Jornalistas&Cia 1464

Edição 1.464 página 17 Especial Dia da Imprensa mais específicas para as suas dúvidas”. Lucas Amorim, diretor de Redação da Exame, também minimiza as diferenças entre as mídias tradicionais e as publicações de instituições financeiras. Exame tem quase 60 anos de existência e hoje faz parte do grupo do BTG. “Não é preciso levantar a bandeira de que somos independentes”, diz ele. “Nossa melhor resposta a esses questionamentos é no dia a dia, no produto final”. Amorim lembra ainda que não é apenas a mídia que valoriza a chamada separação Igreja-Estado, que garante uma fronteira entre os dois lados. “Nos bancos também há essa separação”, esclarece. Eles têm equipes que emitem papéis de uma empresa e outras que podem recomendar a venda dos mesmos papéis. Aí a resposta também é no dia a dia. Visão única Como não poderia deixar de ser, a avaliação do jornalismo de Economia que se faz hoje não é uma unanimidade. Há críticas ao domínio do chamado “pensamento único”, escorado principalmente numa visão financeira da economia. Uns veículos mais, outros menos, estariam pautando a cobertura do setor por um viés financeiro. O predomínio dessa visão começa com a escolha das fontes. Seja na mídia tradicional ou não, as fontes ouvidas são sempre as mesmas e quase sempre do setor financeiro. Dificilmente surge algum novo economista que ganhe peso no debate. As análises da política econômica quase sempre obedecem à lógica financeira. Até as histórias de Negócios privilegiam mais o arranjo financeiro do que outros aspectos, como por exemplo as conversas de bastidores e o impacto social de uma grande fusão ou aquisição. Com o enxugamento das equipes das mídias tradicionais, vários setores ficaram a descoberto, menos o financeiro, que tem uma cobertura “extravagante”, afirma Luís Nassif, do Jornal GGN. A crise da indústria, por exemplo, está praticamente fora do foco das publicações. Valores como geração de empregos, bem-estar social e redução das desigualdades quase não aparecem. Mais preocupante, segundo Nassif, é que mesmo o debate financeiro das mídias tradicionais não consegue refletir a complexidade do mercado. “Informação por informação, tem mais e melhor nas próprias publicações das instituições financeiras”, provoca. Lá atrás, com a hiperinflação correndo solta, o leitor/consumidor queria saber, antes de mais nada, como evitar o sumiço do salário logo depois do pagamento. Corredores de supermercados lotados de carrinhos de compra eram a imagem típica dos anos 1980/90. Antecipar as despesas para fugir da remarcação de preços era o “investimento” mais seguro. Em tempos de estabilidade − e lá se vão 30 anos do Plano Real −, mercado financeiro mais diversificado e até sofisticado, aquele consumidor, antes “especialista” em se proteger da inflação, tornou-se um investidor, agora “especialista” em fazer seu dinheiro render ao máximo com as alternativas de aplicação existentes no mercado. Só para se ter uma ideia, já são mais de cinco milhões de CPFs de investidores em renda variável registrados na bolsa de valores, em comparação com um milhão e 400 mil em 2019, mais de 200 milhões de transações diárias via PIX e uma moeda digital em vias de chegar ao mercado. “O Brasil tem hoje um mercado financeiro maduro, em que bancos, corretoras, gestoras de recursos e mesmo reguladoras funcionam”, avalia José Eduardo Costa, da Lucas Amorim

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