Jornalistas&Cia 1472

Edição 1.472 página 19 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 Amor, sangue e sexo também se acham no romance Maria Bonita, de Afrânio Peixoto, publicado em 1914. Em resumo: a Maria Bonita de Peixoto é uma personagem simplesmente fantástica. Ela é filha de Isabel e André. Tem um irmão, Lucas. Com seis anos de idade já despertava a atenção dos marmanjos. Com uns 13 anos apegou-se a Luís, um moleque da mesma idade. Esse moleque era filho de uma fazendeira muito rigorosa. Seu nome: Mariana. Luís tinha um irmão que tentou estuprar Maria. E a partir daí o romance cresce, ganha contornos inimagináveis. Encurtando: Lucas defende a irmã com unhas, dentes e tiros. O que também faz o pai, que é preso e a mãe morre de desgosto. A essa altura, Maria é posta pra fora da terra onde morava com a família. Maria casa-se com o canoeiro João, que mata Luís por assédio a ela. Maria fica só, com o filho de quatro anos. Essa é a história. O incrível nisso tudo é o preconceito exalado pelo autor Peixoto. Ele foi um dos primeiros escritores a criticar ferozmente o livro de estreia de Gilka Machado, Cristais Partidos (1915), chamando-a de “matrona imoral”, e “mulatinha escura”. Gilka subiu paredes com essas críticas, reconhecendo, porém: “Aquela primeira crítica (por que negar?) surpreendeu-me, machucou-me e manchou o meu destino. Em compensação, imunizou-me contra a malícia dos adjetivos”. Ao contrário de Gilka, a mineira Ana Maria Gonçalves tem colhido muitos elogios da crítica sobre a sua obra. Ana Maria embrenhou-se no campo da pesquisa para inteirar-se sobre a história da escravidão no Brasil. O pretexto era conhecer suas origens. O resultado foi o livro Um Defeito de Cor, com cerca de 1.000 páginas. Sensacional. A autora dá de mão de uma personagem real, histórica, de nome Luiza Mahin e com ela vai até o fim, procurando o filho que o pai vendera quando tinha dez anos de idade. O filho era o poeta abolicionista Luiz Gama. Daí pra frente é tudo basicamente ficção. Luiza morre surda e cega, vangloriando-se modestamente por ter convencido o romancista Joaquim Manuel de Macedo a dar o nome de Carolina a uma das suas personagens do livro A Moreninha, lançado em 1844. Licenciosidade na cultura popular (LXX) Assis, com o livro Maria Bonita Gilka Machado Carolina é a amiga branca de Luiza. No livro de Maria Gonçalves tem violência de todo tipo, inclusive estupros. Tem também padre transando com seminarista, mulher morando com padres e muito mais, sob os olhares de Xangô, Oxum e outros santos da crença africana. A África é um celeiro de crenças incríveis. Paulina Chiziane é a primeira escritora moçambicana a ganhar o Prêmio Camões, como o seu conterrâneo Mia Couto. É autora de um movimentadíssimo romance intitulado Niketche – Uma história de poligamia (2001). Nesse livro, o personagem central é um cara pra lá de machista, grosso, que mora com quatro mulheres e tem caso aqui e acolá. Na trama nasce um movimento de fortalecimento do viver feminino. Dentro dessa mesma temática e também enaltecendo a mulher é o romance histórico A Rainha Ginga, do angolano José Eduardo Agualusa. Esse livro, lançado em 2014, conta a história de uma mulher e do seu povo, que lutam contra os invasores. A ver com portugueses e holandeses. Há personagens brasileiros. A líder guerreira Ginga mostra que não nasceu pra brincadeira. Pra se divertir, chegou a formar um harém com homens vestidos de mulher. Harém por harém é bom que se diga que suas origens datam da Antiguidade. Está na Bíblia. No Livro Sagrado aparece Salomão reinando absoluto com 700 mulheres com quem se casou e outras 300 com quem não se casou. Uma festa! Que não nos esqueçamos: o pai de Salomão era o rei Davi. Outra história dá conta de que foram sultões do Império Otomano que criaram esse pagode todo chamado harém. O auge foi no século 13 e o declínio começou ali pelo século 17. O fim ocorreu na primeira parte do século 20. Isto também se deu com as gueixas, no Japão, que deram sinal de vida na segunda metade do século 17. Os padres sempre estiveram em terras virgens. José de Alencar, não custa lembrar, era filho de um padre: José Martiniano Pereira de Alencar. Filho de padre também foi o abolicionista José do Patrocínio (1853-1905); seu pai era João Carlos Monteiro, vigário da paróquia de São Salvador. Era político e muito influente na região. Tinha 54 anos de idade quando levou para seu convívio uma garotinha de 13 anos, Justina Maria do Espírito Santo, que daria à luz o famoso Patrocínio. Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

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