Jornalistas&Cia 1479

Edição 1.479 página 27 alugara um espaço dentro da feira, havia um par de fotografias dele, gigantes, com um capacete de obra na cabeça, ilustrando uma parede. Nunca o tinha imaginado assim, de relações tão fáceis, e um astro do lugar onde trabalhava. Eu era tímido e achei, por tudo aquilo, que jamais poderia ser um jornalista. Gostava da ideia de escrever, como meu pai, mas não tinha aquela desenvoltura com as pessoas − o élan do repórter. Tudo o que eu tinha feito nesse sentido acabara em desastre. Tinha tomado, porém, a maior lição da reportagem. Descobriria mais tarde que, para aqueles que sabem ouvir, e partem do princípio de que não sabem nada, valorizando o outro, as pessoas contam tudo. É a humildade. E, para se ter essa humildade, é preciso ter confiança. Ninguém é menor por não saber algo. Ao contrário, ao mostrar que não sabemos, inspiramos no interlocutor a certeza de que não precisamos nem vamos querer demonstrar uma sabedoria que não temos − e, assim, não escreveremos bobagem. Esse é o segredo do sucesso em jornalismo. Jornalistas sempre sabem menos do que as pessoas que vão entrevistar. Ponto. Ao sentar para escrever, porém, depois de ouvir várias pessoas, sabemos mais do que cada uma delas individualmente, de fato. Pelo menos por um momento fotográfico, o instante em que colocamos o ponto final, sabemos mais que todo mundo. Somos máquinas de aprender − e de reproduzir o que aprendemos. Porém, em seguida já queremos mudar de assunto, porque num só ficamos entediados. E entramos num novo tema, com outras pessoas, para saciar toda a nossa ignorância, começando tudo de novo. Leva-se muito tempo para aceitar que não precisamos demonstrar quem somos para sermos alguma coisa. E esta, creio, não é apenas a grande lição em jornalismo. Para mim, é uma lição de vida − e, mesmo agora, depois de ouvir tanta gente, saber tanta coisa, e duvidar de tudo, eu a sigo como um mantra. inexperiente. Daquela vez, eu não tinha anotações − isto é, a pauta. Em vez de ficar quieto, comecei a fazer perguntas. As minhas perguntas. Nas perguntas, tentei demonstrar que sabia alguma coisa sobre o mercado imobiliário. Depois, quando começou a dar errado, tentei demonstrar que sabia mais do que ele. E fui me enrolando cada vez mais. A certa altura, ao ver que eu era apenas um rapazinho idiota, ele parou de falar. Me ouviu e, quando terminei de lhe dar uma aula, encerrou a entrevista e me dispensou, sem comentários, possivelmente em respeito à revista, que ele conhecia bem. Saí dali tão envergonhado que, anos mais tarde, quando já trabalhava em um jornal de negócios e via Chap Chap em algum lugar, desviava dele. Certo dia, em que não pude fugir, rezei para que não me reconhecesse. Como fiquei quieto, acho que não me reconheceu, mesmo. Foi minha primeira lição em jornalismo. Você vai falar sempre com alguém que sabe mais sobre aquele assunto. Essa pessoa está te fazendo um grande favor em passar a informação. Ela está em primeiro lugar. Chegue mais cedo, para que ela não perca tempo. Pergunte, seja sucinto, escute calado, aprenda, e depois de aprender, escreva. Em jornalismo, faço assim até hoje. Confesso que não lembro o que escrevi sobre o que disse Chap Chap, se é que escrevi alguma coisa. Logo apareceu minha terceira e última tarefa: acompanhar meu pai na feira do Anhembi, quando abriu. Numa tarde, seguindo-o como uma sombra, pude vê-lo em ação, no trabalho. Eu conhecia o homem sério que habitava a minha casa: trabalhava num escritório onde sumia no meio da fumaça do cachimbo. Sabíamos que estava lá apenas pela matraca da máquina de escrever Olivetti verde que martelava com os dedos. Na feira, lembro de ficar surpreso em ver como meu pai parecia conhecer todo mundo. Andava de um estande a outro, conversando desembaraçadamente, com sua verve típica, temperada com certa panache, e sempre tinha um refinado e discreto galanteio para as mulheres − algo que, como filho também da minha mãe, me surpreendia e deixava um tanto embaraçado. No estande da revista, que afinal Thales, com o pai e as fotos gigantes Jornalistas&Cia é um informativo semanal produzido pela Jornalistas Editora Ltda. • Diretor: Eduardo Ribeiro ([email protected]–11-99689-2230)•Editorexecutivo: Wilson Baroncelli ([email protected] – 11-99689-2133) • Editor assistente: Fernando Soares ([email protected] – 11-97290-0777) • Repórter: Victor Felix ([email protected] – 11-99216-9827) • Estagiária: Hellen Souza ([email protected]) • Editora regional RJ: Cristina Vaz de Carvalho 21-999151295 ([email protected]) • Editora regional DF: Kátia Morais, 61-98126-5903 ([email protected]) • Diagramação e programação visual: Paulo Sant’Ana ([email protected] – 11-99183-2001) • Diretor de Novos Negócios: Vinícius Ribeiro ([email protected] – 11-99244-6655) • Departamento Comercial: Silvio Ribeiro ([email protected] – 19-97120-6693) • Assinaturas: Armando Martellotti ([email protected] – 11-95451-2539)

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