Jornalistas&Cia 1477

Edição 1.477 página 16 (*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo. O relatório da Nielsen para o segundo trimestre de 2024 apresenta um panorama detalhado sobre as tendências de consumo de áudio nos Estados Unidos, com implicações significativas para o mercado brasileiro de rádio. Ao longo do período, o público americano dedicou, em média, 4 horas e 5 minutos por dia ao consumo de áudio, abrangendo rádio, podcasts, serviços de streaming e rádio via satélite. Este dado é um indicativo claro do papel central que o áudio continua a desempenhar na vida cotidiana, mesmo em um cenário de crescente diversificação das plataformas de mídia. O estudo destaca que o rádio continua sendo a principal plataforma de áudio, especialmente no que se refere ao tempo diário gasto com áudio apoiado por publicidade. Cerca de 67% desse tempo é dedicado ao rádio, seguido por 19% dedicado aos podcasts, 11% ao streaming e apenas 3% ao rádio via satélite. Esses números não apenas reafirmam a relevância do rádio, mas também indicam que, apesar do crescimento de novas formas de áudio digital, o rádio mantém uma posição dominante, particularmente quando se trata de publicidade. Um dado intrigante revelado pela pesquisa é o comportamento dos jovens adultos, de 18 a 34 anos, que ainda dedicam uma parcela significativa do seu tempo ao rádio. A participação dessa faixa etária no consumo de rádio aumentou para 48%, enquanto os podcasts, que antes eram dominantes entre os mais jovens, registraram uma leve queda, passando a representar 35% do tempo de áudio consumido por esse grupo. Este cenário aponta para a capacidade do rádio de se reinventar e manter a atenção de um público que, teoricamente, estaria mais inclinado a consumir conteúdo em plataformas digitais. A pesquisa da Nielsen também traz uma análise detalhada por formato de áudio, oferecendo insights valiosos sobre os tipos de conteúdo que mais atraem os ouvintes. O rádio continua a dominar em programas de notícias e esportes, que atraem grandes audiências e garantem alta retenção. Além disso, formatos musicais tradicionais, como Alternative e Classic Rock, também demonstram forte desempenho, com audiência consistente ao longo do trimestre. Esses dados sugerem que, mesmo com a ampla disponibilidade de músicas sob demanda em plataformas de streaming, há uma fideli100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) Pesquisa mostra que rádio é a principal plataforma de áudio para o público norte-americano dade dos ouvintes a determinados formatos de rádio, especialmente aqueles que oferecem curadoria especializada e programas ao vivo, que não podem ser facilmente replicados por serviços de streaming. Para os profissionais de rádio no Brasil, as tendências identificadas pela Nielsen oferecem lições valiosas. A permanência do rádio como a principal fonte de consumo de áudio, mesmo entre os jovens, destaca a importância de se investir em conteúdos que combinem a tradição do rádio com as novas exigências de um público cada vez mais conectado. Programas de notícias, esportes e formatos musicais clássicos continuam a ser uma aposta segura, mas é essencial também explorar a convergência com plataformas digitais, como podcasts e streaming, para maximizar o alcance e engajamento. Além disso, a análise do comportamento do consumidor sugere que há espaço para o rádio expandir sua participação de mercado, especialmente se souber adaptar seus conteúdos para atrair uma audiência mais jovem e digitalmente engajada. Isso pode incluir desde a criação de programas que combinem transmissão ao vivo com interatividade online, até o desenvolvimento de podcasts que complementem a programação tradicional do rádio. De forma geral, o relatório da Nielsen para o segundo trimestre de 2024 confirma a resiliência e a adaptabilidade do rádio no cenário contemporâneo de mídia. Enquanto as novas plataformas de áudio digital continuam a crescer, o rádio mantém sua posição de liderança, particularmente em formatos que oferecem conteúdo ao vivo e curadoria especializada. Para o mercado brasileiro, essas tendências sugerem a necessidade de uma abordagem híbrida, que combine o melhor do tradicional e do digital, garantindo que o rádio continue a desempenhar um papel central na paisagem de mídia do País. O perfil mais atual do consumidor de rádio no Brasil, conforme os dados de 2023 do estudo Inside Radio, da Kantar Ibope Media, revela que o rádio continua sendo um meio muito relevante, com 83% da população sintonizando em alguma emissora, seja via transmissão tradicional ou por plataformas digitais. Os ouvintes de rádio no Brasil são bastante diversos, refletindo a composição da população brasileira em termos de idade, gênero e classe social. Cerca de 70% dos ouvintes utilizam o celular para escutar rádio, o que demonstra a migração do consumo para plataformas móveis. Além disso, o consumo de rádio online está crescendo rapidamente, com 7,4 milhões de brasileiros acessando transmissões via internet nos últimos 30 dias, um aumento significativo de 85% em comparação com 2019. As principais motivações para ouvir rádio são a música (49%), a companhia (43%) e o acesso rápido a notícias (31%). O rádio também se destaca como um meio confiável, com 56% dos ouvintes afirmando que confiam nas informações transmitidas. Esses dados sublinham a capacidade do rádio de se adaptar às mudanças tecnológicas e de continuar sendo um meio relevante tanto em formatos tradicionais quanto digitais. Se compararmos com os dados dos Estados Unidos confirmaremos o grande caminho para experimentações que temos para ganhar mais audiência. Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link. Jovens adultos norte-americanos ouvem rádio

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