Edição 1.480 - pág. 6 Por Luciana Gurgel, especial para o J&Cia Parceiro de conteúdo Esta semana em MediaTalks Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. A nova edição do relatório anual Journalists At Work do National Council for the Training of Journalists (NCTJ) do Reino Unido, divulgada na semana passada, traduz em números realidades da prática jornalística que em muitos aspectos são parecidas com as do Brasil e de vários outros países. Um deles é o assédio enfrentado pelos profissionais de imprensa. Mais da metade dos entrevistados afirmou ter sido vítima de abuso ou violência − e isso em um país que ocupa o 23º lugar no Global Press Freedom Index da Repórteres Sem Fronteiras. A análise foi realizada por Mark Spilsbury, economista e pesquisador da indústria criativa, com base em questionários respondidos por 1.025 jornalistas atuantes no Reino Unido. Spilsbury comparou os resultados com a situação geral dos trabalhadores britânicos e destacou problemas que afetam não apenas quem atua no jornalismo, mas também podem comprometer a sustentabilidade e a qualidade da produção jornalística no longo prazo. O assédio é um exemplo. Na edição especial sobre Saúde Mental que publicamos em setembro abordamos como as ameaças online, que muitas vezes se transformam em riscos reais, levaram jornalistas a repensarem a carreira ou a desistirem dela. Falta de diversidade Outro problema crítico apontado no relatório é a persistente falta de diversidade nas redações locais. Quase 70% dos jornalistas britânicos vêm de classes socioeconômicas mais elevadas, e 91% são brancos − índices significativamente superiores à média da força de trabalho geral no Reino Unido, que são de 45% e 86%, respectivamente. Essa realidade se parece com a brasileira: o mais recente levantamento do Instituto Reuters sobre inclusão racial nas chefias das principais redações do Brasil não encontrou nenhum negro no comando geral. Embora a origem social ou racial de um profissional não determine automaticamente sua capacidade de produzir jornalismo de qualidade, há um consenso entre especialistas sobre a importância da diversidade. Uma redação mais diversa tende a ser mais inclusiva e a envolver uma parcela maior da população, algo que é essencial tanto do ponto de vista ético quanto comercial. Pesquisas indicam que a audiência se afasta quando não se sente representada. Além da questão da diversidade, o relatório destaca a concentração de jornalistas em Londres, o que resulta em um distanciamento entre o conteúdo produzido e as realidades fora da capital, tema que virou até bandeira política envolvendo a BBC. Por outro lado, diferentemente de muitos países, a maioria dos jornalistas britânicos relataram estar satisfeitos com as condições de trabalho, com a jornada e com a remuneração, que aumentou em comparação com os anos anteriores. Os salários são maiores entre profissionais brancos e entre os que declararam usar ferramentas de inteligência artificial em seu trabalho, em geral aqueles que ocupam cargos mais altos. A presidente do NCTJ, Joanne Forbes, recomendou no lançamento do relatório que os novatos na profissão adquiram habilidades de usar a IA, pois isso pode inflar seus salários − um conselho que vale para gente de qualquer idade. O relatório completo pode ser visto aqui. Pesquisa sobre trabalho em jornalismo no Reino Unido revela falta de diversidade, extensão do assédio e valor da IA Julian Assange falou nessa terça-feira (1/10) em Estrasburgo pela primeira vez desde a saída da cadeia e afirmou que só conseguiu a liberdade por ter aceitado se declarar culpado por seu jornalismo | Veja um resumo do depoimento e assista ao vídeo Kamala Harris dispara em investimentos em propaganda eleitoral e deixa Trump para trás na TV e no digital | Leia mais Repórteres Sem Fronteiras apresenta quarta queixa ao Tribunal de Haia por crimes de guerra contra jornalistas em Gaza | Leia mais Bird Photographer of The Year − Belezas, ameaças e momentos hilários: conheça os vencedores do prêmio internacional de fotos de pássaros
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