Edição 1.476 página 25 Jornalistas&Cia é um informativo semanal produzido pela Jornalistas Editora Ltda. • Diretor: Eduardo Ribeiro ([email protected]–11-99689-2230)•Editorexecutivo: Wilson Baroncelli ([email protected] – 11-99689-2133) • Editor assistente: Fernando Soares ([email protected] – 11-97290-0777) • Repórter: Victor Felix ([email protected] – 11-99216-9827) • Estagiária: Hellen Souza ([email protected]) • Editora regional RJ: Cristina Vaz de Carvalho 21-999151295 ([email protected]) • Editora regional DF: Kátia Morais, 61-98126-5903 ([email protected]) • Diagramação e programação visual: Paulo Sant’Ana ([email protected] – 11-99183-2001) • Diretor de Novos Negócios: Vinícius Ribeiro ([email protected] – 11-99244-6655) • Departamento Comercial: Silvio Ribeiro ([email protected] – 19-97120-6693) • Assinaturas: Armando Martellotti ([email protected] – 11-95451-2539) garoto, cadê a matéria, garoto, cadê a matéria?... Foi, então, até a minha mesa, arrancou a lauda da máquina, colocou outra, sentou-se e me perguntou: − Quanto foi o jogo? Respondi, foi um a zero Bangu, com um gol do Roberto Pinto... me fez outras perguntas, e escreveu: − Com um gol de Roberto Pinto aos 35 minutos do segundo tempo, o Bangu derrotou o Bahia, ontem à noite, no Maracanã, garantindo a classificação para a próxima etapa da Taça do Brasil. E, olhando firme dentro dos meus olhos pelas lentes verdes “fundo de garrafa”, que lhe valeram a alcunha carinhosa de “ceguinho”, disse: − Esse é o “lead” (lide) Toda matéria tem de ter lide, depois as outras informações secundárias e a encheção de linguiça. E pediu que terminasse logo o texto. Foi a minha primeira lição de jornalismo, e de suma importância, para aquele foca (jornalista em começo de carreira). Hoje, os focas são chamados por pura macaquice de trainees – o que há de errado em ser foca? Depois do batismo de fogo, fui para casa, não dormi direito, só pensava no lide (palavra aportuguesada do inglês lead, conduzir, liderar, que em textos noticiosos deve responder às questões principais em torno de um fato: o quê, quem, quando, como, onde, por quê). Imaginava que, agora, íntimo do lide, não haveria limite para a minha recéminiciada carreira de jornalista. Na verdade, nos anos 1960 aprendiase jornalismo na marra, no dia a dia das redações, a partir da experiência de veteranos repórteres e editores. Todos eles professores muito rigorosos. O diploma não era obrigatório. Em busca de conhecimento para a profissão, estudávamos Filosofia, Economia, História ou Sociologia. Segui em frente, saindo para as reportagens, sempre com borboletas no estômago. Assim aprendi, cedo, com meu pai que as conquistas devem ser fruto do trabalho. Entrei num consórcio, e tirei meu primeiro Fusquinha quatro anos depois daquele fim de semana em Teresópolis. Depois do início no Correio da Manhã, por causa daquele flerte, trabalhei no jornal O Globo, revista Visão, Serviço Brasileiro da BBC de Londres e Folha de S.Paulo, da qual fui correspondente em Londres. E a moreninha de cabelos longos e olhos travessos? Você deve estar querendo me perguntar. Pois é, encontrei com ela anos depois, por acaso, saguão de embarque do Santos Dumont. Ela, advogada de uma grande multinacional, elegantíssima num sóbrio tailleur, e eu repórter da Folha de S.Paulo. Depois de cumprimentos, com certo grau de embaraço, eu, com borboletas no estômago, pedi mil desculpas pelo sumiço, explicando − se isso era motivo... − que meu pai não me emprestara o Fusquinha dele para a gente sair naquele dia. Ela sorriu, mais linda do que nunca, e com indisfarçável alívio, passando a mão direita pelos longos cabelos, disse: − Ah, você também não foi!... Eu não fui porque meu pai não deixou. Ele era muito rigoroso e ciumento, me prendia muito. Disse que queria me proteger das diabruras de playboys de fim de semana... Ora vejam só!... pensei de mim para mim. Para nossos pais, eu, um sujeito sério e compenetrado, era um playboy de fim de semana. Ora vejam só! Sem conter o riso, disse: − Somos, então, o casal Cary Grant e Deborah Kerr tupiniquim... Certamente protagonistas do nosso particular An Affair to Remember! − um encontro que não aconteceu... O deles no Empire State Building, em Manhattan, e o nosso no cinema Vitória, em Teresópolis... Nos despedimos e fomos cada um para seu voo... Sinto que você quer saber se marcamos um novo encontro..., mas essa é uma outra história, que convém deixar para lá... Entre as nuvens na rota de Congonhas, pensei o tempo todo no “affair” não consumado... que eu, esse playboy de fim de semana, tornado jornalista, nunca vai esquecer...
RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==