Jornalistas&Cia 1461

Edição 1.461 página 6 Utilidade pública No árduo trabalho em ambiente tão inóspito, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas têm enfrentado perigos e dificuldades enormes para se locomoverem, transformando as adversidades em conteúdo jornalístico de alta qualidade. “Desde o início da catástrofe, na produção em tempo real, nossas equipes não medem esforços para levar a notícia ao nosso público, como é o caso de um repórter nosso que acompanhou um resgate por helicóptero”, diz Fernando Gusmão, do Grupo Sinos. Segundo ele, são cerca de 60 jornalistas atuando diretamente na cobertura da crise voltada para um público que reúne moradores de três cidades da Grande Porto Alegre – São Leopoldo, Novo Hamburgo e Canoas –, além de Gramado, na Serra gaúcha. Todas essas regiões foram prejudicadas pelas inundações, sobretudo Canoas e São Leopoldo, e em tempos de normalidade contam com edições diárias impressas e específicas para cada município, os jornais NH, VS e Diário de Canoas (DC), além do semanário Jornal de Gramado. Agora, diante da crise climática, o Grupo Sinos vem publicando diariamente uma compacta edição impressa e digital conjunta do ABC, título do jornal de fim de semana da empresa dirigido ao Vale do Rio dos Sinos. “Nos adequamos à logística imposta pela crise, com muita dificuldade de circulação em algumas áreas”, afirma Gusmão. “Estamos em um regime de mutirão, de plantão permanente, com programação ampliada no rádio, e um reforço na publicação de conteúdos no digital, inclusive redes sociais”, diz o diretor de redação do Grupo Sinos, Igor Müller. “Isso tudo para justamente agilizar a nossa função de informação, uma pegada de utilidade pública, de urgência”, completa. Faro jornalístico No Correio do Povo, o experiente e premiado fotógrafo Ricardo Giusti e o jornalista Cristiano Abreu foram escalados, ainda no fim de abril, para reportar de Santa Maria, a cerca e 300 quilômetros de Porto Alegre, que receberia a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No trajeto foram documentando os estragos causados em várias cidades e tiveram de dormir no carro antes de fazer um enorme contorno para conseguir acessar Santa Maria, conforme conta o em detalhes o jornalista Felippe Aníbal na revista piauí. No retorno a Porto Alegre, viajando por mais dias do que o planejado, a equipe do Correio do Povo conseguiu chegar a Guaíba, na região metropolitana, conta Telmo Flor. Mas não foi possível ir adiante por causa das estradas interrompidas. O faro jornalístico, porém, continuava aguçado. Ao saber que a situação de Eldorado do Sul, bem próximo a Guaíba, era dramática, Giusti pegou carona em um caminhão do Exército e conseguiu registrar o que, segundo ele, era uma cena típica de conflitos armados. “Aquela coisa de refugiados, que a gente vê na Europa”, diz ele em entrevista à piauí. Apoio psicológico Os profissionais de comunicação exercem com zelo a função de garantir o direito à informação, mas sofrem como qualquer outra pessoa diante de fatos tão trágicos como os registrados agora no Rio Grande do Sul. “Essa é uma cobertura muito difícil, muito dura, dolorosa, que exige muito de todos nós”, afirma Igor Müller, do Grupo Sinos. Além disso, comunicadores que moram no Estado estão enfrentando o mesmo drama do restante dos gaúchos. Experimentam as dificuldades de locomoção e com a falta de luz e água. Muitos tiveram de sair de suas casas. Alguns perderam boa parte do seu patrimônio. “A gente está sentindo coisas muito parecidas com o que experimenta a população”, diz Müller. “O pessoal da linha de frente retorna muito abalado, como em uma guerra”, volta a comparar Marta Gleich, do Grupo RBS. Por isso, a empresa mantém um time de psicólogos nas redações e em campo, ajudando a manter a saúde mental dos profissionais. Desinformação Novamente como nas guerras, a verdade também tem sido duramente desgastada durante a crise climática no Sul do país. Repetindo um fenômeno global, a mentira vem sendo espalhada nas redes sociais. “Depois de alguns dias concentrados em informações mais urgentes, como a possibilidade de rompimento de diques, estamos agora nos dedicando a combater boatos que servem apenas para tumultuar o já complicado atendimento às vítimas”, afirma Müller. Segundo Gleich, os veículos da RBS também têm feito um rigoroso processo de checagem de todo o material produzido por seus repórteres. Além disso, o grupo aumentou a quantidade de publicações e vinhetas que separam a verdade da mentira, com produção própria e com material da agência de checagens Lupa. “No combate à desinformação, cresce a relevância, a essencialidade do jornalismo”, diz a jornalista, que ainda lembra: “as edições dos jornais são um documento histórico do que estamos enfrentando”. Enchentes no RS Parceiro: Apoio: De Londres e de São Paulo, notícias, ideias e tendências em jornalismo, informação, desinformação e plataformas digitais Oferecimento (MediaTalks Partner):

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