Jornalistas&Cia 1467

Edição 1.467 página 30 Jornalistas&Cia é um informativo semanal produzido pela Jornalistas Editora Ltda. • Diretor: Eduardo Ribeiro ([email protected]–11-99689-2230)•Editorexecutivo: Wilson Baroncelli ([email protected] – 11-99689-2133) • Editor assistente: Fernando Soares ([email protected] – 11-97290-0777) • Repórter: Victor Felix ([email protected] – 11-99216-9827) • Estagiária: Hellen Souza ([email protected]) • Editora regional RJ: Cristina Vaz de Carvalho 21-999151295 ([email protected]) • Editora regional DF: Kátia Morais, 61-98126-5903 ([email protected]) • Diagramação e programação visual: Paulo Sant’Ana ([email protected] – 11-99183-2001) • Diretor de Novos Negócios: Vinícius Ribeiro ([email protected] – 11-99244-6655) • Departamento Comercial: Silvio Ribeiro ([email protected] – 19-97120-6693) • Assinaturas: Armando Martellotti ([email protected] – 11-95451-2539) sobre os medos transcendentais, as culpas (eu tinha poucas, na verdade), como se fosse aquela viagem do Brás Cubas no lombo de um rinoceronte. Dias depois, fomos para Rio Branco, onde nosso cicerone foi um moço chamado Altino Machado, que nos anos seguintes se tornou um dos principais repórteres da Amazônia, com uma carreira reconhecida internacionalmente. A parada seguinte foi uma comunidade na floresta chamada “Colônia 5 mil”. A gente andava um tantão de carro e depois entrava na floresta por uma fazenda. O ponto de referência para encontrar a trilha era uma árvore tripla: com tanto espaço, três árvores de espécies diferentes tinham cismado de nascer no mesmo lugar. Nosso entrevistado era um homem poderoso, que por excesso de ambição tinha sido apartado do núcleo original do Santo Daime, o Alto Santo. Chamava-se “padrinho” Sebastião Mota de Melo. Quando digo poderoso quero dizer que ele era capaz de produzir fenômenos. Por exemplo, tomei o chá na casa dele e, no meio da conversa, quando ele disse que a transmissão de pensamento era uma coisa normal ali, eu disse que duvidava. Então ele me mandou caminhar até o templo, que ficava a mais de cem metros de sua varanda, ao lado de um milharal. Sentei sob um dos arcos, fechei os olhos e ouvi sua voz, claramente: “Seguindo nessa linha/segue certo e não errado/ saindo dessa linha/não espere mais ser chamado”. Eu peguei o gravador e gravei o verso. Em seguida, anotei no meu caderno, chamei o Fábio, que só tinha tomado café, e disse: “O homem falou comigo”. E o Fábio: “Mas ele está lá na varanda”. Corremos pra casa de Sebastião Mota, ele conversava com um amigo. Quando nos viu chegando, disse: “Sabe o que significa? Seguindo nessa linha, segue certo e não errado...”. Mais tarde, explicou-me que, uma vez aberta a mente para o mistério, não se pode voltar atrás. Contou pra mim quando e como iria morrer e disse que sua missão era expandir o Daime para fora da floresta, pra proteger o núcleo original. Quase no fim da tarde, ele disse: agora vocês têm que ir. Nós tínhamos deixado um taxi esperando na estrada, depois da fazenda, e precisaríamos caminhar 40 minutos na floresta antes de enxergar à árvore tríplice. O genro dele se ofereceu pra nos levar, Sebastião Mota disse: “Esse não precisa de guia. Daqui vou guiando”. Bom, se a gente se perdesse eu não estaria contando a história, porque a mata era densa, chegou num ponto em que havia uma bifurcação, Fábio queria ir para a direita, eu para a esquerda, insisti e acabamos chegando na tal árvore múltipla quando já estava escuro. A última parada foi o Alto Santo, que na época ficava a alguns quilômetros do centro de Rio Branco. Ali conheci a história do Mestre Raimundo Irineu Serra, um negro gigantesco, nascido em 1892 no Maranhão e falecido em 1971. Quem dirigia o núcleo era a viúva, a “madrinha” Peregrina Gomes Serra, que vivia cercada por um conselho que cuidava de preservar a doutrina criada pelo fundador, toda escrita em versos que eram cantados por horas a fio. Na primeira sessão de que participei entendi como o ritmo da música, sob o efeito da huasca, conduz a expansão da consciência, como é possível praticar uma meditação profunda e pude experimentar uma dimensão curiosa do conhecimento, por meio da intuição. De volta a São Paulo, tive que escrever a reportagem às pressas, porque o editor tinha um buraco no caderno, e o que deveria ocupar quatro páginas na edição de domingo acabou comprimido em uma página e meia. Com um efeito impressionante: muitos leitores pediam conselhos, entidades queriam palestras, fui convidado a participar do Conselho Estadual de Entorpecentes (só me aguentaram na primeira reunião) e felizmente logo depois Paulo Coelho preencheu a curiosidade do público com suas alquimias e acabaram me esquecendo. Voltei ao Acre muitas vezes nos 25 anos seguintes. Numa delas, tive a chance de uma iniciação xamânica com a ajuda de um pajezinho de 18 anos, da nação kaxinawá. Mas isso é uma história que só contei pra minha analista.

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