Jornalistas&Cia 1466

Edição 1.466 página 13 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO José de Alencar era cearense e Machado de Assis, fluminense. Machado tem coisas maravilhosas no campo do adultério. Contos como A Carteira e A Missa do Galo prendem o leitor do começo ao fim. Não sei se todos os cornos são idiotas, mas Honório é no mínimo de uma ingenuidade franciscana. Imperdoável. Dá pra rir. Aparece no conto A Carteira. E Capitu, a protagonista do romance Dom Casmurro (1899), traiu ou não traiu Bentinho com Escobar? Acho que não, mesmo contrariando a máxima de Flaubert. Ele dizia que toda mulher deveria trair o homem. A história de Machado passa-se no século 19 no Rio de Janeiro. No século 19 também foi escrito um romance baseado num fato real. Caso de uma fazendeira casada que passa a ter um trelelê com um parente do maridão. Não há rock nas páginas do livro, até porque isso ainda não existia. Porém, diga-se depressa: o que há é muito sexo e poetas repentistas tirando baião à viola. O marido descobre a safadeza da mulher e por isso é por ela assassinado. Anos depois, a assassina é vista mendigando nas ruas da cidade onde vivia. De que romance estou falando? Dona Guidinha do Poço, do cearense Manuel de Oliveira Paiva, que foi publicado nos primeiros anos da década de 1950, quando o autor já havia falecido há pelo menos 60 anos. Manuel de Oliveira Paiva foi seminarista, jornalista e militar. Tinha 31 anos de idade quando morreu. Algo parecido com o enredo de Oliveira Paiva ocorre nas páginas do romance Estudos de Mulher, de Honoré de Balzac, escrito em 1837. No enredo, uma mulher trai o seu par. A personagem de Balzac é astuta, mas isso não impede que o traído trame e execute um plano de vingança. Quem já leu o conto O Gato Preto, escrito em 1843 por Edgar Allan Poe (1809-1849), encontrará o final de Estudos de Mulher. Poe teve uma vida pessoal pra lá de atribulada. Ele fumava, bebia e enchia a cabeça de droga. Um dia foi encontrado caído na rua e levado ao hospital, onde morreu. Tinha 40 anos, e 20 quando se casou com uma prima de 13. Foi um poço de infidelidade. A história de Edgard Allan Poe lembra um pouco o enredo do russo Licenciosidade na cultura popular (LXIV) Vladimir Nabokov (1899-1977) desenvolvido no livro Lolita (1955). No enredo de Nabokov há um pedófilo que mira suas garras numa garotinha de 12 anos. Mas o tal, que se diz “escravo de uma ninfeta colegial”, começa a cair em desgraça quando a mãe da menina descobre a safadeza num diário guardado a sete chaves por ele. Deu polêmica mundial. Também parecida com a história de Nabokov é a personagem de 16 anos que aparece no livro A Fugitiva (2012). Nesse livro, a autora, Anaïs Nin, fala de uma certa Nicolly, que vive sendo o tempo todo abusada por um homem que ela detesta. É quando traça um plano pra fugir do algoz, deixando entender que se matou. Enfim, a personagem vai em busca de uma nova vida. Curiosidade por curiosidade, não custa lembrar que essa mesma temática é abordada pela escritora norte-americana Alice Munro (1931-2024) em Fugitiva, livro formado por oito contos, publicado em 2004. Alice Munro foi ganhadora do Prêmio Nobel em 2013. Pois é, não são poucas as histórias em que personagens femininas se dão mal. Isso ocorre também num dos mais polêmicos livros de Aluísio Azevedo: O Homem, publicado em 1887. Nele, uma jovem de nome Magda se apaixona por Fernando. Os dois prometem se casar. É quando entra em cena o pai de Magda, também pai de Fernando. Detalhe: esses jovens não são filhos de uma mesma mãe. Fernando morre e Magda fica lelé. Fim trágico. Tem veneno na parada e mais não digo. A ideia de pôr veneno em copos e pratos alheios sempre foi corrente nos contos e romances escritos mundo afora. No livro Lágrima de Mulher, do mesmo Aluísio, tem disso. O caso envolve uma certa Rosalina e seu amado, Miguel, moço pobre e apaixonado. Órfão e sem vintém, Miguel herda uma rabeca e o talento do pai. E por aí vai. O livro é de 1880. Veneno há também na história que envolve Romeu e Julieta, não é mesmo? E no enredo de Tristão e Isolda? E com Peri de Ceci, no famoso romance de Alencar? Até nas histórias infantis o veneno se faz presente, como na história A Branca de Neve e os Sete Anões. A personagem come uma maçã envenenada, morre e é ressuscitada com um beijo de língua bem dado por um príncipe que vivia sem fazer nada. Nuns 10 ou 15 livros da escritora inglesa Agatha Christie (1890-1976) o veneno faz o efeito esperado, matando quem a autora quis. Num desses livros, Brinde de Cianureto, a autora põe na roda um casal e amigos para comemorar um aniversário. A aniversariante morre na hora ao ingerir um copo de bebida. Suicídio ou assassinato? A leitura é palpitante. Machado de Assis Edgar Allan Poe Aluísio de Azevedo

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