Jornalistas&Cia 1464

Edição 1.464 página 18 Especial Dia da Imprensa Inteligência Financeira. Nada mais natural, portanto, que o jornalismo de Economia espelhe essas transformações. O que se discute é se isso não está passando do ponto. Eleno Mendonça, superintendente executivo de Comunicação do banco Safra, e com uma vasta experiência nos grandes jornais, também faz reparos à qualidade do debate econômico hoje. “Já foi bem mais vivo”, diz ele. “Você podia conviver e dialogar com um timaço de economistas, como Delfim Netto, Mario Henrique Simonsen, João Paulo dos Reis Velloso, era um aprendizado”. Nesse sentido, a própria crise econômica acabava fomentando o debate. A instabilidade produzida pela inflação galopante e a sucessão de planos econômicos provocavam grandes discussões, que dominavam as páginas de jornais e revistas. Hoje, a economia parece resumir-se à questão financeira, mais especificamente aos investimentos. Exatamente o ponto de interesse mais imediato dos leitores. Para Mendonça, “a cobertura ficou mais superficial e mais imediatista, olha pouco para o futuro”. Embora o diploma de jornalista não seja obrigatório, ele acredita que as faculdades poderiam ajudar a arejar o debate e, com isso, melhorar o preparo dos profissionais. “No Brasil, o debate econômico é mais viciado do que em outros países”, critica Sergio Lirio, redator-chefe da CartaCapital, que hoje comanda a revista direto de Lisboa. Segundo Lirio, na Europa, por exemplo, há mais diversidade nas discussões. “No Brasil, há coisas que viraram dogmas”. Para ele, o Brasil tem ojeriza a discutir a função do Estado e o ajuste ultraliberal é visto como a única saída. “O jornalismo de Economia está enredado nisso”. Lirio vê o jornalismo de Economia como cão de guarda com o setor público e leniente com o setor privado. José Paulo Kupfer é um tradicional crítico da “prateleira de fontes” às quais a imprensa recorre. Não só porque essas fontes chancelam o pensamento dominante na Economia, mas também porque elas são mais acessíveis e facilitam o trabalho do jornalista, cada vez mais pressionado pelo processo de produção. Mas Kupfer vê uma luz no fim do túnel. Para ele, as redes sociais estão tornando essa tendência menos radical, trazendo ao público novas fontes, com novas ideias. José Eduardo Costa, da Inteligência Financeira, também destaca que as redes sociais vêm aumentando o número de vozes que se fazem ouvir no jornalismo de Economia. Bancos, entidades, empresas, empresários e economistas criam e ampliam seus próprios canais de comunicação. Um bom caminho para ampliar a diversidade. Além disso, para ele, o que merece crítica é menos a “financeirização” e mais a “produtização” da cobertura. Aquela cobertura de produtos específicos, que leva o leitor a perguntar: qual o interesse dessa notícia para o público em geral? Mas aos poucos estamos caminhando para o equilíbrio, diz Costa. Até porque na pandemia e na pós-pandemia os portifólios de aplicações foram desmontados, com a simples eliminação de muitos produtos. Sergio Lirio Eleno Mendonça

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