Jornalistas&Cia 1464

Edição 1.464 página 45 Regina, que iria estrear o show Falso Brilhante, no Teatro Bandeirantes. Regina me chamou de lado e sentenciou: “Vai você! Eu não tenho paciência para essa mulher!”. E lá fui eu entrevistar a maior cantora do Brasil. A Pimentinha não era mesmo fácil. No meio da entrevista, supervisionada por Pinky Wainer, à época assessora de imprensa do teatro, ela levanta e diz: “Vou até em casa ver umas amostras para as cortinas que chegaram”. Voltou duas horas depois e continuou a entrevista. Eu agarrei essa e cada oportunidade que apareceu. Conviver com todos eles foi uma grande escola. Mas foi Aroldo quem fez a diferença. Bom coração, querido pelos colegas, respeitado pelos pares, seu negócio era torcer − e sofrer − pelo Corinthians. Naquela época, o Timão não ganhava nada havia mais de 20 anos. E toda segunda-feira era a mesma cena: Aroldo chegava cabisbaixo à redação, depois de mais uma esperança perdida. Como a agenda cultural não era exatamente sua praia e era bem intensa, eu sugeria as pautas e na hora ele aprovava. “Aroldo, Alice Cooper vem para o Brasil e vai dar uma coletiva” ou “tem show novo da Gal vindo por aí”. Ele só me dizia “vai lá, vai lá”. Afinal, eram páginas e páginas a cada fechamento. Naquela época, os artistas não se consideravam tão celebridades como hoje em dia e vinham até as redações para falar sobre seus trabalhos recentes. Eu fiquei encarregada de atendê-los. Por lá passaram Marco Nanini, Nicete Bruno e a então adolescente Beth Goulart, a Traditional Jazz Band e tantos outros. Os divulgadores das gravadoras também batiam ponto e Antônio Maschio, bem antes do Spazio Pirandello, era figura recorrente. Foi um tempo delicioso e o grau de confiança que Aroldo me conferiu guiou os meus passos na profissão. Fiz matérias muito boas, algumas de capa do Caderno, como a entrevista com o impagável Adoniran Barbosa ou o gentleman Mário Lago, ou ainda Walter Clark, quando a Globo quis suavizar o sotaque carioquês e estreitar suas relações com os paulistas. E Aroldo também me deixava fechar algumas páginas, o que me deu base para ser editora. Embora um dia − e aqui vai uma referência ao machismo da época − alguém me disse (não vou contar quem foi!): “Você tem tudo para ser editora, só falta a barba”. Aroldo não está mais aqui, mas não conheci ninguém na imprensa que não o via como ele era: um profissional correto, de coração grande, sempre de ótimo humor, que vivia o jornal por inteiro. Como alguém já disse, “um bóia-fria da comunicação”. tinha de se exilar em um país qualquer. Além disso, toda noite enviados do DOPS (Departamento de Ordem Política Social) ou de outro núcleo de investigação oficial apareciam para ler e aprovar o que seria publicado. Até por causa disso, a média de idade na Política era mais de 60. Por serem mais velhos, eles não iriam criar encrenca, devia imaginar a diretoria. Educação eu não tinha a menor afinidade, embora respeitasse muito o editor, Perseu Abramo. Interior, editada por Francisco Almeida, também não me parecia emocionante. Era quase igual à Internacional: receber os textos dos correspondentes e adequá-los ao espaço disponível. A Ilustrada foi a melhor oferta − vibrante e cheia de novidades. E lá fui eu trabalhar ao lado de nomes que hoje são história. A equipe era enxuta e compartimentada. Orlando Fassoni escrevia sobre Cinema; Nelson Merlin decifrava as Artes Plásticas; Walter Silva ficava com a Música Popular; Wladyr Nader se ocupava de Literatura. O editor era Aroldo Chiorino, por anos brilhando no jornalismo esportivo e um peixe fora d’água naquele ambiente mergulhado em todas as principais manifestações culturais de São Paulo. Ele veio para substituir Jayme Negreiros, que estava de licença médica. Mas, como ele mesmo dizia, “depois de 30 anos de Folha eu faço o que o Frias mandar, até guiar carro de reportagem”. Minha esperança de me tornar uma repórter foi frustrada logo no primeiro dia. Fiquei encarregada de cuidar do Roteiro, uma seção de página inteira, dividida em verbetes, que trazia tudo o que acontecia na cidade − filmes, shows, peças de teatro. Eu tinha de todos os dias atualizar o textão, verificando o que estava em cartaz, o que entrava e o que saia. Tão chato quanto receber as notícias das agências e classificar. Mas Aroldo me salvou. Ele e a repórter da Ilustrada Regina Penteado − divertida, temperamental e com uma lista de desavenças com vários artistas. Ou porque haviam roubado um dos seus namorados ou porque o santo não batia mesmo. Experiente e sem papas na língua, uma tarde ela me convenceu a substituí-la numa exclusiva com Elis

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