Jornalistas&Cia 1456

Edição 1.455 página 49 Nunca trabalhei com Ziraldo. Não tenho, portanto, memórias de redação. Mas convivi com ele e minhas memórias são de vida. Ziraldo começou a carreira na publicidade, na house agency de uma loja de departamentos, em Belo Horizonte. Quem o contratou foi meu avô, de quem se tomou amigo. Fez amizade ainda com meu pai, que também trabalhava na loja. Tempos depois, ambos já mortos, Ziraldo me disse que o avô era amigo, mas meu pai era mais generoso. Foi um elogio de quem o conhecia de perto. No Rio, já renomado, de bem com a vida, nunca se soube de inimizades de Ziraldo. Mas ele tinha uma desavença com Millôr Fernandes, e não falava com ele. Foi desde de quando a ditadura fez uma devassa no Pasquim, prendendo toda a redação. Ziraldo comentou que Millôr, o único a se esconder e escapar, fora alertado pelo irmão Hélio Fernandes, então dono da Tribuna da Imprensa. E não avisou aos amigos do Pasquim, que se consideravam uma família na resistência. Ziraldo evitava falar no assunto, mas não esqueceu. Quando eu estudava na PUC, Ziraldo fez uma palestra para o curso de Comunicação. Comentei com meu pai, que resolveu ir assistir para revê-lo. No meio da palestra, Ziraldo aponta para ele e diz: “Aquele careca ali foi meu primeiro patrão”. Com todo mundo olhando, o careca ali, que era tímido, quase morreu de vergonha. Passaram-se os anos. Morei em São Paulo e, depois de me divorciar, voltei para o Rio, procurando trabalho com todos os amigos. Ziraldo, bem ao estilo dele, me convidou para um drink no extinto Antonio’s. Comentou sobre a recente separação dele de Vilma, que reciclou a aparência e o fez se arrepender. Sobre minha procura por trabalho, ofereceu: “Faz um jantarzinho na sua casa, que eu levo quem você quiser”. Estava destruída, e não tive forças para organizar o tal jantar. Não aproveitei a chance que me deu; além de artista supertalentoso, um mestre da generosidade. Depois disso, só o encontrei em eventos, quando levava meus filhos para o conhecerem ou, sem crianças, quando terminava uma sessão de autógrafos e ele podia parar para conversar com alguns. A figura pública tão cordial não demonstrava como essas últimas aparições eram exaustivas para ele, que reclamava sem cerimônia. Não mais o vi, só guardei no coração o sorriso flicts e a alma de quem conhecia (como o título de seu livro de 2020) as cores e os dias da semana. n O texto desta semana é de Cristina Vaz de Carvalho, editora de J&Cia no Rio de Janeiro. Uma homenagem a Ziraldo Alves Pinto, falecido em 6/4 (ver pág. 25), a que se soma toda a equipe desta newsletter. Generosidade, o grande traço de Ziraldo Cristina Vaz de Carvalho Ziraldo Jornalistas&Cia é um informativo semanal produzido pela Jornalistas Editora Ltda. • Diretor: Eduardo Ribeiro ([email protected]–11-99689-2230)•Editorexecutivo: Wilson Baroncelli ([email protected] – 11-99689-2133) • Editor assistente: Fernando Soares ([email protected] – 11-97290-777) • Repórter: Victor Felix ([email protected] – 11-99216-9827) • Estagiária: Hellen Souza ([email protected]) • Editora regional RJ: Cristina Vaz de Carvalho 21-999151295 ([email protected]) • Editora regional DF: Kátia Morais, 61-98126-5903 ([email protected]) • Diagramação e programação visual: Paulo Sant’Ana ([email protected] – 11-99183-2001) • Diretor de Novos Negócios: Vinícius Ribeiro ([email protected] – 11-99244-6655) • Departamento Comercial: Silvio Ribeiro ([email protected] – 19-97120-6693) • Assinaturas: Armando Martellotti ([email protected] – 11-95451-2539)

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