Edição 1.477 página 28 n A história desta semana é novamente de Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto ([email protected]), assíduo colaborador deste espaço, que esteve por muitos anos no Estadão e hoje atua em sua própria empresa de comunicação. Luiz Ernesto Kawall, braço direito de Carlos Lacerda Luiz Ernesto Machado Kawall, que faleceu em 13/8 (ver J&Cia.1.474), aos 97 anos de idade, era o diretor da sucursal paulista da Tribuna de Imprensa, quando Júlio de Mesquita Neto pediu que Carlos Lacerda, proprietário do combativo jornal, escrevesse um livro com a história da família Mesquita e do Estadão. O ano era 1963, se não me engano, e Lacerda topou, mas como morava no Rio pediu dois pesquisadores para levantarem as pautas que passaria, matéria-prima para a obra que nunca chegou a escrever. Luiz Ernesto, que era o braço direito de Lacerda em São Paulo e jornalista experiente, foi a primeira escolha e eu, que acabara de entrar no jornal e era foquinha descartável, fui a segunda. O Estadão me deu de presente por pouco mais de um ano para Lacerda, e quem ganhou o presente fui eu, pois Lacerda e Luiz Ernesto foram minha escola de jornalismo. As “reuniões de pauta” eram malucas. Cada vez que Lacerda vinha a São Paulo passava o dia em reuniões políticas e, madrugada, ia para o apartamento do maestro Diogo Pacheco, colunista de música do Estadão. Telefonava nos tirando da cama e o encontrávamos sempre no fogão, Luiz Roberto Souza Queiroz Luiz Ernesto Machado Kawall preparando uma macarronada que ficava pronta lá pelas 3 da manhã, enquanto ele falava sem parar, determinando o que deveríamos pesquisar. As primeiras pesquisas foram do próprio Lacerda, inclusive na Torre do Tombo, em Lisboa. Ele contava que os Mesquita do Estadão não eram Mesquitas, mas tinham outro sobrenome que, tantos anos depois, não consigo lembrar. A história era ótima. Um antepassado de Júlio Mesquita, se não me engano o avô, era agricultor plebeu e se apaixonou por uma moça nobre. É claro que a família nem cogitou da possibilidade do namoro ir em frente. Os dois pombinhos fugiram, é claro que se casaram oficialmente antes de consumarem o matrimônio, como era uso, e a família do moço ficou tão envergonhada que o proibiu de usar o sobrenome. Assim, os filhos do casal e inclusive os descendentes que vieram para o Brasil tivera que usar o nome Mesquita, que era o da esposa do “ladrão de mulher”. A história era inusitada, mas não incomum no Portugal de então. Caso parecido é o da minha família, que proibiu Luiz Antonio de Souza Queiroz de usar o Queiroz, já que o futuro brigadeiro Luiz Antonio de Souza, nobre empobrecido, veio para o Brasil para levar tropas de burros para as minas de ouro de Cuiabá. Assumiu, portanto, “profissão mecânica”, indigna de nobre. A Luiz Ernesto e a mim Lacerda entregava pautas e entrevistas fáceis às vezes, quase impossíveis de vez em quando, como quando tivemos que levantar a história da Burschenschaft, a sociedade ultrassecreta da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, criada por Julius Frank, que fugiu para o Brasil depois de ter sido “executado” no país de origem e cujo túmulo está na entrada das Arcadas. A Bucha, como ficou conhecida, era uma sociedade liberal e filantrópica que conseguiu tamanho poder que há quem garanta que durante mais de 20 anos todos os presidentes do Brasil eram bucheiros. Coube a Luiz Ernesto comprovar que Júlio de Mesquita Filho integrava a sociedade, teria sido inclusive o “Chaveiro”, responsável pela chave simbólica da sociedade. Eu consegui levantar a história da Bucha numa entrevista que me foi concedida num terreno ermo do Morumbi, por um exbucheiro apavorado, que dizia que seria morto se vazasse que falara. Luiz Ernesto, porém, conseguiu o feito maior, um dos livros com as atas da Bucha, que Lacerda garantiu Túmulo de Julius Frank nas Arcadas
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