Jornalistas&Cia 1473

Edição 1.473 página 7 conitnuação - MediaTalks catastrófica do Partido Conservador que perdeu as eleições de lavada. Esses veículos da mídia tradicional atingem gente que está dentro e fora das redes sociais. E vêm construindo há anos uma visão de mundo que trata o diferente como ruim − em um país que, pela sua história imperial, devido a acordos com as colônias, sempre recebeu imigrantes e teve um diálogo mais aberto com outras culturas. Mas o que publicam ou veiculam também repercute nas redes sociais, em seus próprios canais ou compartilhado pelos que lá estão circulando livremente, mesmo respondendo a acusações criminais, casos de Tate e de Robinson. As fontes do conteúdo da mídia e das redes sociais A terceira perna nesse tripé é a fonte para o conteúdo de ódio, polarizador e nacionalista da imprensa tradicional e das mídias sociais. Aí entram políticos que realmente acreditam nessas teses, e aqueles que por oportunismo embarcam nela, como Farage e Boris Johnson. O ex-jornalista que virou premiê e teve que sair da política (pelo menos por enquanto) devido aos sucessivos escândalos em sua gestão, como o Partygate, um dia foi contra o Brexit, escrevendo isso em colunas de opinião. Mas virou de lado e se elegeu primeiro-ministro em 2019 com larga maioria no Parlamento, bradando que iria entregar a saída da União Europeia no momento em que um acordo estava complicado e pressões por um novo plebiscito ganhavam força. Seu dream team na gestão do país entre 2019 e 2023 foi formado por figuras políticas controvertidas, que usaram durante todo esse tempo sua exposição em todas as mídias e na tribuna do Parlamento para defender o nacionalismo e o “fora imigrantes”, além de proporem ou implantarem medidas efetivas nessa direção, como o controvertido projeto de enviar refugiados para Ruanda. A culpa é só das redes? É fácil culpar apenas grandes plataformas de mídia social, sobretudo o Twitter / X, por deixarem esse conteúdo nocivo circular e não banirem os extremistas. Mas é como enxugar gelo, pois as redes do submundo, fora do alcance das regulamentações, continuariam aliciando gente mais inclinada a embarcar nessas teses. Outras pessoas, certamente suscetíveis porém menos “engajadas”, talvez não embarcassem se não fosse a ajudinha de políticos com credibilidade nacional e redes de mídia tradicional. Apesar de todas as pesquisas apontando descrédito na imprensa, ela ainda desfruta de uma aura de confiável, sobretudo a que fala aquilo que o seu público está querendo ouvir em vez de abrir espaço para opiniões diversas. E seu conteúdo é compartilhado para colocar mais lenha na fogueira da guerra cultural. As redes sociais têm culpa, mas não deveriam sentar sozinhas no banco dos réus em um julgamento sobre quem é o vilão que levou aos confrontos que estão assustando o Reino Unido. Furo perigoso − A Bloomberg News anunciou “medidas disciplinares” sobre jornalistas de sua equipe envolvidos na publicação de uma reportagem confirmando a libertação do repórter do Wall Street Journal Evan Gershkovich na troca de presos entre Rússia e EUA, quando a notícia ainda estava sob embargo. O embargo é uma prática no jornalismo e raramente desrespeitado. Os jornalistas recebem as notícias ou documentos como relatórios, preparam suas matérias mas aguardam um horário determinado ou o sinal verde da fonte para a veiculação. Além de ser visto como uma “trapaça” sobre os colegas, o embargo quebrado na troca de presos poderia colocar em risco a vida dos reféns, que no momento em que a matéria foi ao ar pela Bloomberg ainda estavam em um voo russo rumo à Turquia, onde seriam entregues a autoridades americanas. Os jornalistas libertados − O repórter Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, é a face mais conhecida entre os profissionais ligados ao jornalismo libertados na troca de 24 presos entre a Rússia e os EUA em 1°/8, com a pressão pública em torno do seu caso tendo desempenhado papel central para o acordo – mas ele não é o único, e nem todos são americanos. Junto com ele saíram Alsu Kurmasheva, que tem dupla cidadania (russa e americana) e trabalha na Radio Free Europe/Radio Liberty, financiada pelo governo dos EUA; Vladimir Kara-Murza, ativista político russo-britânico e colunista do Washington Post; e Pablo Gonzalez, russo-espanhol que estava preso na Polônia acusado de espionar para a Rússia e entrou na cota de protegidos do país. Mas se não fosse a pressão contínua e eficiente do Wall Street Journal – de propriedade do poderoso magnata da mídia Rupert Murdoch – e de organizações de direitos humanos sobre o governo americano, que levou à designação de Gershkovich como “detido injustamente” para permitir negociações diplomáticas, o destino dos demais poderia ter sido diferente. Esta semana em MediaTalks Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço.

RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==