Jornalistas&Cia 1469A

Edição 1.469A página 3 ESPECIAL Landell de Moura J&Cia experiência de telefonia sem fios. Agradecemos o convite que nos fez o Revmo. padre Roberto Landell, e compareceremos a essa interessante experiência.” O jornal monarquista O Commercio de São Paulo publicou a notícia com mais detalhes: “A convite do Revmo. Padre Landell de Moura, fomos ontem ao colégio do Coração de Maria, em Santana, para assistirmos às experiências do telefone sem fios, feitas por aquele sacerdote. Na janela de uma sala, no alto do edifício, tem o padre Landell o aparelho, que consiste em um longo tubo, com receptores em cada uma das extremidades, por onde a voz é transmitida, ouvindo-se cantar a grande distância, o que se observa dentro da sala, ou fora dela, a qualquer distância, como tivemos ocasião de apreciar.” As informações geradas pela mídia paulistana ganharam espaço em jornais da capital da jovem República. O Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, divulgou: “O padre Landell de Moura realiza no Colégio das irmãs de São José, no alto de Santana, uma experiência sobre telefonia sem fios, estando convidados para assisti-la diversas autoridades, homens de ciência e representantes da imprensa.” A Imprensa, diário em que Ruy Barbosa era o redatorchefe: “No colégio das irmãs de São José do Alto de Santana, o padre Landell de Moura fará uma experiência particular do aparelho de sua invenção destinado à telefonia sem fios.” Por razões (?) que não se pode explicar, O Estado de S. Paulo, o Correio Paulistano e os cariocas Jornal do Commercio e A Imprensa não divulgaram, no dia seguinte, os resultados do experimento. Mas o Jornal do Brasil, sim, certamente reproduzindo material recebido (e não publicado) de um dos veículos da mídia paulistana. Embora curta, a notícia do JB foi significativa: “As experiências do telefone sem fios, de invenção do padre Landell, tiveram bom êxito. Foram alcançados 3.800 metros. Este aparelho não pode ainda ter aplicação.” Impressiona a conclusão apressada de quem redigiu esse texto. O que se quis dizer sobre que o invento não podia ter aplicação? Que não havia interessados em financiar o desenvolvimento da novidade? Parece certo que não se imaginava, nem por um lampejo, o grandioso futuro da mídia rádio. Também é certo que o descrédito já rondava as invenções do Padre Landell. Por linhas tortas, graças a um texto redigido pelo advogado e jornalista José Vieira Couto de Magalhães Sobrinho, que assinava as suas crônicas em O Commercio de São Paulo como Fabrício Pierrot, sabe-se de detalhes relevantes da experiência wireless, como as primeiras palavras ditas pelo mais primitivo aparelho de rádio do planeta! Pierrot não assistiu ao evento, mas com o que ele ouviu do repórter do jornal aproveitou a oportunidade para ironizar e depreciar a difusão ocorrida entre a colina da rua Voluntários da Pátria e a Ponte Grande, que cruzava o então cristalino rio Tietê, onde se podia navegar e nadar. Hoje, no mesmo local, a Ponte das Bandeiras atravessa águas (?) poluídas. O mais provável é que o Padre Landell pediu para ser posicionado ali um gramofone, que era acionado manualmente por uma manivela, com um disco plano do Hino. Segundo Pierrot, o aparelho do padre inventor era “muito simples: consiste unicamente num longo tubo, com receptores em cada uma das extremidades”. Ao relatar que “o ilustre sacerdote descobriu a pólvora, porque se já há telégrafo sem fios existe forçosamente telefone

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