Jornalistas&Cia 1464

Edição 1.464 página 19 Especial Dia da Imprensa Fronteira da IA Fascinante, assustador, inevitável. Os três adjetivos aplicam-se perfeitamente ao avanço da inteligência artificial (IA), em particular no jornalismo. Tanto as mídias tradicionais como as mais especializadas preparam-se, no momento, para sair de uma fase de conhecimento e experimentação e partir para uma etapa de aplicação mais intensiva das novas ferramentas. A Folha, por exemplo, está criando uma editoria específica para acelerar o uso da inteligência artificial nos processos internos e nos processos voltados diretamente para os leitores. A revista Exame já tem um diretor de IA, que se divide entre as áreas de Jornalismo e Educação, e um editor dedicado à cobertura de IA. A Exame opera com três grandes braços, Jornalismo, Educação e Branded Content − aqui o conteúdo é produzido em nome de uma marca, atendendo aos seus interesses específicos, e nem sempre fala diretamente sobre um produto ou serviço oferecido pela empresa. Mesmo que não mantenham cargos formais para essa função, outras publicações, como o Estadão, também buscam explorar as possibilidades abertas com a entrada em cena da IA. “A mudança está vindo muito mais rápido do que se imaginava”, diz Ana Estela, da Folha. “Até pouco tempo atrás era curiosidade, experimentação, hoje já é de massa”. Ela destaca que é preciso olhar com muito cuidado tudo o que é feito pela inteligência artificial: “A gente vive de credibilidade e não vai abrir mão disso, não vai baixar a guarda”. Há um consenso de que, pelo menos de saída, as novas ferramentas serão utilizadas para substituir um trabalho quase braçal de compilar dados e buscar informações primárias repetitivas. Com isso, os jornalistas ficam liberados para um trabalho mais aprofundado, mais diferenciado. “O que pode ser automatizado, será automatizado”, diz Marcio Rodrigues, da Agência Estado, com a experiência de quem enfrenta dia a dia o desafio de ganhar segundos na divulgação de um conteúdo. Ele lembra, a esse respeito, que a diferença entre o tempo real − o negócio da Broadcast − para o online já é mínimo e, com a IA, tende a chegar perto de zero, o que acirra a competição. Mas insiste: “Um trabalho de qualidade e com credibilidade continuará exigindo o critério e a supervisão de um jornalista.” Não faltam exemplos do que pode ser feito e facilitado com a IA. Um deles está ligado à cobertura das decisões do Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom. A cada 45 dias o Copom se reúne para definir a taxa básica de juros; na prática, o piso dos juros do mercado. No final do encontro, é divulgado um comunicado com as justificativas da decisão. É o momento em que os jornalistas da área correm atrás de analistas para buscar o que há de especial naquele documento, capaz de ditar o comportamento do mercado − às vezes uma única palavra introduzida ou retirada do texto. Uma ferramenta de IA dispensaria esse serviço, e permitiria ao jornalista concentrar-se em informações complementares mais importantes. Da mesma forma, a temporada de balanços das empresas, que exige uma cobertura exaustiva das equipes especializadas, certamente será facilitada com essa inovação. Por que, então, se olha para a inteligência artificial com tanta desconfiança? Antes de mais nada, há um temor de que a IA venha para reduzir postos de trabalho, já tão escassos, principalmente nas mídias tradicionais. Além disso, envolve dois tipos de risco, especialmente se não houver uma supervisão adequada: perpetuar erros e simplesmente reproduzir, com diferenças mínimas, material já publicado; quase um plágio, diriam os mais críticos. Marcio Rodrigues vê duas alternativas para resolver o conflito entre fornecedores de conteúdo e plataformas de inteligência artificial: acordos para licenciamento de conteúdos ou, no extremo, a

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