Jornalistas&Cia 1480

Edição 1.480 - 25 de setembro a 1 de outubro de 2024 Renovação dá o tom na segunda edição dos +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira Foram divulgados em 24/9 os profissionais e veículos vencedores do prêmio +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira 2024. Entre os TOP 50 Jornalistas, mais da metade recebe a homenagem pela primeira vez. Pág. 42. Os negros e negras empreendedores do jornalismo Ao comemorar seu 29º ano de vida, Jornalistas&Cia escolheu como tema de celebração a saga empreendedora dos jornalistas negros e negras na mídia brasileira. A tarefa coube a Rosenildo Ferreira, titular do site 1 Papo Reto. Pág. 2. Melhorar a experiência de leitura Jornalistas&Cia celebra seu 29o aniversário não só com um especial de grande relevância, mas também com a estreia de um novo projeto gráfico, que busca tornar a experiência de leitura de nossa audiência mais prazerosa e amigável. Pág. 2. 2 0 2 4 24 de setembro de 2024 Com renovação superior a 50%, +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira divulga vencedores de sua segunda edição Depois de dois turnos de intensa participação de jornalistas e profissionais de Comunicação de todo o Brasil, o prêmio +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira divulga neste especial os vencedores de sua segunda edição. E foi um ano marcado por uma profunda renovação, com 26 profissionais estreando entre os TOP 50 +Admirados Jornalistas do Ano na eleição promovida por este Jornalistas&Cia, em parceria com os sites 1 Papo Reto e Neo Mondo e a Rede JP – Jornalistas Pretos, e que conta com Patrocínio Ouro da Unilever, Patrocínio Bronze de DOW, LATAM e Uber, apoio institucional de GSS e apoio do Itaú Cultural. Entre as novidades estão Abel Neto (Canais Disney), Aline Aguiar (TV Globo), Aline Macedo (G1), Beatriz Arcoverde (EBC), Bruna Souza Cruz (UOL), Bruno Luiz (UOL), Cris Guterres (TV Cultura), Cynthia Martins (Band), Daiane Amaral (TV Cultura), Darlan Helder (G1), Débora Freitas (CBN), Denise Thomas Bastos (TV Globo/Sportv), Diego Sarza (UOL), Dulcinéia Novaes (RPC), Fabiana de Moraes (The Intercept), Flávia Lima (Folha de S.Paulo), Gabriela Francisco (Metrópoles), Gloria Maria (Agência Mural), Indianara Campos (TV Globo), Jessica Tamyres dos Santos (Ponte Jornalismo), Júnior Moreira Bordalo (TV Globo), Katia Brasil (Amazônia Real), Luiz Maza (Metrópoles) e Rubens Rodrigues (O Povo). Eles se juntam a Adriana Couto (TV Cultura/Nova Brasil FM), Aline Midlej (GloboNews), Aline Reis (Jornal Plural), Amon Borges (Portal Lineup), Basília Rodrigues (CNN), Flávia Oliveira (GloboNews), Flávio VM Costa (UOL/Alma Preta), Fred Ferreira (TV Globo), Jessica Moreira (TV Globo/Nós, Mulheres da Periferia), Joyce Ribeiro (TV Cultura), Karine Alves (TV Globo/Sportv), Larissa Alves (BandNews FM), Lucas Veloso (TV Cultura), Luciana Barreto (TV Brasil), Maju Coutinho (TV Globo), Matheus Meirelles (GloboNews), Pedro Borges (Alma Preta), Raimundo Quilombo (TV Quilombo), Rebeca Borges (CNN), Regina Dourado (BandNews TV), Roberta Garcia (ICL), Semayat Oliveira (Nós, Mulheres da Periferia), Shagaly Ferreira (Estadão), Vinícius Veloso (Metrópoles) e Zileide Silva (TV Globo), que pela segundo ano figuram entre os TOP 50. Destaque também para Andreza Oliveira (TV Globo), Jéssica Batan, Léu Britto (Agência Mural), Marcela Bonfim (Amazônia Negra) e Solon Neto (Alma Preta), eleitos entre os +Admirados na categoria Imagem/Vídeo; e para as publicações vencedoras das categorias Veículo Liderado por Jornalistas Negros e Negras (Africanize; Alma Preta; Amazônia Real; Nós, Mulheres da Periferia e Ponte Jornalismo) e Veículo Geral (Agência Brasil, G1, GloboNews, TV Cultura e TV Globo). Além de homenagear os vencedores com entrega de certificados, durante a cerimônia de premiação, marcada para 11 de novembro, no Itaú Cultural, em São Paulo, também serão conhecidos os TOP 10 +Admirados Jornalistas, os campeões regionais e das categorias temáticas, e as homenagens especiais aos Decano, Decana, Personalidade e Revelação do Ano. Hellen Lirtêz receberá Troféu Tim Lopes de Revelação do Ano Depois de anunciar ao longo das últimas semanas as homenagens a Valdice Gomes e Dennis de Oliveira, que receberão o Troféu Luiz Gama – Decana e Decano do Jornalismo, e ao jogador de futebol Vini Jr., da Seleção Brasileira e do Real Madrid, com o Troféu Glória Maria – Personalidade do Ano, a comissão organizadora dos +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira anuncia o nome da vencedora do Troféu Tim Lopes – Revelação do Ano: a jornalista acreana Hellen Lirtêz. Formada em 2022 pela Universidade Federal do Acre, ela é repórter e fotógrafa freelancer da agência Amazônia Real e da plataforma de divulgação científica e jornalística Amazônia Latitude, além de atuar como assistente de Comunicação da ONG SOS Amazônia. Confira nas próximas páginas, em ordem alfabética, a lista completa com os vencedores deste ano. Hellen Lirtêz @nomundodejr - www.pexels.com

Edição 1.480 - pág. 2 Últimas n Jornalistas&Cia celebra seu 29º aniversário não só com um especial de grande relevância, mas também com a estreia de um novo projeto gráfico, que busca tornar a experiência de leitura de nossa audiência mais prazerosa e amigável. u A partir desta edição, J&Cia passa a ter uma nova estrutura visual, com uma capa destacando as principais matérias da edição, nova tipologia, novo alinhamento das colunas, textos mais curtos e com mais imagens e uma efetiva simbiose com o Portal dos Jornalistas, que absorverá os textos completos das matérias e artigos mais longos. u “Não mudamos a essência da newsletter, obsessivamente informativa e substantiva, mas vamos dar um passo para transformá-la num projeto editorial renovado, contemporâneo e já sinalizando outras inovações com vistas aos 30 anos, em 2025”, diz o fundador e publisher de J&Cia, Eduardo Ribeiro. “. u Outra mudança importante está sendo feita no envio das edições, que deixará de ter duas alternativas de abertura de seu conteúdo (pdf e flipbook), passando a usar exclusivamente a versão flipbook. “Uma das razões é a medição da audiência”, ressalta o diretor de Projetos, Vinícius Ribeiro. Ele explica: “O flipbook computa cada clique, permitindo uma mensuração não só geral, como também das páginas mais acessadas. Isso é fundamental não só do ponto de vista comercial como também para avaliarmos com maior precisão os conteúdos que mais interessam aos leitores”. u O designer Paulo Sant’Ana, que cuida do visual de J&Cia desde as edições zero, destaca que o maior desafio foi melhorar a qualidade visual sem sacrificar, ou sacrificando o mínimo possível, o conteúdo e a quantidade de informações que já são tradicionais na newsletter: “Isso foi possível com a adoção de uma tipologia mais atual, de melhor leitura, e com o uso do recurso de condensação. Também destacaria o conceito de grafismos laterais tracejados, que auxiliam na continuidade de leitura, sem a necessidade de fios entre as matérias”. Ao comemorar seu 29º ano de vida, Jornalistas&Cia escolheu como tema de celebração a saga empreendedora dos jornalistas negros e negras na mídia brasileira, e o fez na sequência de iniciativas relevantes construídas ao longo dos últimos anos. Casos do especial do Dia da Imprensa de 2021, homenageando o centenário de morte do jornalista João do Rio, negro que fez história na atividade; do Censo Racial da Imprensa Brasileira, também em 2021; do Projeto #Diversifica, em 2022 e 2023; e do Prêmio +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira, iniciado em 2023 e continuado neste 2024, em parceria com os sites 1 Papo Reto e Neo Mondo e com a Rede JP – Jornalistas Pretos. Foi a realização desse prêmio, aliás, que de certo modo motivou a escolha do tema de aniversário, por jogar luzes sobre a multiplicidade de iniciativas editoriais em curso no Brasil, lideradas por colegas negros e negras, e que, mesmo dentro do jornalismo, pouco se conhece. São quase 40 páginas mostrando a força do empreendedorismo editorial de colegas negros e negras no Brasil, sob a batuta de Rosenildo Ferreira, ele próprio um desgarrado da mídia branca tradicional, que decidiu construir seu próprio negócio, o site 1 Papo Reto. Ao nosso lado, algumas dezenas de marcas que se aliaram ao projeto, dando sua contribuição a essa justa e nobre causa. A todas elas os nossos sinceros agradecimentos. Que este especial contribua, ainda que de forma modesta, para essa brava, urgente e indispensável luta em prol da diversidade racial no jornalismo e mesmo da luta antirracista em nosso País. Boa leitura! Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli Um novo projeto gráfico para melhorar a experiência de leitura João do Rio, Censo Racial, Projeto #Diversifica, Prêmio +Admirados e, agora, os negros e negras empreendedores do jornalismo

Edição 1.480 - pág. 4 ESPECIAL A mídia brasileira sempre contou com a ativa participação de atores negros. Quer seja nas funções técnicas (tipógrafo, por exemplo) ou intelectuais (repórter ou colunista) ou mesmo no papel de empreendedor. Que o diga o carioca Francisco de Paula Brito (1), fundador de O Homem de Côr, em 1833, o primeiro jornal brasileiro comandado por um integrante da comunidade negra de que se tem notícia. O pioneirismo de Paula Brito, como ele é mais conhecido, acabou incentivando outros tantos empreendedores e intelectuais da incipiente classe média negra a enxergar o jornalismo como um espaço importante na interlocução com a sociedade. Até porque os meios de comunicação, em maior ou menor Dos primórdios do papel ao registro eletrônico, a mídia negra segue na carência Por Rosenildo Ferreira (*) (*) Rosenildo Ferreira é jornalista e tem MBA em Gestão da Comunicação e MKT nas Mídias Sociais (Faap-SP) e em Jornalismo de Causas (Instituto Tecnológico de Monterrey – México). É fundador e editor-chefe do site 1 Papo Reto. grau, sempre tiveram a capacidade de influenciar na agenda nacional, como apontam os formuladores da teoria da Agenda Setting ou Agendamento (2). Alijados do parlamento, os intelectuais negros encontraram na imprensa o caminho para tentar pautar os temas relacionados à defesa dos direitos de seus semelhantes, a consolidação da democracia e a implantação da justiça social.

Edição 1.480 - pág. 6 ESPECIAL É fato que a imprensa negra, como ficou conhecido o conjunto de iniciativas da primeira metade do século passado, jamais deixou de existir. O mesmo vale para a mídia independente, em geral. Contudo, a diversidade de veículos e iniciativas de comunicação (sites, jornais impressos, rádios e emissoras de TVs) nunca foi tão grande como nos últimos 20 anos. Esse fenômeno está ligado a diversos fatores, sendo que dois deles se entrelaçam e se complementam: o barateamento das ferramentas da Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC), como a internet banda larga, e a mudança no sistema de ingresso nas universidades públicas. Enquanto o primeiro possibilitou a comunicação bidirecional, permitindo tirar do papel projetos que antes custariam milhares ou milhões de reais, a política de cotas sociais – que reserva vagas para alunos de escolas públicas e embute um recorte racial, conjugada com o aumento no número de vagas na rede federal, que saltou 390 mil para 973,8 mil, no período 2001-2010 (3) – ampliou o espaço de um contingente da população antes alijado do ensino superior. No entanto, enquanto milhões de jovens ascendiam ao ensino superior, o mercado de trabalho, em geral, e o de comunicação, em particular, vivia mudanças profundas por causa de fatores conjunturais e estruturais. Se por um lado as sucessivas crises econômicas encareceram os custos de um setor precificado em dólar (papel e equipamentos em geral), de cottonbro studio: https://www.pexels.com

Edição 1.480 - pág. 8 ESPECIAL outro a rápida popularização da internet exigiu agilidade e capacidade de antecipar tendências, algo que para um setor marcado pelo conservadorismo sempre se constituiu em um desafio tremendo. Resultado: a “falência” do modelo de venda de notícias, com a progressiva fuga de assinantes e anunciantes, resultou no fechamento de diversos títulos, alguns dos quais centenários, como o Jornal do Brasil, ou considerados ícones da imprensa econômica, como a Gazeta Mercantil. Assim como aconteceu com jornais e revistas – muitos dos que ainda resistem circulam com tiragens cada vez menores –, as emissoras de TV abertas também não têm tido vida fácil. Com a audiência em contínua queda (4), elas passaram a ter de dividir fatias cada vez maiores do bolo publicitário com as chamadas big techs (5). Segundo relatório elaborado pelo CenpeMeios, do total de compra de mídia em 2023 (R$ 23,4 bilhões) a internet abocanhou 38,2% enquanto as TVs abertas ficaram com 39,6%. O mesmo levantamento mostra a estagnação das revistas, com 0,4% dos gastos com publicidade, e queda no caso dos jornais, cuja fatia passou de 1,7% para 1,6% do bolo total. cottonbro studio: https://www.pexels.com

Proteger a natureza é cuidar das sementes que ainda não foram plantadas. É semear um Futuro Vivo. Vivo. A empresa mais sustentável do Brasil. A Vivo é a empresa mais sustentável do setor nas Américas e de todos os setores no Brasil, possuindo a melhor pontuação no 2024 Sustainability Yearbook/Corporate Sustainability Assessment (CSA) da S&P, bem como é a única empresa brasileira na Change the World list da Fortune e líder do ranking do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), no período de 02/01/24 a 05/02/24. Gabriel Medina, medalhista olímpico. Saiba mais sobre os compromissos da Vivo com as pessoas e o planeta.

Edição 1.480 - pág. 10 ESPECIAL Em defesa de causas Foi nesse cenário que um grande contingente de jovens desembarcou no mercado de trabalho. Acontece que, ao contrário das gerações anteriores, os millenials (pessoas nascidas entre 1981 e 1996) desejavam bem mais que um emprego. Afinal, uma das características desse grupo é a dificuldade em lidar com hierarquias verticalizadas. “Ficou evidente na onda de protestos que ficaram conhecidos como Jornadas de Junho em 2013 (6) que os jovens saídos das universidades não se viam representados na mídia”, destaca Edgard Patrício, professor do curso de Jornalismo Edgard Patrício e do programa de pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Com isso, muitos deles acabaram optando por criar seus próprios veículos”. Caminho semelhante percorreram muitos profissionais experientes e com longa trajetória na imprensa. Neste caso, eles foram premidos pela série de passaralhos, termo jocoso usado no setor como sinônimo de demissões em massa. Estudo do Volt Data Lab, agência de jornalismo de dados fundada por Sergio Spagnuolo, indica que apenas no período 2012-2016 os passaralhos atingiram 1.590 jornalistas. Se levarmos em conta os demais trabalhadores profissionais que atuam nas redações (designers, diagramadores e ilustradores) o número sobre para 5.572. Nesta leva estão alguns dos 16 profissionais que fundaram o site de notícias Ponte Jornalismo, em 2014. Baseado em São Paulo, o veículo tornou-se pioneiro na cobertura regular e contínua

Edição 1.480 - pág. 12 ESPECIAL das violações cometidas pelo aparato policial e o judiciário. “Havia um desejo em muitos de nós de fazer um trabalho que ia além do que se propunham os veículos de grande porte, que tratavam dessas questões de forma pouco aprofundada e circunscrita à região central”, conta o cartunista Antonio Junião, cofundador e diretor de arte e projetos especiais da Ponte. “Nunca sofri censura, mas era evidente que pautar temas sociais nos grandes veículos sempre foi uma tarefa muito difícil”. Ao “tratar sem verniz” as questões delicadas, como encarceramento em massa, violência policial e outras violações Antonio Junião aos direitos humanos praticadas pelo Estado, a Ponte acabou se tornando uma espécie de aliada de movimentos sociais que atuam no Estado, como o Grupo Mães de Maio (7). “As pessoas confiam no jornalismo que nós fazemos”, diz. “Enxergamos pessoas e não números, por isso acompanhamos todos os casos noticiados, pois entendemos que a história não acaba quando a reportagem é publicada”. Essa linha editorial, chamada de jornalismo de causas ou jornalismo engajado ou ainda jornalismo posicionado, é a tônica de projetos independentes nativos digitais ou não, surgidos a partir da primeira década deste século. Neste balaio sobressaem outras duas características marcantes: a hiperlocalização (8) e o desejo de colocar na vitrine e amplificar vozes de grupos étnicos (negros, pardos e indígenas) e lugares (a periferia das regiões metropolitanas) que historicamente foram escanteados pelos conglomerados de mídia. Esses

Edição 1.480 - pág. 14 ESPECIAL fenômenos têm sido mapeados por diversos estudos e pesquisas realizados por universidades e entidades setoriais como a Escola de Comunicação da Universidade de São Paulo (ECA-USP) (9), a Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e o Fórum Permanente pela Igualdade Racial (FOPIR) (10). Ao analisar os dados é possível observar que existem diferenças sutis nos arranjos da mídia independente quando se trata de veículos comandados por jornalistas negras e negros, conforme observamos no quadro abaixo. O que mais salta aos olhos é a equidade de gênero, mais equilibrada no que se refere a iniciativas lideradas por afro-brasileiros. Em que pesem esses dois estudos terem um alcance limitado, apesar do rigor científico com que foram produzidos, eles estão em linha com a própria dinâmica da profissão, que, como mostrado na edição 2024 do Anuário da Comunicação Corporativa (11), se tornou uma ocupação dominada por mulheres, que respondem por 57,8% da categoria. Pluralidade é a marca da mídia independente Algumas peculiaridades das empresas e coletivos que integram este segmento Veículos em geral Faixa etária dos jornalistas: 25 a 35 anos Gênero: 28% fundados e dirigidos por mulheres, quanto 19% possuem equidade na direção Como se identifica: 33% declaram-se como coletivos de mídia Periodicidade: 50% não definida, 11% diária e 7% semanal Veículos comandados por negras e negros Faixa etária dos jornalistas: 18 a 29 anos representam 39,7% Gênero: 46% misto, 31% somente mulheres e 31% apenas homens Como se identifica: 44,4% veículo de comunicação, 12,7% coletivos e 7,9% ONGs Onde está localizado? Destaques Sudeste (44,6%) e Nordeste (35,4%) Fontes: Arranjos jornalísticos alternativos e independentes no Brasil (ECA-USP) e Mapeamento da Mídia Negra no Brasil (Fopir)

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Edição 1.480 - pág. 16 ESPECIAL Esse predomínio, no entanto, nunca incluiu as mulheres negras, as quais, em geral, sempre foram sub-representadas nesses espaços, apesar de formarem o maior contingente populacional do País. Por conta disso, mesmo as que conseguiam “furar a bolha” se viam numa posição de incômodo permanente. “Não era suficiente estar lá dentro (da redação), pois o grande destaque era sempre dado aos profissionais brancos. Eles que eram pautados para coberturas nacionais e internacionais”, diz a jornalista Lenne Ferreira, especializada na área cultural. “Sempre me incomodou o fato de a cultura negra e periférica nunca ter conseguido espaço nas capas do jornal”. Somem-se a isso os processos de demissão em massa que foram precarizando as condições de trabalho da equipe. Esta série de incômodos foi o estopim para que essa recifense decidisse alçar voo solo. O site de notícias Afoitas surge a partir do inconformismo, misturado a doses generosas de empoderamento. A começar pelo nome, um epíteto para mulheres com elevada autoestima e donas de si. O projeto inicial previa a criação de um grande portal para agrupar mídias negras e indígenas com a ambição de “nordestinizar a cultura”. Logo na saída, ficou evidente que seria necessária uma correção de rota, devido à falta de recursos para investir. Por conta disso, Lenne montou um time enxuto, composto de cinco mulheres, sendo quatro negras e uma indígena, todas formadas em jornalismo, como faz questão de pontuar a criadora do Afoitas. Jornada semelhante foi percorrida Lenne Ferreira

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Edição 1.480 - pág. 18 ESPECIAL pela jornalista Marcelle Chagas, que trabalhou em rádios e jornais do Rio de Janeiro e sempre se viu exposta a situações desconfortáveis. A começar pela “solidão racial”, pois invariavelmente era a única pessoa preta nos projetos dos quais participava. Conclusão: as questões específicas da comunidade afrobrasileira nunca eram levadas em conta. As microagressões cotidianas fizeram-na optar por uma atuação institucional com a criação da Rede de Jornalistas Pela Diversidade na Comunicação (Jornalistas Pretos), em 2018. Até a formalização do grupo e sua inserção no debate sobre os rumos da comunicação e do jornalismo no Brasil, foi necessário um processo de aprendizagem pautado pela troca de ideias. “Começamos como um grupo de WhatsApp com a ambição de construir uma nova realidade para esse recorte da profissão”, conta a fundadora e coordenadora-geral da Rede JP, denominação adotada recentemente. Para ter vez e amplificar as vozes dos associados, cujo número chega a 200 e é composto por veículos afrocentrados, comunicadores e estudantes, o grupo encabeçado por Marcelle apostou na formação técnica. Primeiro, por meio de cursos em parceria com notórios especialistas, do Brasil e do exterior, destinados a ampliar a força de veículos independentes. Na sequência, uma decisão ousada, a realização de uma Conferência Internacional Marcelle Chagas

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Edição 1.480 - pág. 20 ESPECIAL de Jornalismo (12), posicionou a Rede JP como um interlocutor de destaque. A partir daí, a Rede não apenas ganhou musculatura, como também passou a atuar como think-tank (13), procurando incidir nas políticas públicas para o setor de comunicação. “Tudo o que fazemos é em rede e em parceria com outras entidades, como a Coalizão por Direitos, a Fenaj e a Conaq (que representa os quilombolas)”, destaca. No front internacional, a Rede JP é a representante no Brasil da Caucus of Journalism, coalizão internacional de jornalistas da diáspora africana. Atualmente, a Rede JP mantém parcerias com destacados centros de saber, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de ter ajudado na atualização da pesquisa Raça, gênero e imprensa: quem escreve nos principais jornais do Brasil?, conduzida pelo GEEMA-UERJ (14). O eterno dilema A exemplo do pioneiro Paula Brito, os jornalistas da comunidade afro-brasileira enxergam na comunicação uma ferramenta de luta por diversidade e inclusão, em um país no qual decorridos 136 anos do fim formal da escravização esse contingente ainda convive com as barreiras do racismo estrutural. Este dado da realidade é, em menor ou maior grau, apontado como uma das principais barreiras ao crescimento da mídia independente, em geral, e dos veículos comandados por jornalistas negros e negras, em especial. A começar pelo acesso a anunciantes, públicos e privados. Aqui, cabe uma ressalva em relação aos diversos modelos de negócio que regem a mídia independente. Muitos veículos e coletivos rejeitam “dinheiro privado” com o temor de perder a independência editorial. Outros tantos fazem restrições a determinados anunciantes, como é o caso da rede francesa Carrefour, cujos seguranças mataram o cliente Beto Freitas, um homem negro de 40 anos, em novembro de 2022, considerado o George Floyd brasileiro. Condenada

Edição 1.480 - pág. 22 ESPECIAL pela Justiça, a empresa assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) se comprometendo em apoiar a causa antirracistas. “Não vejo problema em utilizar esses recursos, porque eles são parte de uma decisão legal que prevê reparação dos danos causados pela marca”, diz a jornalista Thais Bernardes, fundadora do portal Notícia Preta, do Rio de Janeiro (leia mais na página 38). Para o professor da UFC Edgard Patrício o ideal é que esse mecanismo de reparação – não apenas racial, mas como forma de equalizar a competitividade dos veículos de menor porte em relação à mídia comercial – se dê a partir da criação de um fundo público para financiar o jornalismo independente. Essa, aliás, é uma proposta que nasceu na Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e vem ganhando tração graças à atuação de outras entidades do setor, incluindo a Rede JP e a Associação de Jornalismo Digital (Ajor). Uma das fontes para constituição do fundo seria uma taxação sobre as big techs. Patrício, no entanto, faz uma ressalva: “Esses recursos deveriam ser administrados no sistema de cogestão das iniciativas de mídia e não pelo governo. O fundo precisa ser uma política pública e não apenas vinculada a um governo de plantão”. Mas enquanto esse mecanismo não se torna realidade as entidades que representam os coletivos e veículos independentes vêm intensificando a pressão sobre os governos para que haja melhor distribuição das verbas de publicidade e propaganda institucional. Trata-se de um montante bastante Thais Bernardes

Edição 1.480 - pág. 23 ESPECIAL relevante, estimado em R$ 626 milhões para este ano, apenas no âmbito do governo federal. Só que nesta seara o discurso se assemelha em muito ao usado pelas empresas privadas, que priorizam em suas estratégias de marketing os veículos a partir do porte. O que, na prática, transforma numa tarefa hercúlea manter um veículo hiperlocal ou focado em recortes específicos da sociedade: mulheres, comunidade LGBTQIAP+ etc. Na visão de Patrício o cenário ideal seria aquele no qual as mídias independentes fossem patrocinadas pela própria comunidade ou por meio de editais públicos. Outrora, esse modelo foi muito bem-sucedido nos Estados Unidos e na Europa e se constituiu em exemplo para o resto do mundo. Mas o jogo mudou a partir do fortalecimento das big techs. Hoje são elas que financiam boa O Uber Cast, uma série exclusiva de videocast da Uber para o mercado brasileiro, aborda, em cinco episódios, como as iniciativas de Diversidade, Equidade e Inclusão da empresa desempenham um papel estratégico na construção de uma plataforma mais segura para todas as pessoas que a utilizam diariamente. Para conduzir discussões sobre temas complexos como segurança, violência contra a mulher, racismo, LGBTQIAP+fobia, capacitismo e acessibilidade, a convidada foi a jornalista Letícia Vidica, que tem uma carreira de mais de 18 anos transitando entre a reportagem e a produção de conteúdo e traz para a mesa sua habilidade em abordar assuntos delicados com sensibilidade e profundidade. Como ela mesma se descreve, é jornalista, apresentadora, palestrante, mestre de cerimônias, mediadora, mentora, escritora e roteirista − um claro exemplo de uma trajetória empreendedora e que buscou desbravar novos caminhos e possibilidades em um cenário de intensa mudança. E foi justamente essa ampla gama de experiências que a colocou no papel central para conduzir as nem sempre fáceis conversas do Uber Cast, com especialistas de diferentes áreas da sociedade, como Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Isabela del Monde, advogada e coordenadora da parceria Uber e Me Too Brasil; Benilda Brito, CEO da Múcua Consultoria e consultora de ONU Mulheres e Pacto Global; Pri Bertucci, produtor executivo da Marcha do Orgulho Trans de São Paulo e CEO da Diversity BBOX; Maria Clara Araújo, pesquisadora especialista em Estudos Afro-LatinoJornalista Letícia Vidica conduz videocast inédito da Uber no Brasil Americanos e Caribenhos; Katya Hemelrijk, CEO da consultoria Talento Incluir; e Thiago Pereira, gerente-geral do Instituto Adimax, programa social para cães-guia e cães de assistência. Todas as discussões foram enriquecidas por relatos pessoais de motoristas parceiros e criadores de conteúdo, que trouxeram para a mesa pontos de vistas e dúvidas reais. Cada episódio mergulhou em um dos temas, discutindo seus desafios e possíveis caminhos de solução − muito embora nem sempre haja respostas fáceis para eles. No episódio #3, por exemplo, a rota do Uber Cast passa por um território marcado por séculos de opressão na nossa sociedade: o racismo. A partir de dados, pesquisas e também vivências pessoais, as convidadas discutiram a complexidade e a dinâmica do racismo no Brasil e como ele afeta o ir e vir de pessoas negras no País. Ouça, reflita e se engaje com o Uber Cast, o videocast da Uber que mostra como a tecnologia e a diversidade compartilham o caminho para a segurança. O conteúdo está disponível em Spotify, CastBox, Amazon Music, Deezer, Google podcasts e Apple podcast ou no canal da Uber no Youtube. branded content

Edição 1.480 - pág. 24 ESPECIAL parte das receitas da mídia independente dos EUA, de acordo com dados do Institute of Non-Profit News (INN), cujos afiliados tiveram uma receita acumulada de US$ 600 milhões no ano passado. Desse total, 55% vieram de fundações, 30% de mecenas e apenas 11% foram gerados pelos departamentos comerciais. A inexistência de uma fonte estruturada e regular de recursos tem sido a principal pedra no sapato dos empreendedores de mídia e dos coletivos de comunicação. Mas, ao mesmo tempo que intensificam as cobranças junto aos órgãos públicos e tratam de tornar seus veículos atrativos à iniciativa privada, esses produtores de conteúdo buscam soluções. Uma delas é a parceria com ONGs globais e locais para o lançamento de campanhas de financiamento coletivo de bolsas-reportagem. Um bom exemplo Jogando Junto Abra sua conta. Com o Itaú Empresas, você conta com um parceiro que entende a necessidade de cada cliente. Eduardo Rocha Filho, VRZ Blindados / Isabela Akkari, Isabela Akkari / Raul Matos, Biscoitê / Clemilson Correia, Buysoft 1332-34880_An Jogando Junto_210x140 OpA.pdf

Edição 1.480 - pág. 25 ESPECIAL é o Balaio Nordeste de Jornalismo Independente (15), capitaneado pelo site de notícias Marco Zero Conteúdo, de Recife, que coordena o Mapa da Comunicação Independente e Popular de Pernambuco, feito em parceria com o coletivo Sargento Perifa e a Repórteres Sem Fronteiras. Aliás, o campo da Comunicação com CEP (16), como definiram Carlos Bomfim e Bruna Hercog, professores da Universidade Federal da Bahia, é pródigo na criação de arranjos e interlocuções. Quer seja pela própria natureza horizontalizada dos veículos ou por uma tendência de criar ecossistemas na linha do “juntos somos mais fortes”. Na capital da Bahia, um dos exemplos é o Projeto Rede ao Redor: cartografia de iniciativas juvenis em arte, cultura e comunicação em Salvador, que conta com o suporte de Bomfim e Bruna. Por sua vez, A Darana RP é a primeira agência baiana de relações públicas a implantar um Comitê de Diversidade, Equidade e Inclusão e desenvolver soluções de comunicação com este foco. @daranarp (71) 3342-3373 Diversidade Equidade & Inclusão Comitê [email protected] Quer saber mais? Agende um papo com o nosso time de especialistas. O que estamos fazendo: Criação e implementação de comitê Estruturação de eventos de DE&I Formação de pessoas embaixadoras Sensibilização e Letramento Planejamento estratégico e campanhas de comunicação

Edição 1.480 - pág. 26 ESPECIAL o Mapa Cajueira nasceu com a ambição de mapear as mídias independentes de toda a região Nordeste e foi idealizado a partir de trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na Universidade Federal de Sergipe (17). Apesar de meritórias, essas iniciativas têm efeitos episódicos e não tocam na essência do problema: a sustentabilidade de longo prazo da produção jornalística. A ausência de uma fonte estruturada e contínua de recursos expõe esses profissionais aos mesmos efeitos da precarização vividos por muitos de seus colegas nas redações da grande mídia: jornadas excessivas e a necessidade de manter uma ocupação adicional para pagar as contas. Isso porque, em muitos casos, o trabalho jornalístico é feito de forma voluntária, o que impacta na frequência de atualização dos veículos. É assim que funciona, por exemplo, o portal Afoitas, de Recife. “Logo de cara entendemos que nosso modelo de produção não poderia competir com o de hardnews. Como não conseguimos falar com todos os públicos todo o tempo, optamos por um recorte que privilegia as pautas femininas e a causa LGBTQIA+”, explica Lenne. Para completar o orçamento, ela atua na Aqualtune Produções, especializada em eventos culturais e criada na mesma época do portal, como forma de rentabilizar seus conhecimentos nesta área. “Muitas vezes, o que

Edição 1.480 - pág. 27 ESPECIAL escrevemos no site pode não chegar aos jovens da periferia, mas a música dos integrantes de nosso cast, sim”. De fato, manter uma estrutura produtiva baseada na geração de notícias é sempre custoso. Entre 2020 e 2023, período marcado por um interesse maior pela pauta antirracista, boa parte dos recursos para o setor vinha de entidades do Terceiro Setor com atuação global e focadas na promoção de causas: Fundação Ford, Open Society Foundations, Pulitzer Center, ICFJ (Centro Internacional para Jornalistas), além das big techs, com destaque para a Meta, dona do Facebook e do Instagram, e a Google News Initiative (GNI), braço do empresa para dialogar com a mídia. Foi nessa onda que muitos veículos conseguiram se estruturar. Um bom exemplo é a Ponte Jornalismo, que desde 2018 mantém seus dez colaboradores sob contrato. Até chegar neste ponto, no entanto, seus idealizadores passaram inúmeros perrengues. “Cada um tinha ‘seus corres’ e ao longo do tempo foi ficando insustentável, pois a carga de trabalho era muito pesada para todos”, recorda Junião. Nos quatro anos em que tiveram de se equilibrar entre pautas de grande repercussão e suscetíveis a retaliações, tanto judicial (lawfare) quanto físicas (por causa de ameaças), a equipe foi aprendendo a transformar o site em um negócio social. Trajetória muito parecida com a da agência de notícias Amazônia Real, nascida em 2013 a partir O conhecimento transforma as pessoas, e as pessoas transformam o campo. Desde 1905, a Yara cultiva uma relação de troca e confiança com agricultores, agrônomos, pesquisadores e com você, jornalista, para juntos construírmos um futuro cada vez mais próspero e sustentável. www.yarabrasil.com.br

Edição 1.480 - pág. 28 ESPECIAL da união de três jornalistas: Kátia Brasil, Elaíze Farias e Liege Albuquerque. Kátia, que é cearense de nascimento, morou no Rio de Janeiro e se radicou em Manaus, conta que a ideia surgiu meses depois de ter sido demitida da Folha de S.Paulo. “Eu tinha recursos suficientes para comprar um imóvel, mas resolvi investir na agência porque não queria voltar a trabalhar na imprensa local”, diz. A euforia inicial deu lugar a um certo temor de trocar de lado do balcão. Afinal, uma coisa é ser repórter, outra é ser empreendedor na área da comunicação. Logo nos primeiros meses, Liege deixou a sociedade e foi se dedicar à carreira acadêmica. Como o modelo de negócio desenhado por elas previa a publicação exclusivamente de material próprio, antes mesmo de lançar o site da agência elas empreenderam um ritmo frenético de produção de reportagens. Para encorpar o projeto, chamaram articulistas de renome, que toparam colaborar de forma voluntária. Com isso, já na largada, em 23 de outubro Kátia Brasil e Elaíze Farias Leanderson Lima/Amazônia Real

Edição 1.480 - pág. 29 ESPECIAL de 2013, o site entrou no ar com um rico acervo que rendeu inúmeros prêmios (Esso Regional Norte, Women Journo Heroes, Abraji, Comunique-se, Vladimir Herzog e Chico Mendes), o último deles obtido no ano passado. Além de articulistas e do trabalho das duas cofundadoras, a agência conta com uma rede composta por 15 colaboradores espalhados pela Amazônia Legal. Todos em regime de “frila fixo”, com remuneração acima da média da região, segundo a fundadora da agência. Kátia diz que o que viabilizou a consolidação do projeto foi uma série de financiamentos obtidos junto a ONGs globais. Mas, apesar de todo o discurso aqui e lá fora sobre a importância da preservação da Amazônia como forma de deter o aquecimento global, a realidade é outra. “As instituições globais estão dando as costas ao jornalismo independente”, critica. Como as doações representam 70% do orçamento, Kátia e Elaíze estruturaram um plano de diversificação de receitas, a partir da produção de relatórios para empresas e projetos de reportagens especiais. O portfólio inclui, ainda, oficinas para jornalistas recém-formados ou no último ano de graduação. Essa nova fase, no entanto, começou tensa. Isso porque, por uma questão de princípios, a agência não aceita recursos de empresas ligadas ao trabalho análogo à escravidão ou que notoriamente são apontadas como

Edição 1.480 - pág. 30 ESPECIAL depredadoras da floresta. “Fizemos um projeto de captação de recursos junto às empresas do Polo Industrial de Manaus. Batemos à porta de 30 delas e ouvimos 30 nãos!”. Os nãos também têm ocupado uma parte importante do léxico de Maristela Crispim, outra jornalista que empreende na área ambiental. A exemplo da conterrânea, ela se tornou especialista no segmento ao longo dos 24 anos em que atuou no Diário do Nordeste, em Fortaleza. A carreira foi interrompida no final de 2018, em meio ao passaralho provocado pela unificação das redações da empresa, que conta, ainda, com duas emissoras de TV e duas rádios. “Eu fiquei sem chão”, lembra. Disposta a seguir na profissão, ela criou a Agência Eco Nordeste. “Até então eu sabia como ser empregada dos outros, cuja Maristela Crispim Adriana Pimentel @klabin.sa @bioklabin @klabinforyou /Klabin.SA @klabin.sa @klabinforyou Klabin.SA Klabin SA Klabin Invest @Klabin.SA Aponte o seu celular e assista ao vídeo.

Edição 1.480 - pág. 31 ESPECIAL função era apurar e escrever matérias”. A iniciativa, no entanto, seduziu veteranos, como Eduardo Queiroz, editor de fotografia, e muitos jovens interessados no tema. Atualmente, a equipe é composta apenas por nove mulheres espalhadas pelos estados de Ceará, Pernambuco e Bahia. O que começou como uma microempresa individual foi convertido em instituto em 2022, como forma de ampliar o leque de patrocinadores. Na primeira fase da empreitada, Maristela se manteve por meio de bolsas e recursos focados em projetos específicos, bancados por Google, Ajor e ICFJ. Este último garantiu a produção do piloto de Nordestidades, um podcast sobre a região. “Pulamos de edital em edital, o que mostra o quanto é desafiador fazer jornalismo ambiental fora da região Sudeste e da Amazônia”, diz. Até porque, as tentativas de atrair empresas privadas ou estatais fracassaram no nascedouro. “Conversamos com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) que nos recebeu muito bem, achou tudo lindo, mas nos disse que só entraria com recursos se achássemos um parceiro. Nas empresas privadas daqui a verba de patrocínio está confinada a projetos da Lei Rouanet”. Para completar o orçamento, Maristela dá aulas no curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor).

Edição 1.480 - pág. 32 ESPECIAL Black Money Como visto até aqui, não faltam recursos de investimento publicitário tanto de entes públicos quanto do setor privado. O que existe, na verdade, é uma assimetria entre os montantes destinados aos veículos a partir de sua linha editorial e das relações estabelecidas entre os dois lados do balcão. Em geral, as mídias comandadas por empreendedores negros e negras têm mais dificuldades de conseguir recursos. E como vimos, não se trata da qualidade do time que toca cada projeto, tampouco de sua aderência aos cânones do jornalismo. Um bom exemplo são os prêmios obtidos por inúmeros veículos independentes, além da repercussão de reportagens que se tornaram referência e fonte de pautas para grandes veículos, incluindo as TVs. Então, só nos resta o racismo estrutural. “Está mais que evidente que temos talentos no ecossistema de mídia na comunidade negra. O ponto crucial é que os recursos publicitários estão concentrados nas mãos de poucas agências”, critica o publicitário e empreendedor Paulo Rogério Nunes, cofundador da aceleradora Vale do Dendê e da Afro.TV, de Paulo Rogério Nunes Linkedin

Edição 1.480 - pág. 33 ESPECIAL Salvador. Ele se diz perplexo com a postura até mesmo de multinacionais americanas, que lá em sua base adotam uma política de apoio à diversidade e aqui, não. Fruto da sociedade com o americano David Wilson, o canal de YouTube teve um começo avassalador, em 2001. “Fechamos uma parceria com a Doritos (da PepsiCo) para um reality show sobre a nova cena da música da Bahia”, conta Paulo Rogério. O projeto trouxe os dividendos esperados e rendeu um convite para criação de conteúdos de marca para a Netflix. Para dar conta do job, a Afro.TV, que mantinha uma equipe fixa de 20 profissionais, teve de contratar outros 100. Contudo, o número de parceiros foi rareando até que o custo da operação ficou insustentável. David voltou para Nova York em 2022 e Paulo Rogério suspendeu o projeto. No início deste ano, a Afro.TV voltou ao ar com a cobertura do Carnaval de Salvador. Desde então, o material jornalístico e de entretenimento tem sido publicado em sua página do Instagram. Paulo Rogério conta que o novo modelo de negócio vai manter a ambição inicial de ser um canal de edutainment (expressão resultante da fusão das palavras educação e entretenimento) (18) voltado para os millenials e a geração Z (nascidos entre 1997 e 2012), que cottonbro studio: https://www.pexels.com

Edição 1.480 - pág. 34 ESPECIAL valoriza os conteúdos no formato de internet. “Não faz sentido querermos disputar espaço com as emissoras de hardnews”, define. Recalcular rotas e mudas planos de voo têm sido a tônica de outra emissora totalmente focada no pan-africanismo (19), a CultneTV, criada pelo empresário e ativista Asfilófio de Oliveira Filho, mais conhecido como Dom Filó, apelido que ganhou no tempo dos bailes black power da década de 1970, no Rio de Janeiro. Trata-se da mais longeva iniciativa de audiovisual com este recorte no Brasil, e o maior acervo de sobre a cultura negra na América Latina. A inspiração surgiu durante viagens ao Harlem, bairro negro de Nova York. O início se deu por meio da produtora Cor da Pele, mas naquela época era quase impossível para um empreendedor negro e de classe média montar uma TV. “Nós criamos um acervo sem saber no que o material iria se transformar”, recorda.Para manter a produtora, Filó e seus sócios apostavam em festas de casamento e aniversário, reinvestindo os recursos na cobertura de eventos culturais da comunidade negra. O processo de redemocratização, com a instauração do primeiro Asfilófio de Oliveira Filho (Dom Filó)

Edição 1.480 - pág. 35 ESPECIAL governo civil após 21 anos de ditadura militar, e a proximidade do centenário da Abolição, colocaram as pautas negras em destaque. A primeira cobertura internacional foi a viagem de uma comitiva de intelectuais e políticos afro-brasileiros à Ilha de Gorée, no Senegal. O evento rendeu um documentário que foi exibido na TVE. Apesar de algumas tacadas bem-sucedidas, a produtora demorou muito a decolar por falta de clientes: “Ninguém falava dessa forma, mas ficou evidente que ninguém queria contratar uma produtora negra, né?!”. Entre a produtora Cor da Pele e a criação da Cultne (acrônimo para cultura negra), Filó atuou em cargos de confiança em órgãos governamentais do Rio de Janeiro e no Ministério dos Esportes, na gestão de Pelé. O convite para cobrir a Conferência de Durban, em 2001, rendeu os recursos necessários para digitalizar o acervo histórico, com imagens únicas das passeatas no Centenário da Abolição e de discursos de Abdias do Nascimento e Lélia Gonzáles, dois expoentes da intelectualidade negra. A Cultne.TV começa em 2008, com o acervo publicado em um canal no YouTube, e hoje se tornou uma emissora presente nas plataformas Samsung TV Plus, Pluto TV e TCL Channel, que cobrem uma base total de 15 milhões de televisores no Brasil. Apesar de ter conquistado espaços privilegiados para transmissão de seus conteúdos, e contar com um rico acervo, a Cultne ainda se mantém distante dos olhos de investidores e anunciantes. Existe uma dificuldade das empresas em reconhecer o potencial da comunidade afro-brasileira”, critica Paulo Rogério Nunes, que na retomada da Afro.TV está mudando o departamento comercial de Salvador para São Paulo: “Lá é o centro de decisão dos principais anunciantes e das grandes agências”.

Edição 1.480 - pág. 36 ESPECIAL Assim como muitos dos projetos de mídia independente comandados por afro-brasileiros, a Cultne está registrada como entidade sem fins lucrativos. Com isso, Filó espera conseguir acessar os editais direcionados a projetos audiovisuais. Esse caminho, trilhado por boa parte das iniciativas de mídia independente e coletivos de comunicação é visto com desconfiança por muitos. Lenne, criadora do portal Afoitas, é uma das que fazem inúmeras ressalvas: “Muitos coletivos acabam tendo de adicionar causas à sua linha editorial para se enquadrarem em determinado edital. E isso acaba gerando um certo oportunismo de veículos que não têm tradição no tema”. Ela destaca que sua ambição continua sendo ver o Afoitas como uma opção viável e importante de patrocínio por empresas que fabricam produtos para as mulheres que são enfocadas nas páginas do portal. Para Filó, se o jogo é esse, é preciso entrar em campo. Hoje, a equipe do Instituto Cultural Cultne é formada por 45 pessoas, dos quais apenas oito cuidam da TV. Para rechear a programação, Filó está fechando parcerias com produtores de conteúdo locais. “Meu objetivo é que a Cultne se torne uma vitrine da produção audiovisual negra no Brasil”, diz. Aliás, a ideia de formação e fortalecimento de ecossistemas de mídia independente é outro traço comum tanto de veículos quanto de coletivos. Como diz o cartunista Antonio Junião, cofundador da Ponte Jornalismo, tem espaço para todo mundo. “O trabalho em rede é o futuro do jornalismo”, destaca. HÁ 10 ANOS APERFEIÇOANDO O MERCADO DE COMUNICAÇÃO VOCÊ TEM QUE ESTAR AQUI! A MAIOR FERRAMENTA DE ENVIO DE RELEASES DO BRASIL! MAIS DE 55 MIL JORNALISTAS NO MAILING DE IMPRENSA! O QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO PARA CONTRATAR?

Edição 1.480 - pág. 37 ESPECIAL Quando questionada sobre a origem do portal Notícia Preta, criado em 2018, a jornalista Thais Bernardes faz um longa e necessária digressão sobre a sua própria trajetória de vida. Criada por uma família branca de classe média da Ilha do Governador, na zona norte do Rio de Janeiro, ela cresceu em um mundo branco. Por causa disso teve direito a “privilégios” que seus irmãos de sangue jamais sonharam. Na verdade, coisas que deveriam ser triviais, como as aulas de balé clássico, piano e inglês. Também era presença constante nas dependências do Guanabara Iate Club. “Sabia que não era branca, mas também não me via como negra”. A ficha foi caindo aos poucos, não por causa de um episódio trágico de discriminação racial, mas de um mergulho em si mesma, a partir do convívio dentro do candomblé. Aprovada no primeiro vestibular com cotas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Thais viu de perto um ambiente de grande segregação. “Como eu navegava bem entre os dois universos, não tive problemas”, conta. Irrequieta, comprou um livro com CD de francês na internet e começou a estudar o idioma, até que surgiu um intercâmbio em Paris. “Fui para ficar seis meses e acabei morando lá por nove anos!”. Estudou comunicação e jornalismo na Universidade Paris II e na Sorbonne e trabalhou na TV France 2, retornando ao Brasil em 2013. “Quando cheguei, pensei que seria a nova Glória Maria”. Mas não foi bem assim. Ao vistoso currículo faltava o chamado networking para ingressar nesse meio tão cobiçado. A partir daí, foi trabalhar no Jornal Extra e na BandNews FM, até “se convidar” para Jornalismo que promove o antirracismo 29 anos de jornalismo que conecta empresas, agências e talentos. Parabéns, Jornalistas & Cia!

Edição 1.480 - pág. 38 ESPECIAL ser chefe da Comunicação da Secretaria de Estados de Direitos Humanos do Rio de Janeiro. Na época, a secretaria era comandada por Átila Alexandre Nunes, um notório integrante da comunidade umbandista do Rio. “Sempre que o encontrava eu dizia que era a mais bem preparada jornalista que ele poderia contratar”, brinca. O Notícia Preta surge exatamente a partir daí. “O contato mais direto com grupos de mães de vítimas da violência policial me fez mergulhar na história da minha família biológica e ver que muitos deles haviam sido presos ou sequer tinham aprendido a ler e escrever. Foi como um soco no estômago”. Nessa época, ainda havia um forte apelo por parte da grande mídia em espetacularizar a dor de parentes de vítimas de tragédias cotidianas. Além de ter mudado a interlocução com a imprensa, Thais criou uma oficina de jornalismo para os estagiários de seu departamento. As aulas aconteciam após o expediente e consistiam em reescrever matérias da grande mídia, a partir de um olhar mais humano. Posteriormente, os textos eram publicados em uma conta no Instagram. Foi um sucesso. “Como muitas pessoas se voluntariaram para escrever artigos, decidimos criar uma plataforma nacional para orientar os Thais Bernardes e equipe Notícia Preta Um jornalismo diverso promove histórias diversas! A Dow parabeniza o Jornalistas&Cia pela jornada de 29 anos concedendo voz � pluralidade dos pro�ssionais da comunica�ão que, com suas perspectivas únicas, enriquecem nossa compreensão do mundo e nos inspiram a construirmos, juntos, um futuro mais justo e inclusivo. br.dow.com

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