Edição 1.471 - 24 a 30 de julho de 2024 Neste 25 de julho o Brasil celebra, desde 1960, o Dia Nacional do Escritor e nada mais justo do que homenagear nesta data aqueles que decidiram dedicar suas vidas a dois dos ofícios que a humanidade aprendeu a respeitar e apreciar: o jornalismo e a literatura. Os jornalistas escritores, ou vice-versa, estão presentes em nossa rica história desde o Século XVIII, com a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro. Desde então multiplicaramse, unindo o talento pelas letras ora nas páginas dos jornais e revistas, ora nas páginas dos livros, quando não iniciando uma obra pelo jornalismo para então dar a ela a perene vida literária. É isso o que conta o paraibano Assis Ângelo, que, a convite dos editores deste J&Cia, escreveu um alentado artigo sobre a história dos primeiros e imprescindíveis jornalistas escritores de nosso País, passando por nomes como Machado de Assis, José de Alencar, José Bonifácio, João do Rio e, entre muitos outros, também a pioneira Narciza Amália de Campos e a indomável e irrequieta Patrícia Galvão, a Pagu. Tudo recheado por detalhes que pouco se conhecem dos múltiplos personagens aqui em desfile. Um viva ao Dia Nacional do Escritor e aos Jornalistas Escritores! Boa leitura! Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli n Jornalistas&Cia e Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein darão início na próxima semana à quarta edição do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar. A iniciativa tem como objetivo valorizar o trabalho da imprensa especializada na cobertura dessas três áreas do jornalismo brasileiro. u O primeiro turno terá início em 1º de agosto e seguirá os moldes das edições anteriores, em que o colégio eleitoral, formado por jornalistas e profissionais da Comunicação, poderá indicar livremente até cinco jornalistas ou veículos por categoria. u Serão oito destinadas aos profissionais, com destaque para a principal, que homenageará os TOP 25 +Admirados Jornalistas de Saúde, Ciência e Bem-Estar. Além dela, mais uma vez haverá reconhecimentos especiais ao +Admirado Jornalista Especializado em Ciência, ao +Admirado Colunista e aos +Admirados Jornalistas Regionais (Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul). u Já para os veículos serão sete categorias: Agência de Notícias, Áudio (Programa de Rádio/ Podcast), Jornais e Revistas (Impresso ou Digital), Programa de TV, Veículo Impresso e/ou Digital Especializado em Saúde, Veículo Especializado em Jornalismo Científico e Site/Portal. u Os nomes mais indicados na primeira fase classificam-se para o segundo turno, em que serão definidos os TOP 25 + Admirados Jornalistas e os TOP 3 +Admirados nas demais categorias. Na cerimônia de premiação, ainda a ser marcada, todos os selecionados serão homenageados e também serão conhecidos os TOP 5 +Admirados Jornalistas da Imprensa de Saúde e Bem-Estar do Brasil e os campeões das categorias temáticas. n Jornalistas e profissionais de Comunicação de todo o Brasil participam da pesquisa lançada na última semana por este Jornalistas&Cia. Criada com o objetivo de conhecer com mais precisão os hábitos de leitura e preferências de seus leitores, a pesquisa servirá como base para o novo projeto editorial e gráfico que será apresentado ao mercado em setembro, durante a celebração do 29º aniversário da newsletter. u São apenas 13 questões de seleção ou múltipla escolha e uma dissertativa opcional. O tempo máximo para responder ao questionário é de apenas cinco minutos. Preencha o questionário em https://tinyurl. com/2vbwvnzx e ajude-nos a fazer um Jornalistas&Cia da sua preferência! Vem aí a 4ª edição do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar Pesquisa servirá como base para novo projeto editorial de J&Cia J&Cia homenageia o Dia Nacional do Escritor
Edição 1.471 página 2 Meu amigo, minha amiga, você já ouviu falar numa certa pessoa chamada Narciza Amália de Campos? No dia 10 de setembro de 1808, cerca de seis meses após a chegada da Família Real ao Brasil, particulares fundaram o jornal Gazeta do Rio de Janeiro. Tinha quatro páginas e era publicado duas vezes por semana, às quartas e sábados. Nas suas páginas eram publicados atos de interesse do Império. Fora isso, o jornal trazia traduções de publicações estrangeiras feitas pelo frade franciscano Tibúrcio José da Costa. A respeito desse religioso pouco se sabe. Talvez tenha nascido em 1778 na cidade do Porto. Tibúrcio era uma espécie de faz-tudo do jornal. Depois dele, havia Manuel Ferreira de Araújo Guimarães (1777-1838). Esse Manuel Ferreira era baiano e professor de matemática, tradutor e militar. É considerado o primeiro jornalista profissional do Brasil. Depois de sair da Gazeta do Rio de Janeiro, Manuel Ferreira de Araújo Guimarães fundou o jornal O Patriota. Esse jornal, que mais parecia uma revista, foi o primeiro do País a publicar textos de teor científico, filosofia e arte. Durou dois anos, de janeiro de 1813 a dezembro de 1814. Foi também redator do Diário do Senado. Escreveu poemas e tratados. Até aí o fluminense Joaquim Maria Machado de Assis não havia ainda nascido, o que somente ocorreria em 1839, no dia 21 de junho. Entre 1821 e 1823, circulou no Rio um tabloide intitulado O Espelho. Desse jornal era redator o mesmo Manuel Ferreira. Porém, é bom não confundir esse Espelho com O Espelho de que participou Machado de Assis, mais para uma revista do que um jornal, fundado por Francisco Eleutério de Souza (1806-1870). Circulou entre setembro de 1859 e janeiro de 1860. O Espelho de Souza era impresso na tipografia de Paula Brito (1809-1861), o primeiro editor de livros do Brasil. Foi Brito o primeiro profissional a dar emprego a Machado. Começou como tipógrafo e seguiu como revisor. Admirador do poeta português Francisco Gonçalves Braga (18361860), o jovem Machado desenvolveu seu primeiro texto poético quando tinha 16 anos de idade. Para tanto aceitou desenvolver o mote do amigo Braga, seu primeiro e grande incentivador. Este: “Nunca vi − não sei se existe / Uma deidade tão bela / Que tenha uns olhos brilhantes / Como são os olhos dela!”. Agora confira como ficou o primeiro poema de Machado, que até então assinava apenas com o sobrenome Assis: Por Assis Ângelo (*) Jornalistas escritores: uma história Machado de Assis Seus olhos que brilham tanto, Que prendem tão doce encanto, Que prendem um casto amor Onde com rara beleza, Se esmerou a natureza Com meiguice e com primor. Suas faces purpurinas De rubras cores divinas De mago brilho e condão; Meigas faces que harmonia Inspira em doce poesia Ao meu terno coração! Sua boca meiga e breve, Onde um sorriso de leve Com doçura se desliza, Ornando purpúrea cor, Celestes lábios de amor Que com neve se harmoniza. Com sua boca mimosa Solta voz harmoniosa Que inspira ardente paixão, Dos lábios de Querubim Eu quisera ouvir um sim − Para alívio do coração! Vem, ó anjo de candura, Fazer a dita, a ventura De minh’alma, sem vigor; Donzela, vem dar-lhe alento, Faz-lhe gozar teu portento, “Dá-lhe um suspiro de amor!”
Edição 1.471 página 3 Esse poema, intitulado simplesmente Ela, foi publicado originalmente no jornal A Marmota, edição de 25 de janeiro de 1855. Narciza Amália de Campos nasceu em São João da Barra (RJ) no dia 3 de abril de 1852. Casou-se muito cedo com um ator andarilho. Tinha 14 anos de idade. Não deu certo e separou-se cinco anos depois. Casou-se de novo e de novo não deu certo. O cara era comerciante e muito fela da mãe, pois gritava e ameaçava bater nela. Aos gritos. Narciza era filha de um poeta e de uma professora do primário. Estudou latim e francês. Aos 20 anos publicou o seu primeiro e único livro de poemas, intitulado Nebulosas. No poema Porque Sou Forte, dedicado ao amigo Ezequiel Freire, ela escreveu: Dirás que é falso. Não. É certo. Desço Ao fundo d’alma toda vez que hesito... Cada vez que uma lágrima ou que um grito Trai-me a angústia − ao sentir que desfaleço... E toda assombro, toda amor, confesso, O limiar desse país bendito Cruzo: − aguardam-me as festas do infinito! O horror da vida, deslumbrada, esqueço! É que há dentro vales, céus, alturas, Que o olhar do mundo não macula, a terna Lua, flores, queridas criaturas, E soa em cada moita, em cada gruta, A sinfonia da paixão eterna!... − E eis-me de novo forte para a luta. O livro Nebulosas foi bem recebido pela crítica da época. Até Machado de Assis, já um tanto famoso, teceu loas à poeta, que tinha por hábito promover saraus na sua casa. Numa ocasião, o imperador Pedro II não se fez de rogado e lá esteve. Como Machado, Narciza atuou com profissionalismo na imprensa brasileira. Foi a nossa primeira jornalista de que se tem notícia. (*) Jornalista, escritor, compositor, pesquisador e estudioso da cultura popular. Teve passagens por O Norte, de João Pessoa, A União, Correio da Paraíba e Diário do Agreste, em Pernambuco. Em 1976 mudou-se para a capital de São Paulo onde trabalhou em diversos jornais, entre eles Folha de S.Paulo, Diário Popular e Estadão, além das TVs Abril Vídeo, Manchete e Globo. Tem diversas obras publicadas sobre cultura popular e cantores/compositores brasileiros. Colunista de J&Cia desde 2011, ficou cego dois anos depois. Narciza Amália Assis Ângelo
Edição 1.471 página 4 Escreveu em jornais e revistas, como Leitura, A Imprensa e A República. Era dinâmica, atualizada, inteligentíssima e radicalmente contra o sistema escravocrata. Em 1884, Narciza fundou e dirigiu o jornal quinzenal Gazetinha, que tinha como subtítulo “folha dedicada ao belo sexo” (1880-1883). No rastro dessa jornalista surgiram outras mulheres de fibra, como Maria Clara da Cunha Santos (18661911). Era natural de Pelotas (RS) e também abolicionista de primeiríssima hora, como seu marido, engenheiro José Américo dos Santos. Publicou livros de contos e poesia. Escrevia em vários jornais e revistas, como A Mensageira, Gazeta de Notícias, O Paiz, A Semana, Tribuna Liberal, Correio da Tarde e Jornal do Brasil. Mais: dedicava-se também à música e às artes plásticas. Como Maria Clara, fizeram história Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) e Presciliana Duarte de Almeida (1867-1944). Essa Presciliana era prima de Júlia Lopes e fundadora da revista A Mensageira. Essa publicação foi inaugurada em outubro de 1897 e durou até janeiro de 1900. No total foram impressos 36 números. Nasceu e findou-se circulando na capital paulista. A prima de Presciliana publicou quase 60 livros. Entre eles A Falência, A Viúva de Simões e A Intrusa. Morreu vítima de malária, adquirida na África em 1934. Houve um cara chamado Humberto de Campos (1886-1934) que andou dizendo e escrevendo que o poeta Mário de Alencar (1872-1925) era fruto de uma pulada de cerca de Machado de Assis. Detalhe nessa história é que Mário nunca desmentiu Humberto. A mulher de Machado, Carolina, era estéril. Minha amiga, meu amigo, você sabe quem foi José Martiniano de Alencar? Antes de mais nada, digo: esse Martiniano foi abolido do nome completo de José de Alencar. Meu amigo, minha amiga, você sabe quantos livros o cearense José de Alencar publicou? Minha amiga, meu amigo, você sabe que José de Alencar formouse pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo? Mais: você sabia que o escritor José de Alencar foi deputado mais de uma vez pelo Ceará? E que só não foi senador porque Pedro II impediu? E, diga-se de passagem, que o escritor e político José de Alencar foi também ministro da Justiça, independentemente do gosto do Imperador? Por fim, pergunto: você sabia que José de Alencar era filho de um padre? E que o seu segundo livro, O Guarani, ganhou versão operística pelas mãos e sensibilidade do maestro paulista Antonio Carlos Gomes (1836-1896)? José de Alencar nasceu em 1829. Machado de Assis nasceu em 1839. José e Machado eram amigos e respeitavam-se mutuamente. Em 1855, o jornal Gazeta Mercantil censurou um texto de José de Alencar. Completamente puto, Alencar chutou o pau da barraca e partiu para comprar o jornal Diário do Rio de Janeiro. Comprou. Agora como dono de jornal, José de Alencar começou a publicar uma série de textos intitulada Cinco Minutos. Em 1856, Alencar juntou os textos publicados na forma de folhetim e, assim, lançou o seu primeiro livro: A Viuvinha. Presciliana Duarte Ópera O Guarani
Edição 1.471 página 5 No total, José de Alencar publicou 61 livros. Machado de Assis também publicou 61 livros, entre os quais dez romances e dez peças de teatro. Uma das peças de Machado, Tu Só, Tu, Puro Amor... (1880), falava de Luís de Camões, autor de Os Lusíadas. No total são seis personagens: Camões, Antônio de Lima, Caminha, D. Manuel de Portugal, D. Catarina de Ataíde e D. Francisca de Aragão. Catarina vem a ser a mulher que por pouco, muito pouco, não ganhou o coração do poeta. A peça, uma comédia, tem um ritmo dinâmico. Já quase no fim, escreveu Machado: D. MANUEL − Confiai em mim, nos meus amigos, nos vossos amigos. Irei ter com eles; induzi-los-ei a.... CAMÕES − A quê? A mortificarem um camareiromor, a fim de servir um triste escudeiro que já estará a caminho de África? D. MANUEL − Ides à África? CAMÕES − Pode ser; sinto umas tonteiras africanas. Pois que me fecham a porta dos amores, abrirei eu mesmo as da guerra. Irei lá pelejar, ou não sei se morrer... África, disse eu? Pode ser que Ásia também, ou Ásia só; o que me der na imaginação… O autor de Os Lusíadas passou bom tempo na Índia, onde escreveu as primeiras estrofes do seu mais famoso poema, que seria publicado em Portugal em 1572. Em 1880, quando Tu Só, Tu, Puro Amor... foi feita, aqui e acolá houve quem lembrasse dos 300 anos da morte do grande poeta. Falamos a língua portuguesa. Herança antiga, não é mesmo? Em 1856, no Brasil, a maranhense Maria Firmina dos Reis (1822-1917) publicou o primeiro romance escrito por mulher: Úrsula. Detalhe nessa história é que a primeira edição de Úrsula não trazia o nome da autora e, sim, simplesmente “Uma Maranhense”. Curiosidade: a primeira Lei do Divórcio, no Brasil, data do século 19. Meu amigo, minha amiga: essa lei aprovada na época pelo Senado era mais favorável ao homem do que à mulher. Pedro II não publicou livro nenhum, mas publicou com pseudônimos muitos textos em jornais do seu tempo. Meio idiota, não? José de Alencar foi vítima desse Pedro e por isso deixou de ocupar uma cadeira no Senado. Houve dezenas, centenas de jornais editados no Brasil Império, de Norte a Sul. O primeiro jornal escrito e publicado no Brasil, já falamos, foi A Gazeta do Rio de Janeiro (1808). Um dos últimos no Império foi A Cidade do Rio (18871902), fundado e editado pelo escritor e abolicionista José do Patrocínio (1854-1905). Foi o jornal de Patrocínio o marco da carreira profissional do repórter João do Rio (1881-1921). O fim do jornal A Cidade do Rio deveu-se ao bombardeio provocado pelo escroto presidente alagoano Floriano Peixoto (1839-1895). Bombardeio, entenda-se: perseguição, agressão e todo tipo de ataque. Antes desse jornal, Patrocínio fundou o quinzenal Os Ferrões. Com cerca de 30 páginas, esse jornal circulou entre junho e outubro de 1875. José do Patrocínio, filho de um padre e de uma menina de 13 anos, deixou uma obra exemplar. Fez coisas incríveis. Dedicou-se à luta pela liberdade do povo que tão bem representava: o negro. O pensamento de Patrocínio se acha em alguns de seus livros: Os Retirantes, Mota Coqueiro ou a Pena de Morte e Pedro Espanhol. Na verdade, foram esses os três únicos romances que o autor publicou. Meu amigo, minha amiga, o que é que você sabe sobre João do Rio? Da mesma maneira que Narciza Amália de Campos foi a primeira mulher jornalista do Brasil, João foi o primeiro repórter da imprensa brasileira.
Edição 1.471 página 6 Esse João não era besta, não. Esse João era baixo, gordo, preto e homossexual. Esse João tinha tudo pra ser nada. Patrocínio, de quem falamos a pouco, sabia disso. Sabia tanto que o contratou. João do Rio andou pela França e por um monte de outros países. Gostavam dele em Portugal e na Argentina. Em Paris, num ano qualquer, João conheceu a bailarina Isadora Duncan (1877-1927). Duncan, no Rio, teve como cicerone o João que ela conhecera na chamada Cidade Luz. As bocas que dizem besteiras disseram que João e Duncan tiveram um caso amoroso. Hummm… Curioso… João do Rio foi o mais jovem integrante da Academia Brasileira de Letras, a ABL. Tinha 29 anos. Machado de Assis não moveu um músculo sequer para fazer de João um acadêmico. A mãe de João, que tanto amava o filho, chegou a ir à casa do Machado para interceder no sentido de transformar João num acadêmico. Não colou. Depois da primeira tentativa, houve a segunda. E foi nessa segunda tentativa que João entrou para a ABL. João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, pseudônimo João do Rio, deixou 25 livros publicados. Entre eles No tempo de Wenceslau, As Religiões do Rio, A Alma Encantadora das Ruas e A Mulher e os Espelhos. Ah! Sim: alguns livros de João do Rio foram publicados primeiramente em francês e espanhol, depois em português. João falava algumas línguas, tanto que chegou a traduzir livros do poeta inglês Oscar Wilde (18541900). No natural do tempo chegado ou passado muita coisa houve. Personagens incríveis, de paz e guerra. Há um livro intitulado Batalhas Brasileiras, de Hernâni Donato (19222012), que conta o dia a dia brasileiro. Nada ou muito pouco a ver com o que dizia o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) sobre a cordialidade do homem brasileiro. Ele foi vendido pelo próprio pai. Tinha 10 anos de idade. A mãe africana, Luísa Mahin, sofreu, sofreu. África. Luiz Gama (1830-1882) marcou profundamente a vida brasileira no campo do jornalismo e da poesia. Fundou jornais e revistas no Rio e em São Paulo. É de Gama o livro Primeiras Trovas Burlescas de Getulino (1861), em que se acha o poema Minha Mãe, feito com base no mote de Junqueira Freire. Este: João do Rio Livro de Oscar Wilde traduzido por João do Rio
Edição 1.471 página 7 Meu amigo, minha amiga, você já ouviu falar de uma mulher chamada Pagu? Patrícia Galvão nasceu em 1910, em São Paulo. Era metida. Procurava estar onde, por uma razão qualquer, as mulheres não estavam. Pois, pois, era quem era. Não tinha medo de nada. Nem da noite, nem dos bares cheios de álcool e de pessoas perdidas. Virou jornalista, escrevendo para jornais diversos. Antes, bem antes, participou de encontros com Carlos Prestes. Na casa dele. Virou comunista de carteirinha. Essa ideologia, porém, ela abandonou em 1940. O PC a perseguiu, depois disso. Pagu foi presa em vários momentos, inclusive no exterior. Escapou de Hitler por um triz, pois se não fosse a intervenção do embaixador Souza Dantas… Não demorou muito, essa Patrícia amoleceu o coração do jornalista e poeta paulista Oswald de Andrade (1890-1954). O coração de Oswald foi destroçado por Patrícia ali pelo ano de 1925. Em 26, os dois casaram-se no cemitério da Consolação, na capital paulista. A solenidade em si provocou curiosidade e estranheza, mesmo assim não foram poucos os amigos do casal a comparecerem ao dito cemitério. Oswald de Andrade morreu no ano do 4º Centenário de São Paulo. Ah! Sim: não custa dizer que Oswald separou-se da artista plástica Tarsila do Amaral (1886-1973) para casar-se com Patrícia, que recebeu o apelido do escritor Raul Bopp (1898-1984). Pagu andou viajando mundo afora. Esteve em Rússia, EUA, França, China, Japão. Na Rússia, Pagu decepcionou-se com o governo comunista. Lá ela viu cenas de miséria chocantes. Da China, trouxe sementes de soja que até então não se plantava no Brasil. Foi uma vida intensa a de Pagu. Enquanto esteve no exterior, entrevistava figurões, como o último imperador da China, Pu-Yi (1906-1967). Até o psicanalista tcheco Sigmund Freud (18561939) ela entrevistou. Suas entrevistas e artigos foram todos publicados em jornais brasileiros, como correspondente. Não custa dizer também que Oswald e Pagu criaram o jornal O Homem do Povo, em 1931. No correr da vida, Pagu andou publicando textos diversos em jornais e revistas, como Detective, editada pelo jornalista e dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues (1912-1980). Nessa revista, publicou nove contos, entre junho e dezembro de 1944. Anos depois, esses contos viraram livro, com o título Safra Macabra. Detalhe: esses contos, escritos no gênero policial, tinham como personagem central o detetive Cassira A. Ducrot. Foram assinados com o pseudônimo de King Shelter. Patrícia Galvão tentou suicídio em três ocasiões diferentes, mas acabou sucumbindo vítima de câncer no dia 12 de dezembro de 1962, aos 52 anos de idade. O último texto de Pagu foi um poema, publicado no jornal A Tribuna, de Santos (SP). Este: Minha mãe era mui bela, – Eu me lembro tanto dela De tudo quanto era seu! Tenho em meu peito guardadas Suas palavras sagradas C’os risos que ela me deu. (Junqueira Freire) Era mui bela e formosa, Era a mais linda pretinha, Da adusta Líbia rainha, E no Brasil pobre escrava! Oh, que saudades que eu tenho Dos seus mimosos carinhos, Quando c’os tenros filhinhos Ela sorrindo brincava. Éramos dois – seus cuidados, Sonhos de sua alma bela; Ela a palmeira singela, Na fulva areia nascida. Nos roliços braços de ébano. De amor o fruto apertava, E à nossa boca juntava Um beijo seu, que era a vida, Quando o prazer entreabria Seus lábios de roxo lírio, Ela fingia o martírio Nas trevas da solidão. Os alvos dentes nevados. Da liberdade eram mito, No rosto a dor do aflito, Negra a cor da escravidão. Pagu
Edição 1.471 página 8 No século 19 eram poucas as mulheres que atuavam em jornais e revistas. No século 20, o número de mulheres trabalhando em jornais e revistas já era muito expressivo. No século atual, 21, o número de mulheres trabalhando em jornais e revistas já é bem maior do que o de homens. Algo em torno de 60%. Grandes nomes do cotidiano brasileiro saíram das páginas de jornais e revistas, entre esses, além dos já citados, Rui Barbosa (1849-1923). Rui destacou-se na política e no jornalismo. Chegou a ocupar o cargo de ministro da Fazenda e da Justiça no início do Brasil República. Além de livros publicados, como Oração aos Moços (1921), Rui foi redator-chefe do Jornal do Brasil e correspondente do Jornal do Comércio na Inglaterra, onde se achava exilado. O século 20 começou com jornais e revistas se multiplicando Brasil afora. Já no final dos anos 20, mais precisamente em novembro de 1928, o paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1892-1968) comprou o título da revista O Cruzeiro. Essa revista, a primeira de circulação nacional, foi originalmente fundada pelo português Carlos Malheiro Dias (1875-1941). A princípio, era impressa na Argentina. Chatô, como Chateaubriand era conhecido, deixou vários livros, reunindo artigos que publicava na sua rede de jornais. Entre esses livros Alemanha, Impressões de Viagem, Terra Desumana, A Vocação Revolucionária do Presidente Artur Bernardes e Aquarela do Brasil. Outra figura de destaque nacional foi o poeta de Campinas Menotti Del Picchia (1892-1988). Estudou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e no jornalismo começou fundando e editando os jornais Cidade de Itapira e O Grito. Na capital paulista foi redator de vários jornais, entre os quais A Gazeta e o Correio Paulistano. Trabalhou também nos jornais A Noite, São Paulo e Brasil Novo. São de Menotti os livros Poemas do Vício e da Virtude (1913), A Mulher Que Pecou (1922) e O Deus Sem Rosto (1968). O livro clássico de Menotti é Juca Mulato (1917). Conta a história de um cidadão preto que se apaixona perdidamente por uma mulher branca. Amor impossível. Curiosidade: Menotti transformou-se em soldado Nada nada nada Nada mais do que nada Porque vocês querem que exista apenas o nada Pois existe o só nada Um pára-brisa partido uma perna quebrada O nada Fisionomias massacradas Tipoias em meus amigos Portas arrombadas Abertas para o nada Um choro de criança Uma lágrima de mulher à-toa Que quer dizer nada Um quarto meio escuro Com um abajur quebrado Meninas que dançavam Que conversavam Nada Um copo de conhaque Um teatro Um precipício Talvez o precipício queira dizer nada Uma carteirinha de travel’s check Uma partida for two nada Trouxeram-me camélias brancas e vermelhas Uma linda criança sorriu-me quando eu a abraçava Um cão rosnava na minha estrada Um papagaio falava coisas tão engraçadas Pastorinhas entraram em meu caminho Num samba morenamente cadenciado Abri o meu abraço aos amigos de sempre Poetas compareceram Alguns escritores Gente de teatro Birutas no aeroporto E nada. (Nothing) Assis Chateaubriand
Edição 1.471 página 9 e foi a campo lutar a favor de São Paulo e contra o governo Vargas, em 1932, quando eclodiu a Revolução Constitucionalista. A conclusão dessa história é que o poeta acabou exilado em Portugal. Revistas e jornais continuaram se multiplicando no território nacional depois de 1930. Foi nesse período de 30 que as emissoras de rádio começaram a ganhar notoriedade e admiração. A Rádio Nacional foi a maior dentre todas até a metade dos anos 1940. Essa emissora tinha programas especiais e artistas como Chico Alves (1898-1952) e Luiz Gonzaga (1912-1989). Em 1950, o mesmo Chatô da revista O Cruzeiro trazia para o Brasil a grande novidade: a televisão. E aí foram chegando revistas como Veja, Realidade, IstoÉ, Época, enquanto leitores abraçavam o Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo, O Globo e outros mais das capitais. O século 21 chegou fechando jornais e revistas, como O Norte (PB), Gazeta Mercantil (SP), Diário Popular (SP), Jornal da Tarde (SP), O Estado do Paraná (PR), Jornal do Comércio (SP). A profissão de jornalista foi regulamentada em 1969, através da lei Nº 972. Muitos profissionais da imprensa brasileira marcaram época. Alguns já partiram como Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana, Millôr Fernandes, Hélio Fernandes, Audálio Dantas, Jô Soares, Vladimir Herzog, Paulo Francis, Severino Ramos, Austregésilo de Athayde, Graciliano Ramos, Alberto Dines, Rubem Fonseca, Carlos Heitor Cony, Clarisse Lispector, Cecília Meirelles, Fernando Sabino, Rubem Braga, Nélida Piñon, Torrieri Guimarães, José Ramos Tinhorão, Barão de Itararé (Aparício Torelly)... Continuam produzindo e dando o ar da graça Pedro Bial, Miriam Leitão, Caco Barcelos, José Nêumanne Pinto, Luís Fernando Veríssimo, Eliane Brum, Xico Sá, Patrícia Campos Mello, Ana Maria Machado, Fábio Pannunzio, Fernando Coelho, Luciano Martins Costa, Ignácio de Loyola Brandão, Reinaldo Azevedo, Heródoto Barbeiro, Flávio Tiné, Woyle Guimarães, Evandro Nóbrega (poliglota desde o chinês), José Hamilton Ribeiro, Marco Antonio Zanfra, Oswaldo Mendes, Moacir Maia, Oswaldo Faustino, Geraldo Nunes, Fernando Mitre, Elio Gaspari, Marçal Aquino… Pois bem, a jornalista e escritora Narciza Amália de Campos morreu esquecida, pobre, cega e paralítica no dia 24 de junho de 1924. Seu corpo foi sepultado no cemitério São João Batista no Rio. O Dia Nacional do Escritor é comemorado no dia 25 de julho, desde 1960. Assis Ângelo com livros de jornalistas escritores
Edição 1.471 página 10 Últimas n Na tarde amena do último dia 4 de julho, uma quinta-feira, de passagem por São Paulo para cuidar de assuntos pessoais e participar do lançamento da nova edição de O Gosto da Guerra (Companhia das Letras) na Feira do Livro, no Pacaembu, e da exposição de mesmo nome, no Museu da Imagem e do Som – MIS, que permanecerá em cartaz até sexta-feira (26/7), com entrada gratuita, José Hamilton Ribeiro recebeu para uma rápida prosa os editores deste J&Cia Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli. u O encontro aconteceu no Edifício Alabastro, no bairro da Aclimação, um bucólico condomínio com quatro prédios dotado de um pequeno bosque que dá à paisagem um aspecto de natureza até certo ponto incomum na cidade. Uma espécie de refúgio urbano, onde hoje mora a filha Ana Lúcia Ribeiro, e que, antes, foi por décadas a casa do próprio Zé. u A esta altura, porém, ele já está de volta ao seu refúgio rural, em Forquilha, MG, na fazenda onde vive em companhia de pássaros, do gado leiteiro, e de boas companhias humanas, como a sobrinha que o ajuda na lida do dia a dia, o leiteiro Carlos Irineu e o vizinho violeiro Júnior Borges. u “Soubemos da vinda do Zé Hamilton para São Paulo, para participar do lançamento do livro e da exposição de O Gosto da Guerra, e não podíamos perder a chance de rever nosso mestre e inspirador, que, quase três décadas e meia atrás, em 1991, teve a ideia de criar no renovado jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, que ele mesmo dirigiu por um período, uma coluna para falar dos coleguinhas”, diz o diretor Eduardo Ribeiro. “A ela deu o nome de Moagem e a mim determinou que a fizesse”, complementa, lembrando a origem de Jornalistas&Cia, que nasceu com o nome de FaxMOAGEM, exatamente em alusão à coluna feita para o jornal do Sindicato e que foi publicada por cerca de 25 anos. u “Patrono involuntário dessa nossa jornada, que completará 29 anos em setembro, Zé Hamilton liderou por algumas edições, tantos foram os prêmios que amealhou no Brasil e mundo afora, o Ranking dos +Premiados Jornalistas Brasileiros, que criamos no J&Cia para valorizar o trabalho dos jornalistas brasileiros”, diz o editor executivo Wilson Baroncelli. u Aos 89 anos, Zé Hamilton continua adorando uma boa prosa, uma boa leitura e uma vida simples, características que, ao lado do talento e da dedicação ao seu ofício e aos seus colegas de profissão, fizeram dele um dos gigantes da imprensa brasileira. n O Grupo Lance anunciou que Paulo Gamine, seu chief financial officer (CFO), agora acumula a função de CEO. Ele substitui a Rafael Kaczala, que deixa a casa após um ano de reorganização da empresa, em que aumentou audiência no site, interações nas redes e videoviews em canais novos. u Formado em Engenharia de Produção pelo Cefet-RJ, e em Economia pela Uerj, Gamine tem MBA em Gestão pela PUC-Rio. Trabalhou por duas vezes no Club de Regatas Vasco da Gama, seu time de coração; em 2018, foi VP de Gestão Estratégica e, em 2023, VP Financeiro. Esteve na Michelin, tanto na França como nos Estados Unidos, e foi deputado federal. u Ganime revela os planos para a criação de um núcleo para desenvolvimento de criadores de diferentes modalidades esportivas: “Este projeto já está em andamento, e irá impactar a nossa entrega e proporcionar uma nova maneira de chegar ao público do Lance”. Grupo Lance anuncia novo CEO Paulo Gamine Criador e criatura − Uma visita ao inspirador deste J&Cia Wilson Baroncelli (com o volume encadernado do jornal Unidade, onde nasceu a coluna MOAGEM), Zé Hamilton e EduRibeiro (com o volume encadernado das primeiras cem edições do FaxMOAGEM e com o livro O Gosto da Guerra, já então devidamente autografado pelo autor). A foto é de Ana Lúcia Ribeiro. n Abraji, Jeduca, RSF, IVH e Fenaj emitiram em 24/7 nota conjunta para manifestar repúdio ao pedido de arquivamento da ação que investiga a agressão aos jornalistas Renata Cafardo e Tiago Queiroz, do Estadão. u Eles cobriam a tragédia em São Sebastião no ano passado quando foram alvo de ataques enquanto registravam o alagamento em um condomínio de luxo em Maresias. Ambos foram agredidos verbalmente, Renata foi empurrada e Tiago foi obrigado a apagar as fotos. u É importante destacar que a investigação policial, depois de um ano e meio do ocorrido, sequer ouviu dois dos principais acusados. Mesmo assim, Renato Gonçalves Azevedo, promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, pede o arquivamento e diz que “as declarações das vítimas não permitem a conclusão segura sobre as reais circunstâncias dos fatos criminosos”. Confira a íntegra da nota. Entidades repudiam pedido de arquivamento de caso de agressão a jornalistas do Estadão
Edição 1.471 página 11 Nacionais n A Record TV demitiu a repórter Renata Varandas, responsável pela cobertura política em Brasília, após ela vazar para o mercado financeiro partes de uma entrevista que fez com o presidente Lula antes de ir ao ar, em 16/7, no Jornal da Record. As informações são de Gabriel Vaquer, do F5 (Folha de S.Paulo). u Varandas entrevistou Lula em 16/7, por volta das 9h30, no Palácio do Planalto. A entrevista foi exibida na íntegra no Jornal da Record, por volta das 20h, e trechos da conversa foram publicados pelo portal R7 ao longo do dia. Porém, antes da entrevista ir ao ar no Jornal da Record, a BGC Liquidez DTVM Ltda publicou um comunicado com informações ditas por Lula na entrevista com Varandas. O texto foi atribuído à Capital Advice, agência de análise política para investidores e gestores financeiros, da qual Varandas é sócia. u Ela foi afastada no dia seguinte do ocorrido e a demissão ocorreu em 18 de julho. Procurada pela reportagem do F5, a emissora confirmou a saída de Varandas: “A Record informa o desligamento da repórter Renata Varandas, que, a partir desta quinta-feira (18/7/2024), não faz mais parte da equipe de jornalismo da emissora”. u O F5 também procurou a jornalista, mas não obteve retorno. Na Record, além de repórter de Política, Varandas apresentava o Jornal da Record quando a titular Christina Lemos não estava. n A Procuradoria Geral da República (PGR) enviou manifestação ao Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando a abertura de uma investigação e o bloqueio das contas do blogueiro Allan dos Santos por disseminação de informações falsas. u O caso envolve uma publicação do blogueiro nas redes sociais, em que ele teria compartilhado uma captura de tela falsa com mensagens manipuladas atribuídas a Juliana Dal Piva, diretora da Abraji e colunista do ICL Notícias. A divulgação desses prints gerou diversos ataques de seus seguidores contra a jornalista. O pedido foi feito pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, atendendo a solicitação de investigação dos advogados de Dal Piva. u Considerado foragido pela Justiça brasileira e refugiado nos EUA, Allan já teve suas contas bloqueadas nas plataformas digitais em 2021, por decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes, sob a acusação de usá-las para promover atos antidemocráticos. u O coletivo Mulheres Jornalistas pela Democracia publicou um manifesto em solidariedade a Juliana. No texto, afirma que o ato de assédio contra a profissional não ataca apenas a comunicadora, mas também “o trabalho da imprensa brasileira comprometida com a democracia e com o jornalismo de qualidade”. n O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, comprometeu-se a priorizar a criação de uma lei para combater o assédio judicial a jornalistas e ativistas. A decisão foi anunciada durante o 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). u No evento, Pacheco participou de uma mesa de entrevista com jornalistas brasileiros e estrangeiros. Na conversa, Katia Brembatti, presidente da Abraji, apresentou o Monitor de Assédio Judicial Contra Jornalistas, desenvolvido pela entidade, que identificou 654 ações judiciais movidas contra jornalistas no Brasil de 2008 a 2024. Também estiveram presentes no evento Bruno Brandão (Transparência Internacional − Brasil), João Paulo Batalha (Associação Portuguesa Frente Cívica), Matthew Caruana (Fundação Daphne Caruana Galizia), Sedrick de Carvalho (jornalista e ativista angolano) e Mery Rodrigues (Transparência Internacional − Moçambique). Após ataques a Juliana Dal Piva, PGR defende nova investigação contra Allan dos Santos Allan dos Santos Reprodução/TV Senado Record demite repórter por vazar entrevista com Lula antes de ir ao ar Lula e Renata Varandas durante entrevista Jornal da Record/YouTube Rodrigo Pacheco se compromete a priorizar lei contra assédio judicial a jornalistas Rodrigo Pacheco Construir vínculos e inspirar as pessoas: é para isso que existimos.
Edição 1.471 página 12 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. Sob pressão máxima do Partido Conservador britânico sobretudo nos últimos cinco anos, alvo de uma caça às bruxas insuflada por Boris Johnson, a BBC respirou aliviada após a vitória dos Trabalhistas nas eleições de 4 de julho. Mas os mares ainda não estão tranquilos. O relatório anual da corporação, publicado em 23/7, traz resultados que deverão influenciar o futuro da rede pública e de seus profissionais. Pelo menos 500 deles serão cortados, diante de uma queda acentuada no número de pessoas que pagam a taxa anual para assistir aos canais da rede e do recuo em outras fontes de receita. Em 2023, 500 mil domicílios cancelaram a taxa, reduzindo o número de pagantes para 23,9 milhões de pessoas em dezembro. A receita da BBC caiu quase um terço desde 2010. Isso significa 1 bilhão de libras a menos por ano. O press release que apresenta o relatório abre com um número que tenta valorizar a relação familiar dos britânicos com a “Auntie Beeb”: 95% dos adultos do país vêem a BBC em média uma vez por mês. Uma lupa sobre os dados revela a perda da audiência jovem, problema que não é exclusivo da BBC. Pessoas de faixas etárias mais baixas consomem notícias e entretenimento em redes sociais em escala cada vez maior, como demonstram pesquisas como o Digital News Report do Instituto Reuters. Embora a BBC tenha destacado que 1,3 milhões de jovens de 12 a 15 anos no Reino Unido acompanham as notícias por ela – mais do que por qualquer outra organização − a rede não está imune ao distanciamento desse público. O relatório informa que apenas 69% dos britânicos com menos de 16 anos assistem aos seus programas pelo menos uma vez por semana. Entre as crianças o quadro é ainda pior. Por isso, a BBC promete “acelerar o ritmo da mudança para aumentar relevância e valor”. Traduzindo: mais foco em produtos digitais do que em transmissão tradicional. A constatação de que os britânicos jovens podem viver sem a BBC, algo impensável no passado, é um golpe para quem tenta justificar a manutenção dos mesmos sistemas de financiamento que funcionam desde a época em que ela reinava praticamente sozinha no seletor de canais. A taxa é obrigatória, e não pagá-la pode dar cadeia. Não é só intimidação: há pessoas que realmente vão presas por esse crime no Reino Unido. É uma prática controvertida, pois baseia-se no entendimento de que, havendo uma TV na BBC enfrenta os desafios de um ecossistema transformado pelo digital residência, alguém está sintonizando a BBC. Nada mais anacrônico em tempos de Netflix, Amazon Prime e outros canais de streaming. O contrato da BBC com o governo que rege o financiamento será renegociado em 2027. O novo primeiro- -ministro, Keir Starmer, deu declarações favoráveis à manutenção da taxa, que o Partido Conservador queria derrubar e lançar a BBC às feras do mercado depois que a rede passou a ser criticada por sua suposta falta de imparcialidade e inclinação para os Trabalhistas. Mas não necessariamente da mesma forma atual. Nessa guerra, o jornalismo está perdendo. Noticiários da BBC ficaram visivelmente mais cautelosos do que eram há cinco anos, privilegiando pautas leves e de comportamento que não causam controvérsia nas redes sociais e nos círculos políticos. Mas nem precisa, porque controvérsia na BBC não falta. Duas delas emergiram do relatório. Gary Lineker, o ex-jogador de futebol que apresenta o programa esportivo Match Of The Day, segue como o mais bem pago da rede − sem contar talentos contratados por produtoras cujos salários a emissora não é obrigada a divulgar. Ele é um rebelde que não aceitou o enquadramento de não falar de política nas redes sociais, colocando mais lenha na fogueira da imparcialidade. O mais bem pago no jornalismo da TV também foi motivo de comentários. Huw Edwards, o âncora que caiu em desgraça depois de um escândalo há um ano, envolvendo compra de fotos nude de uma pessoa jovem, deixou a rede em abril. Mas apesar de ter passado todo esse tempo em licença, levou para casa 475 mil libras no ano, valor maior do que no exercício anterior. Não deve ser culpa da BBC, e sim de cláusulas contratuais e trabalhistas. No entanto, trata-se de um exemplo típico de outras questões que envolvem a rede. Mesmo quando ela não pode fazer nada, leva a culpa. O relatório completo pode ser visto em MediaTalks.
Edição 1.471 página 13 conitnuação - MediaTalks O peso da saúde − A lista de ameaças a jornalistas ganhou um ingrediente inusitado: o renomado crítico gastronômico Pete Wells, do New York Times, anunciou que está deixando o cobiçado posto de experimentar pratos em alguns dos melhores restaurantes do mundo e ainda ser pago por isso após um checape que trouxe más notícias sobre a sua saúde. Em um texto assinado no jornal, ele disse que os exames feitos no início deste ano, mostrando que que tudo estava ruim – colesterol, pressão, peso –, fizeram soar o alarme de que era hora de parar depois de 12 anos: “Decidi me aposentar tão graciosamente quanto meu estado de obesidade técnica permitir”. Wells, que chefia a crítica gastronômica do jornal, relatou que no momento da consulta com o médico já havia visitado cerca de 140 restaurantes este ano, como parte da pesquisa para a edição dos 100 melhores restaurantes da cidade de Nova York. Eventos extremos − Quando as alterações do clima estão nas manchetes, muitas vezes são causadas por eventos climáticos extremos como furacões, ondas de calor ou inundações. E a julgar pelas matérias ambientais mais lidas na última década, os eventos meteorológicos extremos são realmente uma das principais formas pelas quais o público aprende sobre o colapso climático. O filme Twisters é um remake do filme de 1996 com um “s” adicionado. Simon Dickinson, da Universidade de Plymouth, diz que o fato de Hollywood ter encomendado um remake é mais uma prova de que “as pessoas são fascinadas pelas condições meteorológicas extremas e pela devastação que elas podem causar”. Soneca de abelhas − A Real Sociedade de Entomologia britânica apresentou os vencedores de seu concurso anual de fotos de insetos, dando a vitória a uma cena raramente capturada: duas abelhas dormindo ao amanhecer, ainda cobertas por gotas de orvalho. Luke Chambers, autor do clique, disse que “encontrar qualquer invertebrado dormindo é sempre maravilhoso, mas dois tão próximos um do outro foi como ganhar na loteria da fotografia!” O concurso de fotografia de insetos da Sociedade de Entomologia escolheu também imagens de outras espécies minúsculas, cujas formas e belezas nem sempre são percebidas, incluindo algumas que não são tão amadas, como vespas e larvas. Protestos por Evan − Em meio a rumores de que a condenação do repórter americano Evan Gershkovich por um tribunal russo a 16 anos de cadeia poderia acelerar uma possível troca de prisioneiros com os EUA, a Casa Branca emitiu um comunicado assinado pelo presidente Joe Biden afirmando que levá-lo de volta (e também a outro preso na Rússia) é prioridade de sua administração. O repórter do Wall Street Journal foi detido em março de 2023 na região dos Montes Urais, durante uma viagem para fazer reportagens sobre o complexo militar russo, e acusado de espionagem para os EUA apesar de estar credenciado como jornalista. A sentença, que deverá ser cumprida em uma colônia penal, foi anunciada em 19/7, após um julgamento a portas fechadas no Tribunal Regional de Sverdlovsk em Yekaterinburg, a cerca de 1,4 mil km de Moscou. Bodyshaming − Um tribunal de Milão condenou a jornalista Giulia Cortese a pagar uma indenização de 5 mil euros (R$ 30,5 mil) à primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, por zombar da altura dela em uma troca de farpas via Twitter / X em 2021. Meloni, que tem 1,60 m de altura, sentiu-se ofendida por ter sido chamada de “mulherzinha” e ter sua altura mencionada em tom depreciativo: “Você não me assusta, Giorgia Meloni. Afinal, você tem apenas 1 metro e 20 de altura. Eu nem consigo te ver”. A declaração foi considerada pelo juiz como bodyshaming, o ato de envergonhar outra pessoa usando suas características físicas. Ela foi condenada ainda a outra multa por difamação, mas a pena foi suspensa. Esta semana em MediaTalks Luke Chambers A família +Admirados da Imprensa cresceu Quer saber mais? Vinicius Ribeiro – (11) 9.9244.6655
Edição 1.471 página 14 Comunicação Corporativa I CONHECA A NOVA QUE UNE TECNOLOGIA, REDE GLOBAL DE PR I I INOVACAO E CRIATIVIDADE. IDEAL AXICOM. n O segundo turno de votação do TOP Mega Brasil, que definirá os vencedores da edição 2024, vai até domingo, 28 de julho. Estão na disputa 145 agências e 187 executivos, sendo 132 mulheres (quase 70%) e 55 homens. u Desse grupo de finalistas sairão as agências e os executivos TOP 10 Brasil e TOP 5 Regionais, que serão conhecidos na próxima terça-feira, 30 de julho, e que deverão participar da cerimônia de premiação, programada para 28 de agosto, às 19h, na Unibes Cultural, em São Paulo. Nessa ocasião serão conhecidos os três mais votados do País (Pódio Brasil) e os campeões de Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. u Aqui o link de votação: https://acesse.dev/bi8ZS. Cada profissional poderá votar uma única vez. Internacional n Luís Lima, ex-Approach, que está em Aveiro, Portugal, desde março de 2023, onde frilou por 1 ano e 4 meses, começou em atuação remota na função de gestor de tráfego, marketing digital e anúncios online na LLDigital. Anteriormente, no Rio de Janeiro, esteve em Sistema Firjan (4 anos e 4 meses) e Funasa (3 anos e 10 meses). Brasília n Carolina Samorano integrou- -se em abril à Torre Comunicação, como diretora-adjunta. Em passagens anteriores, esteve em Oficina Consultoria (1 ano) e FSB Comunicação (1 ano e 9 meses). Minas Gerais n Daniela Silva Diniz, analista de comunicação corporativa, despediu-se em maio da Usiminas, após uma jornada de quase 21 anos e meio, e em junho começou como analista sênior na Todos Empreendimentos. TOP Mega Brasil encerra votação neste domingo (28/7) Luís Lima Carolina Samorano Daniela Silva Diniz Pará n Neliza Ferraz, que foi por 16 anos head de comunicação corporativa no Grupo Aço Cearense, até abril, está desde maio como gerente de experiência do cliente no Grupo Equatorial Energia. Paraná n Dayane Garcia começou em abril como analista de engajamento e cultura na Sipal Agronegócio. Esteve anteriormente, em cargo semelhante, por 2 anos e meio, na MaderaMadeira. Rio de Janeiro n Ediane Merola está desde abril no time de atendimento da Danthi Comunicação. Ex-repórter de O Globo, onde ficou por mais de 20 anos, foi, por último, durante mais de 5 anos e meio, assessora de comunicação da Prefeitura do Rio de Janeiro. n Rubiana Peixoto, ex-Grupo Endesa, que esteve, depois, por 17 anos na FSB Comunicação, como diretora, despediu-se da agência em maio e desde então passou a atuar como consultora independente. Dayane Garcia Ediane Merola Rubiana Peixoto Neliza Ferraz
Edição 1.471 página 15 conitnuação - Comunicação Corporativa n Fernanda Arechavaleta deixou em abril a Diretoria de Marketing e Reputação da Centauro, em que esteve por quase 1 ano, para assumir a Diretoria de Marketing e Comunicação Latam da Pátria Investimentos. Ela também já liderou as áreas de branding de organizações como Grupo SBF, B3 e Santander. n Alyne Isabelle Souza começou em maio como analista sênior no escritório de advocacia Siqueira Castro. Esteve antes, por 6 meses, na Make Buzz Comunicação e por 2 anos e 3 meses no Grupo Doria. n Andréia Alves Pais começou em fevereiro como especialista em RP na Chilli Beans. Até então, foi por 2 anos e 2 meses executiva sênior na Melina Tavares Comunicação. n Bruna Oliveira, assessora sênior, despediu-se em maio da Pros e seguiu para a consultoria Hug, contratada como analista sênior de RP regional para o atendimento a O Boticário. Ela também já esteve em Soko, Loures e Ketchum. n Carolyne Goethe, gerente de marketing digital, despediu-se em abril da LLYC, agência em que esteve por 1 ano e 10 meses. n Elaine Moreira despediu-se em maio da Ketchum, agência em que atuou por 23 anos, os últimos como VP de negócios e sucesso do cliente. Em texto que publicou no Linkedin, afirmou: “O que levo no coração é a gratidão por ter tido a chance de inspirar e ser inspirada, de ver o brilho nos olhos de quem se sentiu tocado por nosso trabalho. Cada projeto, cada conversa, cada desafio superado (e não foram poucos!) foi uma oportunidade de deixar uma marca positiva, de contribuir para um legado de transformação e inspiração”. n Fernando Jacomini começou em junho na FSB Comunicação, na função de consultor sênior, com foco em think tank e economia digital. Antes, esteve por 2 anos e meio na Loures, que também é parte da grupo FSB Holding, no atendimento a mercado financeiro e educação. São Paulo Fernanda Arechavaleta deixa a Centauro e assume comunicação e marketing da Pátria Fernanda Arechavaleta Alyne Isabelle Souza Andréia Alves Pais Bruna Oliveira Carolyne Goethe Elaine Moreira Fernando Jacomini n Giuliana Nicastro, ex-Index Assessoria, MktMix e TPC Leadership, e que foi head de PR da Press Pass por 2 anos e 4 meses, integrou-se em junho ao time da Pros, na função de gerente de PR. n João Pedro Garcia iniciou em maio nova jornada como head de inovação empresarial e serviços na Align Technololgy. Ali chegou após 14 anos e 2 meses de Philips, organização em que ocupou, por último, a função de head global de marketing digital e e-commerce. n Karolina Carvalho está de volta à Kenvue, companhia em que havia estagiado por 8 meses, em 2023. Retornou em julho, após 7 meses como analista júnior na Cigarra Buzz Agency, agora na função de analista de relações governamentais e public affairs. n Luisa Marques, atendimento pleno na Pros para a conta de O Boticário, deixou a agência em abril, após 3 anos de casa, e foi na sequência para o time de executivos sêniores da Máquina CW. Giuliana Nicastro João Pedro Garcia Karolina Carvalho Luisa Marques
Edição 1.471 página 16 n Roberta Vieira entrou em junho para o time da GBR Comunicação, como atendimento sênior. Esteve anteriormente em Rede Viju de Comunicação, Fato Relevante e Danthi Comunicação. n Thainã Neves começou em julho como coordenadora de PR e comunicação corporativa na ClickBus. Esteve até então, por 1 ano e meio, no time de executivos da another. n Victoria Vianna, que foi redatora na PMK Digital por quase 1 ano e meio, até maio, integrou-se em junho à equipe da A4Holofote, como assessora de imprensa. n Yasmin Alice Lopes, ex-Ketchum, despediu-se em março da NR-7, onde atuou como assistente de RH por 2 anos e 9 meses. Licença-maternidade n Carla Santos, assessora de comunicação na Blue Chip, em São Paulo, colaborando com a agência desde julho de 2021. Dança das contas n A Current Global, que integra o coletivo Weber Shandwick, conquistou a conta da Crunchyroll, plataforma de streaming de filmes, músicas, jogos, eventos, colecionáveis, produtos de consumo e notícias. A direção geral é de Verônica De Zorzi, com apoio dos gerentes de serviços Marcella Costa e Felipe Galassi. n A Growth Comunicações assumiu a comunicação da EAÍ?! Content Experience, especializada em live marketing, e da Lean, agência recifense de publicidade, e também passou a cuidar do posicionamento digital e eventos da Tahto, especializada em soluções de CX e BPO. Outras informações com Naty Sanches (11-99959-5056 e nathalia@ growthcomunicacoes.com.br). conitnuação - Comunicação Corporativa n Mariana Busanelli, ex-EPR, Art Presse e Discovery Inc., em que ficou por 12 anos e 5 meses, deixou em janeiro a Warner Bros. Discovery. Ali estava há 1 ano e 4 meses e era especialista de comunicação. n Mauricio Sacramento, gerente de contas, despediu-se da Edelman em julho, após mais de 3 anos de casa. Entre 2012 e 2018 ele integrou a equipe de assessores da Agência Lema. n Nikolas Cerqueira deixou a FSB Comunicação, onde esteve por 3 anos e meio, até junho, na função de redator, e iniciou nova jornada como analista de marketing na MetLife Brasil. n Rafael Ireno, especialista sênior, deixou o iFood, onde esteve por 2 anos e 7 meses, até julho, e fundou a blackpapers.tech, iniciativa que foca na criação e divulgação de artigos escritos por profissionais pretos e pretas especializados em tecnologia. Mariana Busanelli Mauricio Sacramento Nikolas Cerqueira Rafael Ireno Roberta Vieira Thainã Neves Victoria Vianna Yasmin Alice Lopes Carla Santos
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