Edição 1.467 página 15 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Não tem como não dizer da importância do paulistano Mário de Andrade na literatura e nos estudos de cunho poético/musicais. Importantíssimo. Mário, pianista e compositor bissexto, andou fazendo pesquisa de campo Brasil afora. No Rio Grande do Norte foi ciceroneado pelo estudioso da cultura popular Luís da Câmara Cascudo. Foi Cascudo quem apresentou o embolador Chico Antônio a Mário. Esse Chico teve o nome incluído em três livros do Mário de Andrade, entre os quais O Turista Aprendiz. Chico foi tão importante para Mário como Manuelzão (19041997) para João Guimarães Rosa. A obra de Mário de Andrade é recheada de erotismo e sensualidade. O amor nas páginas de Mário é uma constante. Entre 1923 e 1926, Mário escreveu quase uma dezena de contos. Esses contos foram publicados em 1947 no livro Contos novos. Nesse livro o autor parecer identificar-se com um ou outro personagem. Com Frederico Paciência, por exemplo. Mas Mário de Andrade mostrava preocupação com o dia a dia negativo do seu tempo. O conto Nízia Figueira, sua criada fala de duas mulheres: uma branca e uma negra. Patroa e criada. A criada atendia com toda dedicação a Nízia. Um dia, Rufina é enrolada por um cara que a engravida. Ele some e ela entra em desespero passando a viciar-se em cachaça. Pois é, na literatura brasileira se acha o comportamento dos brasileiros e brasileiras. No livro Memórias de Marta, a autora Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) fala através da protagonista que dá título ao livro que a vida é dura, duríssima. Sem arrodeios, Júlia não mede palavras para criticar a sociedade do seu tempo. Memórias de Marta foi publicado em folhetim no jornal carioca Tribuna Liberal, entre os anos de 1888 e 1889. Uma década depois o texto ganhou o formato de livro. A história é fantástica, seja ela ficcionista ou realista. Em janeiro de 2024, o Papa Francisco voltou a surpreender Licenciosidade na cultura popular (LXV) a ateus e cristãos quando afirmou que “o prazer sexual é uma dádiva de Deus”. Já falamos aqui de filhos de papas. História real, sem possibilidade nenhuma de dizer o contrário. História é história. A história inspira a ficção. Em 1959, o jornalista, contista, romancista e novelista Rodrigues Marques escreveu o livro de contos Os Quatro Filhos do Papa. A história que dá título ao livro fala de um cara que faz uma turnê mundo afora. Um bon vivant. Ele conta a uma tia querida das suas andanças. Na Itália, conheceu filhos de um papa. A tia fica em êxtase. E mais ainda quando o tal diz que os filhos do papa que conheceu vão estar no carnaval do Rio de Janeiro. Na literatura brasileira do século 19 fácil, fácil, acham-se muitos padres como personagens. Em Portugal, inclusive. Eça de Queiroz era craque em criar padres e padrecos. São muitos os casos de padres envolvidos com freiras e não freiras de idades diversas. Padres geraram músicos, escritores, advogados. Entre os autores famosos gerados por padres se acham José de Alencar e José do Patrocínio. Há muitos filhos renegados por padres e freiras. Na literatura estrangeira e da nossa Pátria há muitos casos verídicos e inventados em que os personagens são católicos. Entre os casos inventados não custa lembrar Mocinha de Luto, do curitibano Dalton Trevisan. Trata do caso de uma jovem seduzida pelo namorado e depois por um advogado, um médico e um padre. Ai, ai, ai… Livro que dá o que pensar, do mesmo Trevisan, é Novelas Nada Exemplares (1979). A Polaquinha, livro de 1985, é um personagem que Trevisan foi buscar no noticiário de antigamente, pois foi antigamente, ali no começo do século 19, que as polacas ou polaquinhas passaram a desembarcar no Rio de Janeiro, São Paulo e outras grandes cidades. Eram jovens mulheres que vinham da Rússia, Polônia e proximidades para ganhar a vida como prostitutas no Brasil. No livro A Polaquinha o autor Trevisan conta suas aventuras nas noites curitibanas. Dalton quieto no seu canto, dificilmente dá em público o ar da sua graça. Não recebe visita de amigos e admiradores. Vive enclausurado. Difícil saber o que faz, além do que diz nos seus textos curtos e provocadores. No gênero e forma não tem paralelo. É difícil, impossível, seja quem for pegar um livro de Trevisan e não gostar. Ele é cirúrgico com sua pena infalível. Dalton Jérson Trevisan continua escondido em lugar incerto e não sabido feito um ermitão. Trevisan é a versão brasileira do norte-americano J. D. Salinger (19192010), autor do livro O Apanhador no Campo de Centeio. Trevisan nasceu no dia 14 de junho de 1925. Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora Júlia Lopes de Almeida Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333
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