Jornalistas&Cia 1460

Edição 1.460 página 34 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) Tivemos no último 1º de maio o 30º aniversário da morte de Ayrton Senna, um dos maiores ídolos do esporte brasileiro. A história todos conhecem, mas poucos sabem como foi a cobertura do radiojornalismo naquele fatídico domingo e depois, até o momento do enterro. Por isso, a coluna da semana passada e esta são um resgate histórico com quem acompanhou os fatos narrados pelas emissoras de rádio na época. Haisem Abaki, jornalista âncora e apresentador na Rádio Eldorado/SP. Em 1º de maio de 1994 era repórter da CBN (das 6h às 12h) “Na época eu fiquei lá dentro, na Assembleia, no Monumental. Perto de onde estava o caixão tinha um reservado para a imprensa, bem próximo, com uma visão das pessoas que passavam por lá para fazer a última homenagem. Muita comoção das pessoas. A família também ficava por ali. Autoridades também passaram. Acho que foram dois dias, se não estiver enganado. E aí depois teve o enterro, que também acompanhei. Não pude acompanhar tão de perto porque a entrada no cemitério foi restrita. Na época tinha uma van da Rádio Globo que eles usavam em externas e tinha até uma escadinha. A gente podia subir e ficar em pé no teto do veículo e eu subi com Osmar Garrafa. De lá tive a visão do sepultamento e narrei. Na Assembleia, fiz tudo por LP, como a gente chamava a linha telefônica permanente para transmissão. Desde o início do velório até o encerramento. E depois fiz o sepultamento. Lembro do traslado, lembro do cortejo passando na Marginal; tudo parado e uma multidão emocionada”. Silvana Requena, editora executiva do Bom Dia Brasil, em São Paulo, na TV Globo. Em 1º de maio de 1994 era repórter da CBN (das 13h às 19h) “Para mim foi um dos momentos mais emocionantes acompanhar o velório do Senna. Toda a comoção que a morte causou foi um dos momentos mais marcantes da minha carreira como jornalista, como repórter de rádio. É apenas um breve histórico. Eu cobri o velório na noite anterior ao enterro, lá na Assembleia Legislativa. Todas as TVs estavam lá, todos os órgãos de imprensa do Brasil e do mundo. É claro que as TVs tinham preferência. Eu nunca vou esquecer que tive que ficar em cima de uma mesa, apoiada nos cantos da mesa, porque no meio ela poderia cair. Para poder enxergar o momento em que o então presidente Itamar Franco entrou no salão na hora do O rádio na cobertura da morte de Ayrton Senna (final) velório do Ayrton. E eu nunca vou esquecer isso. Falei sete minutos sem parar. E depois não lembrava do que tinha dito. Mas narrei toda a situação. Eu estava com foco para não cair. Mas, enfim, foi muito marcante. Marcante pela comoção, pela tristeza das pessoas, por tudo que o Ayrton significou para o Brasil e significava na época. Era um orgulho. Lembro que falar dele era uma coisa de orgulho para todos, inclusive para os jornalistas. Muitos amigos emocionados. Na profissão a gente tem aquela máxima de tentar não se envolver. Mas ali foi um momento em que vi muitos colegas se envolverem. Sim, chorarem, enfim, estarem emocionados. O velório foi marcante, mas mais marcante ainda foi o cortejo. O meu carro de reportagem seguiu em comboio atrás do carro de bombeiros que levava o caixão pela Avenida Brasil, se não me engano. Lembro que o caminho todo milhares de pessoas assim nas calçadas, acompanhando e dando tchau, chorando, com bandeiras do Brasil. E nós seguimos atrás. E a gente foi narrando também. Tínhamos vários repórteres acompanhando. A minha tarefa era acompanhar o carro do cortejo da Assembleia até a porta do cemitério. Lá dentro nós tínhamos uma outra colega, que também entrou muito emocionada no ar. Chorou. Isso eu lembro direitinho. Mas assim, o que mais marcou foi ver aquela multidão. Eu nunca vou esquecer na minha vida aquela multidão. Chorando e acenando, enfim, prestando a sua homenagem. Muitas vezes a gente vê de fora, vê na TV, aquela imagem das pessoas acenando e o caminhão passando no meio. Mas outra coisa é você acompanhar o cortejo. Eu estava bem atrás do caminhão. É uma coisa muito impressionante, porque você vê muito de perto, dois, três metros de distância. Porque as pessoas não podiam chegar muito perto. Então elas ficavam na calçada, ou então ali na divisão das avenidas. Tinha gente em cima de árvore, em cima de ponto de ônibus, cada um tentava um jeito de olhar melhor, de arranjar um lugar melhor para prestar sua homenagem. E os canteiros todos lotados das avenidas? Todas, todas as avenidas, todas mesmo, no sentido inverso, também lotadas de pessoas. Estou fazendo este ano 40 anos de jornalismo e foi a coisa que mais me marcou. Realmente foi uma comoção que eu nunca mais vi. Depois disso a gente perdeu várias pessoas importantes, pessoas queridas, mas não foi a mesma coisa. Acho que ele representava para todo o povo brasileiro a esperança. O orgulho, aquela coisa de orgulho de ser brasileiro, porque viu um brasileiro alcançar tudo o que ele alcançou. Ele se tornou um símbolo. Acho que ali a gente teve a noção do que era realmente foi.” Oscar Ulisses, narrador esportivo Rádios Globo e CBN. Em 1º de maio de 1994 era narrador esportivo do Sistema Globo de Rádio. “Olha, eu tive o privilégio, a sorte de poder acompanhar um pouco da carreira do Ayrton Senna narrando as corridas que ele fez da Fórmula 1. Então, do meio dos anos 1980 até o fim da carreira dele narrei muitas corridas e acompanhei de perto, em muitos momentos, o trabalho do Ayrton Senna. Além da extraordinária competência, da concentração absurda e das conquistas todas, o Ayrton Senna levou para a Fórmula 1 algo que transformou a categoria, principalmente a vida dos pilotos, que foi a preparação física. Eu vi o quanto Ayrton se dedicou nesse quesito. Ele se preparava fisicamente, intensamente. Ele levou um preparador físico que o acompanhava durante toda a trajetória dele na Fórmula 1: Nuno Cobra. A partir daí, todo mundo que queria competir no mesmo nível na Fórmula 1 teria Haisem Abaki Silvana Requena Oscar Ulisses Pág.1

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