Edição 1.458 página 33 Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Ao seguir os passos de Schopenhauer, Friedrich Nietzsche (1844-1900) tentou fazer “melhor” como poeta e filósofo. O resultado disso é que disse um monte de asneiras nos livros que publicou. Exemplo: “Todas as mulheres me amam, com exceção das mulherzinhas vitimadas, as ‘emancipadas’, as incapazes de terem filhos”. Nietzsche quis se casar, mas a pretendente fugiu da raia com alguém que julgou ser melhor do que o filósofo. Isso pode ter gerado nele rancor, pois justificativa não houve para que se transformasse no misógino em que se transformou. Pra ele, mulher não significava nada a não ser servir ao homem. Dizia, por exemplo: “A mulher deve ser considerada como propriedade do homem, como fazem os orientais”. E como se não bastasse, atirou sua ira contra o Criador: “Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? Também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos!”. Nietzsche morreu num hospício, doido, depois de uns 12 anos sem escrever nada. Como Schopenhauer, o filósofo francês Jean Paul Sartre optou por não se casar e nem ter filhos. E como Sartre, Simone de Beauvoir também não se casou e nem teve filhos. Sartre e Beauvoir viveram juntos por muito tempo. Conheceram-se em 1929. No ano seguinte, ela publicou seu primeiro romance: A Convidada. Nesse livro ela cria um triângulo amoroso. Até que chega mais alguém. Rolou orgia, troca-troca e tal. Ela teve muitos amantes, entre homens e mulheres. No seu livro mais famoso, O Segundo Sexo, Simone discorre sobre maternidade e lesbianismo. O livro é denso. O lesbianismo está presente em muitos livros, muitos filmes, peças de teatro e tudo o mais. Um dos últimos livros da paulistana Cassandra Rios intitulou-se Eu Sou Uma Lésbica. A personagem tinha por nome Flávia, talvez seu alterego. Foi um Deus nos acuda! Naqueles tempos duros, de chumbo grosso, a escritora paulistana alcançava a marca histórica de um milhão de exemplares vendidos de sua obra, considerada pornográfica pelos milicos. Licenciosidade na cultura popular (LVI) Cassandra, cujo nome verdadeiro era Odette Pérez Ríos, escreveu seu primeiro livro quando tinha 16 anos de idade. Título: A Volúpia do Pecado. Cassandra era assumidamente lésbica e a escritora mais perseguida pelos poderosos da época. Pelo menos 36 dos 50 títulos publicados foram censurados, retirados do mercado e incinerados. Pra provocar seus perseguidores, Cassandra escreveu o livro A Santa Vaca (1978), por ela mesma classificado, aí sim, pornográfico. Entre seus admiradores se achavam Jorge Amado e o Bandido da Luz Vermelha. A obra de Jorge Amado é toda recheada de encontros e desencontros, de prostitutas valentes. Nas histórias de Jorge o bem sempre vence. O Bandido da Luz Vermelha, de batismo João Acácio Pereira da Costa (1942-1998), era catarinense e morreu assassinado num bar depois de cumprir uns 30 anos de reclusão no antigo Manicômio de Franco da Rocha, em São Paulo. Sua condenação deveu-se a assaltos e estupros que praticava nos bairros da elite paulistana. Não escreveu livro, nem nada, mas foi tema de um filme em 1968. O estupro é uma prática antiga e parece não ter fim no Brasil e em todo canto do mundo. A violência contra a mulher, qualquer tipo de violência, merece punição. Hoje em dia as mulheres, grosso modo, estão conquistando merecidos espaços na sociedade conservadora e hipócrita em que vivemos. São muitos os casos vitoriosos alcançados pelas mulheres, seja lá onde for. Já falei, mas repito: o primeiro livro classificado como romance no Brasil foi escrito por uma mulher, de nome Maria Firmina dos Reis. Outra escritora de livros eróticos, Adelaide Carraro (1936-1992), também não saiu da mira dos militares. Era uma figura sensível e politizada. Não casou, mas adotou duas crianças. Adelaide considerava o Brasil como o melhor país do mundo. Adelaide Carraro tinha 36 anos de idade em 1968, cinco processos judiciais em andamento e dúzia e meia de prisões nas costas. Em meio às dezenas de livros que Adelaide publicou acham-se O Estudante e Eu e o Governador, que trata das suas relações sexuais com o político mato-grossense Jânio da Silva Quadros (1917-1992). Cassandra e Adelaide foram as escritoras mais censuradas no decorrer do regime militar (1964-1985). Adelaide, Cassandra e o erotismo na literatura brasileira mereceram estudos publicados em livros de Rodolfo Rorato Londero, em 2016 (Pornografia e Censura: Adelaide Carraro, Cassandra Rios e o Sistema Literário Brasileiro nos Anos 1970), Juana Belinaso, em 2020 (Escrever é Subversivo: Censura a Livros Eróticos e Pornográficos na Ditadura Civil-Militar Brasileira) e Juliana Moreira de Sousa, também em 2020 (Censura e Erotismo na Literatura de Cassandra Rios). Fotos e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora Friedrich Nietzsche Cassandra Rios João Acácio, o Bandido da Luz Vermelha, com Assis Ângelo
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