No 1 – Pág. 12 para respeitar as diferenças de cada indivíduo. “Eu sou um jornalista apaixonado por pessoas, por gente”, destaca. “Sempre foi o meu grande material, a minha grande bagagem, gostar de pessoas, gostar de ouvir as pessoas. Desde criança. E é o que faço até hoje. Busco pessoas que não são normalmente vistas ou representadas em grandes veículos. E tenho, felizmente, uma porta em uma grande publicação para isso. Confesso ter uma certa obsessão por trazer histórias que não são contadas normalmente. Fico muito feliz quando as pessoas abrem as portas, o coração, suas mentes, e suas dores”. Em 2016, lançou Malacabado: a História de um Jornalista Sobre Rodas (Três Estrelas). A partir de sua própria experiência, ele traz no livro um relato franco e irreverente sobre a condição das pessoas com deficiência. “Ao nos levar pelos caminhos que literalmente rodou, como jornalista, pelo mundo afora, Jairo Marques nos interroga sobre o que é uma vida humana”, assinou Eliane Brum na orelha do livro, onde ainda definiu Malacabado como um “livro para todos”. Parte, e não apêndice A inclusão de pessoas com deficiência na sociedade e no ambiente de trabalho tem algumas particularidades e desafios que perpassam principalmente a visão deturpada de incapacidade que outras pessoas, consideradas “normais”, muitas vezes tem sobre elas. “É claro que não dá para contratar um profissional cadeirante e mandar ele subir o Himalaia”, brinca Jairo, mas muitas vagas para os quais pessoas com deficiência sequer são consideradas poderiam tranquilamente ser preenchidas por elas. “O principal erro que persiste é o de achar que as pessoas com deficiência fazem parte de outro universo”, explica Jairo. “Elas são vistas como alheias à realidade em que vivemos. Seja na redação de um jornal, no mundo da moda, no esporte. Ainda hoje persiste um trato da pessoa com deficiência como um apêndice de sociedade, de cidadania, e não como parte”. Segundo ele, apesar de já ser possível notar alguma evolução nas discussões sobre acessibilidade e inclusão, as portas não estão exatamente abertas para esse público. “É um processo lento, porque estamos falando ainda de coisas básicas, como acesso à educação. Se as pessoas podem ou não estudar na escola junto com as crianças ‘convencionais’, o que é uma aberração! Me desculpa, mas é absurdo você discutir em 2022 se as crianças com deficiência vão estudar à parte. Meu Deus do céu! Apartar ser humano é uma coisa bem antiga e que não deu muito certo”. Para Jairo, o jornalismo tem um papel fundamental de conscientização para mudar essa forma da sociedade enxergar e tratar as pessoas com deficiência. Naturalizar a presença e respeitar as diferenças são questões que podem ser captadas de maneira mais eficiente pelo público, quando são retratadas com naturalidade também pela mídia. Reportagem de Jairo Marques publicada na capa da Folha de S.Paulo
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