Jornalistas&Cia 1494

Edição 1.494 - pág. 6 O jornalismo, à procura de novos caminhos Os 150 anos dos Estadão merecem ser muito comemorados. Jornal de muita tradição, dirigido por quase todo o tempo pela família Mesquita, foi um símbolo da luta contra a censura nos anos de chumbo da ditadura. Suas reportagens proibidas pelos censores saíram, durante anos, com versos dos Lusíadas, de Luis de Camões, e todos os leitores sabiam que estavam proibidos de ler certas notícias. Durante muitos e muitos anos, foi um dos mais importantes do Brasil e com uma excelente venda em bancas e um impressionante número de fiéis assinantes, alguns com mais de 50 anos de relação diária com o jornal. Tive o prazer e a honra de ter trabalhado durante 21 anos, primeiro desde a fundação do Jornal da Tarde, em 4 de janeiro de 1965, e depois como Diretor do de Redação do Estadão, de 1977 até o início dos anos 90, em anos de muita turbulência e de muitas mudanças políticas, com o fim da ditadura, a morte do presidente um dia antes de tomar posse. Depois, vieram a posse de José Sarney, o movimento da Diretas Já, os primeiros falidos planos econômicos até a posse do professor Fernando Henrique Cardoso e o Plano Real que, praticamente, acabou com nossa endêmica inflação e nos colocou em um caminho melhor. Os tempos mudaram, o Brasil mudou, leem-se muito menos jornais, praticamente substituídos pelas mídias digitais. O jornalismo ainda tenta se reinventar, procurando novos e difíceis caminhos. Todos os profissionais de imprensa esperam que os jornais se reinventem e sigam em frente, como sempre fizeram. (Miguel Jorge) Tudo que fosse bem apurado era publicado Em minha carreira, que já vai para 58 anos, tive duas passagens pelo Estadão, somando 14 anos. A primeira, entre 1988 e 1991, como editor executivo, no olho do furacão das muitas mudanças por que passou o jornal no período. A outra, entre 2009 e 2019, como colunista de economia, no impresso e no online. Nesse primeiro período foram introduzidas algumas das maiores transformações pelas quais o Estadão passou nos últimos 40 anos, ajudando a fazê-lo chegar até os seus 150 anos. Foi uma época de grande efervescência, com investimentos em todas as áreas da empresa, inclusive na redação, e de novos projetos, que modernizaram o jornal. A redação chegou a contar com 400 profissionais. Num intervalo de quatro anos, o Estadão introduziu cores (incluindo o famoso logotipo em azul) em suas páginas, passou a circular também às segundas-feiras, deu início à informatização da redação e foi redesenhado, com a edição em cadernos temáticos. Um dos maiores orgulhos profissionais que carrego foi ter sido o gerente-geral do “Projeto Lunes”, que, em 1990, resultou na publicação do Estadão também às segundasfeiras. Outro é o caderno de Economia e Negócios, que me coube projetar e implantar, em 1989. A efervescência daquele tempo era acompanhada por tensões entre as diversas áreas da empresa e, especificamente, nas relações da redação com as demais áreas. Essas tensões, no meu modo de ver, foram os vetores da produção grandes coberturas, furos de reportagem e material jornalístico de reconhecida qualidade. Confirmei, no Estadão, a convicção de que a tensão provocada por redações inquietas, mas que encontram respaldo em direções com espírito público e entendimento do fazer da profissão, é o que permite produzir o melhor jornalismo. No “conservador” Estadão, quando estive por lá, a fórmula funcionou. Por isso, gostaria de aproveitar para comemorar os 150 anos do “vetusto matutino” homenageando a figura elegante e austera − minimalista mesmo − do Dr. Júlio de Mesquita Neto, o comandante daquela empreitada. Dr. Júlio nunca deixou a menor dúvida de que, se os fatos estavam bem apurados, nada, nem mesmo os “interesses da casa”, deveriam impedir sua publicação. (José Paulo Kupfer) José Paulo Kupfer Miguel Jorge Últimas Os 150 anos do Estadão

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