Edição 1.471 página 7 Meu amigo, minha amiga, você já ouviu falar de uma mulher chamada Pagu? Patrícia Galvão nasceu em 1910, em São Paulo. Era metida. Procurava estar onde, por uma razão qualquer, as mulheres não estavam. Pois, pois, era quem era. Não tinha medo de nada. Nem da noite, nem dos bares cheios de álcool e de pessoas perdidas. Virou jornalista, escrevendo para jornais diversos. Antes, bem antes, participou de encontros com Carlos Prestes. Na casa dele. Virou comunista de carteirinha. Essa ideologia, porém, ela abandonou em 1940. O PC a perseguiu, depois disso. Pagu foi presa em vários momentos, inclusive no exterior. Escapou de Hitler por um triz, pois se não fosse a intervenção do embaixador Souza Dantas… Não demorou muito, essa Patrícia amoleceu o coração do jornalista e poeta paulista Oswald de Andrade (1890-1954). O coração de Oswald foi destroçado por Patrícia ali pelo ano de 1925. Em 26, os dois casaram-se no cemitério da Consolação, na capital paulista. A solenidade em si provocou curiosidade e estranheza, mesmo assim não foram poucos os amigos do casal a comparecerem ao dito cemitério. Oswald de Andrade morreu no ano do 4º Centenário de São Paulo. Ah! Sim: não custa dizer que Oswald separou-se da artista plástica Tarsila do Amaral (1886-1973) para casar-se com Patrícia, que recebeu o apelido do escritor Raul Bopp (1898-1984). Pagu andou viajando mundo afora. Esteve em Rússia, EUA, França, China, Japão. Na Rússia, Pagu decepcionou-se com o governo comunista. Lá ela viu cenas de miséria chocantes. Da China, trouxe sementes de soja que até então não se plantava no Brasil. Foi uma vida intensa a de Pagu. Enquanto esteve no exterior, entrevistava figurões, como o último imperador da China, Pu-Yi (1906-1967). Até o psicanalista tcheco Sigmund Freud (18561939) ela entrevistou. Suas entrevistas e artigos foram todos publicados em jornais brasileiros, como correspondente. Não custa dizer também que Oswald e Pagu criaram o jornal O Homem do Povo, em 1931. No correr da vida, Pagu andou publicando textos diversos em jornais e revistas, como Detective, editada pelo jornalista e dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues (1912-1980). Nessa revista, publicou nove contos, entre junho e dezembro de 1944. Anos depois, esses contos viraram livro, com o título Safra Macabra. Detalhe: esses contos, escritos no gênero policial, tinham como personagem central o detetive Cassira A. Ducrot. Foram assinados com o pseudônimo de King Shelter. Patrícia Galvão tentou suicídio em três ocasiões diferentes, mas acabou sucumbindo vítima de câncer no dia 12 de dezembro de 1962, aos 52 anos de idade. O último texto de Pagu foi um poema, publicado no jornal A Tribuna, de Santos (SP). Este: Minha mãe era mui bela, – Eu me lembro tanto dela De tudo quanto era seu! Tenho em meu peito guardadas Suas palavras sagradas C’os risos que ela me deu. (Junqueira Freire) Era mui bela e formosa, Era a mais linda pretinha, Da adusta Líbia rainha, E no Brasil pobre escrava! Oh, que saudades que eu tenho Dos seus mimosos carinhos, Quando c’os tenros filhinhos Ela sorrindo brincava. Éramos dois – seus cuidados, Sonhos de sua alma bela; Ela a palmeira singela, Na fulva areia nascida. Nos roliços braços de ébano. De amor o fruto apertava, E à nossa boca juntava Um beijo seu, que era a vida, Quando o prazer entreabria Seus lábios de roxo lírio, Ela fingia o martírio Nas trevas da solidão. Os alvos dentes nevados. Da liberdade eram mito, No rosto a dor do aflito, Negra a cor da escravidão. Pagu
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