Edição 1.474 página 21 De Londres, Luciana Gurgel O jornalismo climático vive na corda-bamba entre a necessidade de conscientizar a sociedade sobre a gravidade da situação ambiental e ao mesmo tempo não alarmar demais a ponto de gerar ansiedade e evasão do noticiário. Uma nova pesquisa feita nos EUA examinou o efeito das expressões utilizadas para descrever os problemas enfrentados pelo planeta, descobrindo que carregar no drama não é o caminho mais indicado. O motivo não é somente o susto que o alarmismo causa, mas sim a dificuldade de compreensão e a ineficiência em provocar mudanças. Usando-se expressões mais diretas e simples, o público entende melhor e se mostra mais inclinado a aceitar políticas e a tomar atitudes práticas em favor do planeta. Para chegar aos resultados, quatro pesquisadores do Departamento de Psicologia da South California University testaram a reação de 5,1 mil americanos a um conjunto de expressões usadas pela imprensa em notícias sobre o tema: mudança climática, justiça climática, aquecimento global, crise climática e emergência climática. O objetivo do trabalho foi examinar o efeito desses termos so- bre cinco perspectivas: familiaridade com o tema, preocupação, senso de urgência, disposição para apoiar políticas e intenção de comer menos carne bovina. O consumo de carne vermelha foi escolhido para o teste porque o IPCC (Painel Integovernamental de Mudanças Climáticas) da ONU recomenda essa mudança alimentar como uma oportunidade para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o que conteria as mudanças climáticas e seu impacto desproporcional em comunidades vulneráveis. Embora em tese palavras como “crise” e “emergência” Quer convencer o público sobre a emergência da crise climática? Melhor não chamar de crise nem de emergência, diz pesquisa despertem senso de urgência e gravidade, não foi bem isso que os pesquisadores descobriram ao verem as reações dos participantes. Os termos mais tradicionais “mudança climática” e “aquecimento global” foram classificados como mais familiares do que os termos relativamente mais novos, “crise climática” e “emergência climática”. Talvez por serem menos familiares, os termos “crise climática” e “justiça climática”, introduzidos para enfatizar a urgência da situação ambiental, na verdade suscitaram menos preocupação. Além disso, “crise climática” ou “emergência climática” não geraram percepções de urgência maior do que “mudança climática” e “aquecimento global”. O termo “justiça climática” foi o menos familiar e teve o pior desempenho em todas as avaliações. Uma das razões, segundo os pesquisadores, é que boa parte do público não entende que a mudança climática afeta desproporcionalmente comunidades vulneráveis, o que eles afirmam já ter sido constatado em outros estudos. Quando os termos não eram familiares, os participantes se mostraram menos propensos a expressar preocupação, senso de urgência, apoio a políticas e intenção de mudar de atitude. Um exemplo foi o teste sobre a proposta de comer menos carne bovina. Quando a ideia foi associada à expressão justiça climática, teve a menor taxa de adesão. Segundo os pesquisadores, o experimento confirma teorias psicológicas de formação de atitude, que sugerem que a ação efetiva sobre uma questão é influenciada por informações que vêm à mente no primeiro momento. E estudos psicológicos consagrados confirmam que variações aparentemente suaves em como as opções são apresentadas podem afetar o julgamento e decisão. O trabalho cita um outro estudo revelando que alimentos sem carne e laticínios têm mais probabilidade de serem escolhidos quando são rotulados como “à base de plantas” em vez de “veganos” − e se tornam ainda mais populares quando os rótulos dizem “saudável” ou “sustentável” para enfatizar os benefícios. Os pesquisadores recomendam “não cometer o erro” de exagerar na linguagem, garantindo que é mais eficiente usar expressões que as pessoas entendam, como aquecimento global e mudança climática. Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço.
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