Jornalistas&Cia 1471

Edição 1.471 página 3 Esse poema, intitulado simplesmente Ela, foi publicado originalmente no jornal A Marmota, edição de 25 de janeiro de 1855. Narciza Amália de Campos nasceu em São João da Barra (RJ) no dia 3 de abril de 1852. Casou-se muito cedo com um ator andarilho. Tinha 14 anos de idade. Não deu certo e separou-se cinco anos depois. Casou-se de novo e de novo não deu certo. O cara era comerciante e muito fela da mãe, pois gritava e ameaçava bater nela. Aos gritos. Narciza era filha de um poeta e de uma professora do primário. Estudou latim e francês. Aos 20 anos publicou o seu primeiro e único livro de poemas, intitulado Nebulosas. No poema Porque Sou Forte, dedicado ao amigo Ezequiel Freire, ela escreveu: Dirás que é falso. Não. É certo. Desço Ao fundo d’alma toda vez que hesito... Cada vez que uma lágrima ou que um grito Trai-me a angústia − ao sentir que desfaleço... E toda assombro, toda amor, confesso, O limiar desse país bendito Cruzo: − aguardam-me as festas do infinito! O horror da vida, deslumbrada, esqueço! É que há dentro vales, céus, alturas, Que o olhar do mundo não macula, a terna Lua, flores, queridas criaturas, E soa em cada moita, em cada gruta, A sinfonia da paixão eterna!... − E eis-me de novo forte para a luta. O livro Nebulosas foi bem recebido pela crítica da época. Até Machado de Assis, já um tanto famoso, teceu loas à poeta, que tinha por hábito promover saraus na sua casa. Numa ocasião, o imperador Pedro II não se fez de rogado e lá esteve. Como Machado, Narciza atuou com profissionalismo na imprensa brasileira. Foi a nossa primeira jornalista de que se tem notícia. (*) Jornalista, escritor, compositor, pesquisador e estudioso da cultura popular. Teve passagens por O Norte, de João Pessoa, A União, Correio da Paraíba e Diário do Agreste, em Pernambuco. Em 1976 mudou-se para a capital de São Paulo onde trabalhou em diversos jornais, entre eles Folha de S.Paulo, Diário Popular e Estadão, além das TVs Abril Vídeo, Manchete e Globo. Tem diversas obras publicadas sobre cultura popular e cantores/compositores brasileiros. Colunista de J&Cia desde 2011, ficou cego dois anos depois. Narciza Amália Assis Ângelo

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