Jornalistas&Cia 1480

Edição 1.480 - pág. 46 científicos existem no Estado e no Brasil? Qual o número de associados à APqC? E qual o reconhecimento que essa atividade encontra na sociedade de um modo geral? Helena – São Paulo é o Estado que mais produz conhecimento científico no Brasil, em um esforço que envolve os Institutos Públicos e universidades. Ao longo dos últimos anos, a falta de concurso público tem provocado um verdadeiro “apagão” na ciência. Quando um pesquisador se aposenta sem que haja outro cientista para dar continuidade a sua linha de pesquisa, ou ao trabalho que vinha desenvolvendo, todo o conhecimento adquirido pode ser perdido, pois muitas vezes são pesquisas que demandam anos de dedicação. Essa negligência do Estado em relação à produção de conhecimento é um tiro no próprio pé, porque São Paulo só se desenvolveu e se tornou o principal Estado da nação, ao longo de décadas, investindo em ciência. Veja o ciclo do café. As variedades produzidas no IAC desde 1932 alavancaram a economia paulista. Sem ciência e sem os Institutos Públicos de Pesquisa, São Paulo perde competitividade. J&Cia – Quais são, a propósito, os benefícios que a Associação propicia ao corpo associado? Helena – A APqC oferece aos seus associados apoio jurídico, representação em negociações com o governo e articulação política para melhorar as condições de trabalho. Também promove eventos e debates sobre os rumos da ciência, além de defender reajustes salariais e a valorização das carreiras de pesquisador e servidores de apoio. Nos últimos anos, o descaso com a ciência e com o serviço público mostrou à nossa associação ser premente a necessidade de divulgar o trabalho dos Institutos Públicos de Pesquisa de São Paulo, levando para a sociedade não só as pesquisas desenvolvidas como o risco que corre o patrimônio público acumulado por essas instituições ao longo da história. J&Cia – Quais as áreas do conhecimento mais afeitas às atividades da pesquisa científica e como elas estão hoje supridas por esses profissionais? E quais as formações acadêmicas mais presentes na comunidade? Helena – Seja na Agricultura, na Saúde ou no Meio Ambiente, todos os Institutos Públicos enfrentam Nacionais desafios e precisam de investimento. A Pesquisa Pública é essencial, porque nem todas as áreas que precisam de estudos receberão aportes da iniciativa privada. Você não vai ver uma empresa investir bilhões para pesquisar o comportamento do mosquito da dengue, a malária, ou alimentos não commodities. Isso quem tem que fazer é o Estado. Para se ter uma ideia da realidade atual, São Paulo tem hoje mais de oito mil cargos vagos nos Institutos de Pesquisa. Além de pesquisadores, faltam profissionais das carreiras de apoio à pesquisa, porque para conduzir um estudo é preciso contar com suporte nos laboratórios, nas áreas de experimentação, nas unidades de conservação etc.. Os Institutos reúnem profissionais com formação em biologia, ecologia, agronomia, química, física e áreas relacionadas. Contudo, a produção do conhecimento está sendo comprometida pelo esvaziamento dos quadros funcionais desses institutos, pois são muitos anos sem a devida reposição por meio de concurso público. J&Cia – Como tem sido o intercâmbio com associações de outros estados e mesmo internacionais? Helena – Essa rede de produção científica que São Paulo ainda tem, com 16 Institutos Públicos de Pesquisa, não há em outros estados do País. Dessa forma, a APqC mantém contato e estreito relacionamento com outras entidades ligadas à ciência, como as universidades e a SBPC. Além de manter vínculo com outras entidades que defendem o serviço público, como a Frente em Defesa do Serviço Público de São Paulo, a Confederação Nacional das Carreiras e Atividades Típicas de Estado (Conacate), a Pública Central do Servidor, o recémcriado MovE, Movimento Eficiência no serviço público, entre outros. J&Cia – Em termos de legislação, a atividade e os profissionais da pesquisa científica estão amparados ou é preciso avançar nesse campo? O que tem sido feito nesse sentido? Helena – No Estado de São Paulo há uma lei específica que criou a carreira de pesquisador científico, época em que o Governo do Estado e os legisladores reconheciam a importância da ciência para a competitividade do Estado e para o desenvolvimento de políticas públicas. Algo inédito no País. Contudo, ao longo dos anos, os Institutos Públicos, onde atuam esses pesquisadores, passaram a enfrentar enormes desafios. Os pesquisadores científicos de São Paulo estão com seus salários extremamente defasados, há mais de dez anos sem ao menos a reposição da inflação e muito

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