamos até então não fosse jornalismo”, explica Nayara. “Isso quando não exigem que a pessoa more em São Paulo, por exemplo, mesmo quando se pode desenvolver aquele trabalho remoto. Aí te oferecem um salário de quatro, cinco mil reais, como PJ. Como é que você vai sair de onde está, de perto da sua família, onde já tem uma estrutura, para vir morar em São Paulo, por esse valor? Não vem, e perde uma oportunidade de fazer carreira nacional”. Ainda assim, muitos profissionais acabam aceitando o desafio, e se deparam com outra barreira, que os leva de volta ao início de suas carreiras. “Mesmo que as pessoas não te façam se sentir assim, e na maioria das vezes fazem, te colocam numa posição de aprendiz, para começar sua carreira. É como se você não tivesse nada para ensinar. Só te resta aprender com os ‘mestres do jornalismo’, cuja única diferença em relação a você é o fato de terem nascido em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Isso afeta a autoestima. Faz com que nos questionamos se de fato temos capacidade, mesmo com anos de experiência e bastante bagagem. Isso não é inclusão”. Ela acredita que a pandemia, por outro lado, tenha ajudado a diminuir as barreiras, principalmente na flexibilização das redações em relação ao local de trabalho: “Aos poucos, os gestores estão percebendo que é possível fazer jornalismo de qualquer lugar. Não precisa estar em São Paulo para fazer jornalismo, a não ser que esse seja o foco da cobertura”. O poder dos veículos independentes Um novo movimento que vem ganhando força no jornalismo brasileiro, e abrindo espaço para quem não encontra oportunidade nas redações tradicionais, é o surgimento em grande número de veículos nativos digitais independentes. Além de incentivarem redações plurais e diversas, esses veículos também são mais propensos a abordar assuntos que nem sempre recebem a devida atenção na grande imprensa. Dentre os novos modelos, Nayara destaca as produções em podcast e como elas democratizaram o acesso a conteúdos diversos: “Eu adoro podcast porque é uma plataforma que ajuda muito a garantir a diversidade e entender diferentes contextos, de maneira

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