Jornalistas&Cia 1464

Edição 1.464 página 11 Especial Dia da Imprensa inflação, na época chamada de “carestia” pela população, que impôs uma cobertura voltada para “como se proteger da escalada dos preços”. Em tudo: nas compras, na negociação dos aluguéis, nas aplicações financeiras. O overnight caiu na boca do povo. O cidadão comum tornou-se um especialista em planos econômicos. Nesse cenário, o jornalismo de serviços viveu dias de glória. A inflação ditou os rumos da Economia − e do jornalismo de Economia − até 1994, com o lançamento do Plano Real. De lá para cá, a Economia se estabilizou, o mercado financeiro encorpou, as empresas dos grandes empreendedores cederam lugar às empresas “sem dono”, lideradas por grandes fundos de investimento, os lobbies passaram a se dividir entre os gabinetes do Executivo e os corredores do Congresso, a política aumentou o poder de fogo na Economia. Seguindo esse roteiro, o jornalismo de Economia também atravessou várias fases, passou por mudanças com menor ou maior velocidade, mas nunca perdeu a importância. Muitos produtos desapareceram, outros permanecem, mesmo repaginados, e outros estão surgindo. Pelo menos três deles ajudam a contar a história do jornalismo de Economia no Brasil − principalmente a evolução da tendência de especialização da cobertura, que se firmou ao longo do tempo e hoje se manifesta no lançamento de novos títulos. A Gazeta Mercantil, criada em 1920 como um boletim diário dos mercados, é vista como um símbolo desse tipo de cobertura. Equipes extensas e altamente especializadas acompanhavam setor por setor, principalmente na indústria, e em todas as regiões do País. Durante quase toda a sua história, a Gazeta Mercantil pertenceu à família de Herbert Levy. Matías Molina lembra que inicialmente a família não dava prioridade à Gazeta Mercantil, pois tinha outros dois jornais, mas depois resolveu fazer o “Financial Times do Brasil”. Deu no que deu: a Gazeta acabou virando o superjornal. Até o jornal impresso sair de circulação, em 2009, enfrentou sucessivas crises e, em consequência, recorreu a sucessivas tentativas de formação de parcerias para não afundar. Mesmo com esse histórico de turbulências financeiras, a Gazeta mantinha a liderança da cobertura de Economia, com grande influência no empresariado. A revista Exame, que chegou ao mercado em 1967 como um encarte das revistas técnicas da editora Abril, foi decisiva para valorizar o jornalismo de Negócios no Brasil. E contribuiu para derrubar os preconceitos que cercavam as matérias de Negócios, confundidas até com “matérias pagas”. Em 1971, o encarte transformou-se numa revista mensal independente e cinco anos depois, em quinzenal. O plano era chegar a uma revista semanal, mas nunca foi concretizado. Guilherme Velloso, que chegou a Exame depois da virada para mensal e dirigiu a publicação por mais de dez anos, conta que Roberto Civita sempre quis fazer no Guilherme Velloso

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