Edição 1.471 página 2 Meu amigo, minha amiga, você já ouviu falar numa certa pessoa chamada Narciza Amália de Campos? No dia 10 de setembro de 1808, cerca de seis meses após a chegada da Família Real ao Brasil, particulares fundaram o jornal Gazeta do Rio de Janeiro. Tinha quatro páginas e era publicado duas vezes por semana, às quartas e sábados. Nas suas páginas eram publicados atos de interesse do Império. Fora isso, o jornal trazia traduções de publicações estrangeiras feitas pelo frade franciscano Tibúrcio José da Costa. A respeito desse religioso pouco se sabe. Talvez tenha nascido em 1778 na cidade do Porto. Tibúrcio era uma espécie de faz-tudo do jornal. Depois dele, havia Manuel Ferreira de Araújo Guimarães (1777-1838). Esse Manuel Ferreira era baiano e professor de matemática, tradutor e militar. É considerado o primeiro jornalista profissional do Brasil. Depois de sair da Gazeta do Rio de Janeiro, Manuel Ferreira de Araújo Guimarães fundou o jornal O Patriota. Esse jornal, que mais parecia uma revista, foi o primeiro do País a publicar textos de teor científico, filosofia e arte. Durou dois anos, de janeiro de 1813 a dezembro de 1814. Foi também redator do Diário do Senado. Escreveu poemas e tratados. Até aí o fluminense Joaquim Maria Machado de Assis não havia ainda nascido, o que somente ocorreria em 1839, no dia 21 de junho. Entre 1821 e 1823, circulou no Rio um tabloide intitulado O Espelho. Desse jornal era redator o mesmo Manuel Ferreira. Porém, é bom não confundir esse Espelho com O Espelho de que participou Machado de Assis, mais para uma revista do que um jornal, fundado por Francisco Eleutério de Souza (1806-1870). Circulou entre setembro de 1859 e janeiro de 1860. O Espelho de Souza era impresso na tipografia de Paula Brito (1809-1861), o primeiro editor de livros do Brasil. Foi Brito o primeiro profissional a dar emprego a Machado. Começou como tipógrafo e seguiu como revisor. Admirador do poeta português Francisco Gonçalves Braga (18361860), o jovem Machado desenvolveu seu primeiro texto poético quando tinha 16 anos de idade. Para tanto aceitou desenvolver o mote do amigo Braga, seu primeiro e grande incentivador. Este: “Nunca vi − não sei se existe / Uma deidade tão bela / Que tenha uns olhos brilhantes / Como são os olhos dela!”. Agora confira como ficou o primeiro poema de Machado, que até então assinava apenas com o sobrenome Assis: Por Assis Ângelo (*) Jornalistas escritores: uma história Machado de Assis Seus olhos que brilham tanto, Que prendem tão doce encanto, Que prendem um casto amor Onde com rara beleza, Se esmerou a natureza Com meiguice e com primor. Suas faces purpurinas De rubras cores divinas De mago brilho e condão; Meigas faces que harmonia Inspira em doce poesia Ao meu terno coração! Sua boca meiga e breve, Onde um sorriso de leve Com doçura se desliza, Ornando purpúrea cor, Celestes lábios de amor Que com neve se harmoniza. Com sua boca mimosa Solta voz harmoniosa Que inspira ardente paixão, Dos lábios de Querubim Eu quisera ouvir um sim − Para alívio do coração! Vem, ó anjo de candura, Fazer a dita, a ventura De minh’alma, sem vigor; Donzela, vem dar-lhe alento, Faz-lhe gozar teu portento, “Dá-lhe um suspiro de amor!”
RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==