Edição 1.455 página 25 Últimas n O cartunista, escritor e jornalista Ziraldo Alves Pinto morreu na tarde de sábado (6/4), em casa, no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro. Tinha 91 anos e a causa da morte foi falência múltipla dos órgãos. Depois de sofrer AVC por três vezes, estava acamado e não levava vida pública por recomendação médica. O velório foi na manhã de domingo (7/4) no Museu de Arte Moderna, e o sepultamento, à tarde, no Cemitério São João Batista. Deixa viúva sua segunda esposa e três filhos do primeiro casamento. A missa de sétimo dia será na sexta feira (12/4), às 20h, na paróquia Santa Margarida Maria, na Lagoa. u Mineiro de Caratinga, a família se mudou para Belo Horizonte por iniciativa da mãe, sob o argumento de que “o céu de Caratinga era muito baixo”. Em entrevista, Ziraldo comentou que ela intuía o “baixo astral”. Formou-se em Direito, mas desde sempre demonstrou a inclinação para o desenho. Filiado ao PCB, mais tarde optou pelo PSol. u Nos anos 1950, passou a colaborar com o jornal Folha de Minas. Daí, passou às revistas A Cigarra e O Cruzeiro, dos Diários Associados. Na década seguinte, já no Rio, trabalhou no Jornal do Brasil, com charges políticas e cartuns. Dessa época são os personagens para adultos Jeremias, o Bom, Supermãe e Mineirinho. Em 1960, lançou A Turma do Pererê, primeira revista em quadrinhos brasileira de um único autor. Tinha a selva como cenário, e o mitológico Saci Pererê liderando um grupo com crianças indígenas e animais de nosso folclore. A revista foi publicada até 1964. u É de 1969 o início da publicação do semanário O Pasquim. Com foco na contracultura e na oposição ao regime militar, teve entre seus fundadores e diretores a chamada “turma do Pasquim”. Além de Ziraldo, nela estavam Jaguar, Tarso de Castro e Sérgio Cabral, Millôr e Luiz Carlos Maciel, Henfil, Paulo Francis, Ivan Lessa e Ruy Castro, além de outros notáveis do jornalismo nacional. Maior fenômeno editorial do País, começou com modestos (para a época) 20 mil exemplares e, em seis meses, atingiu mais de 250 mil. A decretação do AI-5, no mesmo ano, e a consequente instauração do período mais sombrio da ditadura, levou à prisão a maior parte da redação do Pasquim. Ziraldo foi preso em casa e levado para o Forte de Copacabana. A expectativa de que o jornal deixasse de circular não se concretizou. O remanescente da redação recrutou novos colaboradores entre intelectuais brasileiros, n Maurício Dias morreu no domingo (7/4), em casa, aos 76 anos, em decorrência de um problema pulmonar crônico. Velório e cremação do corpo foram na segunda-feira (8/4), no Memorial do Carmo. Deixou três filhos. u Natural de Carangola, era um mineiro apaixonado pelo Rio. A revista CartaCapital, de que foi diretor, conta em seu obituário que “preferia frequentar a ponte aérea a se estabelecer em São Paulo, sede da publicação”. u Teve longa carreira no jornalismo brasileiro, atuando nos principais veículos do País. Na revista Veja, trabalhou como repórter para o diretor Mino Carta, o que definiria seu rumo profissional a partir de então. Chefiou a sucursal Rio da IstoÉ, e seguiu Carta quando este saiu da revista, no início dos anos 1990. Passou então ao Jornal do Brasil, quando editou a coluna Informe JB, espaço de prestígio só assinado por nomes relevantes do jornalismo. u Em 2004, lançou o livro A mentira das urnas – Crônicas sobre dinheiro e fraudes nas eleições, resultado do que soube em sua experiência como editor e colunista, e fez um levantamento histórico sobre o Caixa 2 na vida política brasileira. u Reencontrou Mino Carta na revista CartaCapital, e ali esteve por mais de uma década. Foi diretor adjunto de Redação, editor especial e titular da coluna Rosa dos ventos. u Deixou registrada, em entrevista para o Núcleo Piratinga, uma ideia que bem definiu sua opção pela imprensa alternativa, partindo de um antagonismo proposto por Hegel, que é a relação do senhor com o escravo: o jornalista, depois de algum tempo, assimila a consciência do patrão. O adeus a Ziraldo, patrimônio cultural brasileiro,... e a circulação cresceu. O Pasquim vendia em bancas mais do que as revistas Veja e Manchete somadas. Por suas críticas ao regime, Ziraldo foi preso três vezes. u Como autor de livros – histórias aparentemente para crianças, que cativavam também os adultos –, Ziraldo começou com O menino maluquinho, de 1980. Inicialmente uma revista em quadrinhos, logo se tornou um livro de grande repercussão: vendeu quatro milhões de exemplares, foi adaptado para o cinema e a TV. A este seguiram-se Flicts, um clássico; O bichinho da maçã (na série, Cada um mora onde pode) e mais de 20 livros, alguns títulos desdobrados em séries. Deles, Menina Nina: duas razões para não chorar foi escrito e ilustrado para sua neta, após a morte da avó. u Versátil, continuou a colaborar com diversas publicações, criou cartazes e marcas publicitárias, descritos por Márcio Ehrlich. Em 1999, lançou a revista Bundas, uma sátira ao mundo das celebridades exposto na revista Caras. u Premiado com o Jabuti de Literatura, ganhou ainda o Internacional do Humor no Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas, Bélgica; o italiano Andersen − Il mondo dell’infanzia; o Ibero-americano de Humor Gráfico Quevedos, do governo espanhol. Suas ilustrações figuraram em publicações internacionais como as revistas Private Eye, da Inglaterra; Plexus, da França, e Mad, dos Estados Unidos. Em mais de seis décadas de carreira, teve os livros traduzidos para vários idiomas. u Nelson Motta assim definiu o homem de múltiplos talentos – jornalista, cartunista, chargista, escritor, pintor: “um patrimônio cultural brasileiro”. (Ver também Memórias da Redação, na pág. 49) Autorretrato de Ziraldo com alguns de seus personagens ...e a Maurício Dias Maurício Dias CartaCapital
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