Jornalistas&Cia 1480

Edição 1.480 - pág. 48 Por Luciana Gurgel, especial para o J&Cia Um relatório publicado na semana passada pela Unesco, como parte de uma série sobre tendências globais em liberdade de expressão, traça um panorama abrangente dos impactos da inteligência artificial no jornalismo. O documento, que apresenta recomendações para os diversos atores envolvidos, reforça a necessidade urgente de regulamentação. Assinado por Anya Schiffrin, diretora da Escola de Public Affairs da Universidade Columbia, o relatório de 18 páginas aborda temas recorrentes nos debates sobre IA e jornalismo. Entre eles estão a governança baseada em direitos humanos, concentração de mercado, diversidade da mídia, direitos autorais e compensação financeira, além de padrões éticos e de transparência, desinformação e as mudanças no processo de produção que afetam o mercado de trabalho. Schiffrin adverte que o futuro do jornalismo — e de outras áreas como cultura e educação — será “virado de cabeça para baixo” pela IA. Ela defende que a melhor forma de evitar monopólios é prevenilos antes que se formem, em vez de tentar desfazê-los depois. A especialista discorda da ideia de que a regulamentação sufocaria a inovação, como argumentam as empresas de IA generativa, classificando essa visão como uma “armadilha”. O relatório afirma que a estratégia de “não amarrar as mãos” de uma indústria emergente e agir apenas quando surgirem problemas é “errada e perigosa” para o jornalismo e para o próprio desenvolvimento da IA. Sem uma regulamentação adequada para disciplinar direitos autorais e compensação por uso do conteúdo, o modelo atual de negócios do jornalismo e da criação de conteúdo pode ser comprometido, o que representaria uma “grave ameaça à diversidade cultural”. Além disso, o relatório ressalta que os próprios LLMs (Large Language Models) não serão confiáveis se não forem treinados com informações de qualidade, que poderão se tornar escassas sem salvaguardas apropriadas. Parceiro de conteúdo Unesco aponta urgência em regulamentar IA para salvaguardar o futuro do jornalismo − e da própria IA Apesar dessas preocupações, o argumento não tem sido suficiente para convencer todas as partes interessadas sobre a necessidade de uma regulamentação mais rápida e abrangente da IA. Schiffrin aponta que, nos EUA, onde se encontram as maiores empresas do setor, ainda não houve regulamentação específica. Ela também observa que projetos de lei em tramitação em várias regiões, incluindo o Brasil, não abordam diretamente os pontos que mais preocupam a comunidade jornalística. A doutrina do “uso justo”, desenvolvida nos EUA, desempenha um papel central nesse debate. Empresas de IA a invocam para justificar a captura e o uso de conteúdo jornalístico. No entanto, Schiffrin ressalta que a doutrina foi criada muito antes da IA generativa e não foi concebida para lidar com LLMs que “engolem” grandes volumes de dados, como todo o conteúdo de um jornal, e “regurgitam” informações de maneira opaca, sem atribuição ou compensação financeira. Em relação à alegação de que a regulamentação inibiria a evolução da IA generativa, Schiffrin argumenta que a inovação não deve ser um fim em si mesma. «Algumas inovações aumentaram a concentração de mercado e a exploração», observa. Para ela, a inovação deve ser direcionada ao bem-estar social, e as regulamentações podem mitigar as ameaças que a IA representa para o jornalismo, um dos pilares de sociedades democráticas e justas. Leia mais sobre o relatório da Unesco e veja o documento completo em MediaTalks. Projetos de lei não abordam pontos que mais preocupam a comunidade jornalística Esta semana em MediaTalks Repórter de Washington é afastada da New York Magazine ao admitir relacionamento com político que seria Robert F. Kennedy Jr. Regulador de comércio dos EUA denuncia “vigilância maciça” de usuários por plataformas digitais e destaca riscos para crianças e jovens Rede Al Jazeera tem redação da Cisjordânia fechada por soldados de Israel e transmite operação policial ao vivo Ecocídio: 8 em cada 10 brasileiros apoiam criminalizar governos e empresas por dano ambiental, diz pesquisa global

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