Jornalistas&Cia 1458

Edição 1.458 página 23 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. Sábia na comunicação com a sociedade, a rainha Elizabeth II tinha um lema famoso: ”I have to be seen to be believed” (“Preciso ser vista para acreditarem em mim”), frase que em tempos de mudanças climáticas pode ser adaptada para “é preciso sentir para acreditar”. É o que mostra uma nova pesquisa feita pelo Centro de Políticas Públicas da escola de comunicação Annenberg, da Universidade da Pensilvânia. O trabalho constata que a exposição a condições meteorológicas severas está associada ao apoio a políticas para combater os efeitos do aquecimento global, desafiando até visões partidárias. Embora seja positivo constatar que o negacionismo pode ser revertido por experiências pessoais, o resultado é um sinal da dificuldade que imprensa e cientistas têm para convencer o público sobre a crise do clima apenas com suas narrativas − uma boa reflexão na semana em que se comemora o Dia da Terra. Por outro lado, a pesquisa indica que os eventos climáticos extremos representam uma oportunidade, desde que as explicações sobre por que eles estão acontecendo sejam bem fundamentadas − é a chamada ciência da atribuição. O estudo feito pela Annenberg, divulgado na abertura da conferência anual da Sociedade de Jornalistas Ambientais, envolveu mais de 1,5 mil adultos nos EUA, e não deixa dúvidas sobre a percepção de que algo mudou no clima, até mesmo entre os menos inclinados a acreditar nisso. Mais de quatro em cada dez entrevistados (45%) afirmam que as temperaturas em sua região foram mais altas do que o normal no verão passado. Dois terços (68%) dizem que o calor extremo ao ar livre às vezes ou frequentemente afeta suas atividades diárias. Metade (50%) afirma que a má qualidade do ar resultante de incêndios florestais às vezes (31%), frequentemente (12%) ou muito frequentemente (7%) afetou seu cotidiano, enquanto 29% afirmam que as inundações produzidas às vezes (20%), frequentemente (6%) ou muito frequentemente (3%) causaram problemas. Inclinação política e clima A pesquisa constatou que mais da metade dos americanos é fortemente ou até certo ponto a favor de medidas governamentais destinadas a mitigar os efeitos das alterações climáticas decretadas recentemente. Como de hábito, conforme pesquisas anteriores, os que votam no partido Democrata são os mais favoráveis, enquanto a adesão dos Republicanos é menor de forma geral. A concessão de créditos fiscais para carros elétricos, por exemplo, é vista com simpatia por 46% dos participantes do estudo, dos quais 71% democratas e 26% republicanos. A distância entre republicanos Quem acredita mais nas mudanças climáticas? Os que sentem na pele seus efeitos, mostra nova pesquisa e democratas que aprovam empréstimos a fundo perdido para comunidades rurais que melhoram a eficiência energética é de 49 pontos percentuais, e a dos que acham boa ideia tributar empresas com base em suas emissões de carbono é de 48 pontos. Mas quando os pesquisadores examinaram as opiniões daqueles que admitem ter sofrido diretamente os efeitos das mudanças climáticas os dois lados se aproximam. Segundo o estudo da Annenberg, os republicanos que relatam ter sofrido condições meteorológicas extremas apoiam mais as políticas de mitigação das mudanças climáticas do que aqueles que não o fazem. Katherine Hall Jamieson, diretora do Centro de Políticas Públicas da Escola de Comunicação Annenberg, disse que “os resultados apontam para uma nova área importante, na qual a comunicação desempenha um papel crucial”. Como o jornalismo pode convencer? As impressões reveladas na pesquisa estão em linha com algumas das recomendações contidas em um guia para jornalistas feito pela coalizão de jornalismo ambiental Covering Climate Now. O documento lembra que as alterações climáticas são uma grande pauta global, mas, na sua essência, afetam gente comum. E afirma que o público deseja uma cobertura que reflita isso, incluindo perspectivas locais sobre como as pessoas estão vivenciando as mudanças climáticas e o que podem fazer a respeito. A Covering Climate Now também recomenda aos jornalistas um esforço para entender o próprio público, observando o quanto ele sabe sobre a questão e suas convicções − incluindo aquelas associadas à inclinação política. Isso ajuda a calibrar o conteúdo, em sintonia com o grau de conhecimento e crenças nem sempre apoiadas na ciência. O guia completo pode ser visto aqui.

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