Jornalistas&Cia 1482

Edição 1.482 - pág. 15 Pouca gente sabe. Há 120 anos, em 11 de outubro de 1904, foi cravado um marco na história mundial do rádio. Naquele dia, Roberto Landell de Moura obteve, nos Estados Unidos, a carta patente nº 771.917 do Wave Transmitter (Transmissor de Ondas), o artefato precursor do rádio. O memorial descritivo ressalta: “Saibam que eu, Roberto Landell de Moura, cidadão da República do Brasil, residente no distrito de Manhattan da cidade de Nova York, Estado de Nova York, inventei um novo transmissor de ondas, de que faço as seguintes especificações. Minha invenção relaciona-se à transmissão de mensagens, de um ponto a outro, sem auxílio de fios, ou, resumidamente, à sinalização através do espaço.” (...) O rádio é hoje a mídia de maior penetração no planeta e tem uma trajetória construída por vários marcos. O centenário da radiodifusão no Brasil, celebrado no ano passado, é um deles. A lembrança foi em homenagem à iniciativa pioneira de Edgard RoquettePinto e outros, pela inauguração da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923. Recentemente, edição especial deste J&Cia resgatou do esquecimento outro marco dos mais significativos, o 125º aniversário da mais antiga experiência pública de transmissão de voz e música da história da humanidade: em 16 de julho de 1899, Padre Landell exibiu, na capital paulista, o primeiro equipamento de rádio. Há 120 anos, a revista especializada norte-americana Western Electrician, de Chicago, classificou a invenção do brasileiro de “um engenhoso aparelho” para a transmissão de vibrações sonoras (voz ou outros sons, como música). Uma imagem do interruptor fonético, peça fundamental do aparato e testemunha material da genialidade do padre gaúcho, de Porto Alegre, ilustraram a reportagem de quase uma página. A façanha foi notícia em vários jornais nacionais, como o Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, O Commercio de São Paulo, a Gazeta de Petrópolis, A Federação, de Porto Alegre, A Cidade, de Sobral, e o Jornal do Ceará, de Fortaleza: “O Governo dos Movimento Landell de Moura Por Hamilton Almeida (*) Landell: os 120 anos da patente do Transmissor de Ondas Estados Unidos da América concedeu ao nosso compatriota padre Roberto Landell, atualmente em Nova York, uma patente de invenção que tem por fim a transmissão da nota musical e de canto a grande distância sem a menor cooperação, nem de fios condutores, nem de eixo luminoso”. O Transmissor de Ondas derrubou uma fronteira da ciência, que era colocar a voz em ondas de rádio. O que havia, na prática, era só a transmissão sem fio de sinais telegráficos do código Morse, a radiotelegrafia, criada por Marconi. O físico Reginald A. Fessenden também é figura proeminente nesse contexto. Em março de 1904, há também 120 anos, ele registrou nos EUA a patente 753.863 do Wireless Signaling (Sinalização sem fio), um “aperfeiçoamento nos aparelhos de transmissão sem fio de ondas eletromagnéticas, ditos aperfeiçoamentos especialmente a transmissões e reproduções de palavras e sons audíveis”. No Canadá, ele é considerado o Pai do Rádio. No entanto, a patente brasileira nº 3.279, obtida pelo Padre Landell em 9 de março de 1901, para “aparelho destinado à transmissão fonética a distância, com fio e sem fio, através do espaço, da terra e do elemento aquoso”, é o mais antigo documento do gênero. E ele foi além ao conseguir outras duas patentes nos EUA, ainda em 1904 – Wireless Telephone e Wireless Telegraph, em 22 de novembro − e projetar a televisão antes dos outros cientistas. 120 anos depois, Padre Landell não é devidamente reconhecido por tudo o que fez pela ciência das telecomunicações. (*) Hamilton Almeida, jornalista, é biógrafo do Padre Landell

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