Jornalistas&Cia 1456

Edição 1.456 - 10 a 16 de abril de 2024 O imenso desafio de continuar transformando e mantendo a relevância do Jornalismo Nesta data mais do que especial em que celebramos o Dia do Jornalista, homenageando a ABI, fundada em 7 de abril de 1908, 116 anos atrás, Jornalistas&Cia circula com uma edição também mais do que especial, em que apresenta os resultados da pesquisa A Inteligência Artificial para Jornalistas Brasileiros, produzida pelo grupo de pesquisa Tecnologias, Processos e Narrativas Midiáticas do Curso de Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing, de São Paulo. Às voltas com quase duas décadas e meia de profundas transformações − primeiro com a chegada e disseminação da web na virada do milênio, e, dez anos depois, com o surgimento, consolidação e multiplicação das redes sociais, impactando conteúdos, audiências, verbas, modelos de negócios, salários, nível de emprego etc. −, a bola da vez agora é a inteligência artificial (IA), em especial a generativa. Ela, do mesmo modo, tem tirado o sono de muita gente, embora ainda seja precoce falar em redução de mercado, extinção de atividades e tudo aquilo que, décadas atrás, vimos acontecer em áreas jornalísticas como diagramação, fotografia, revisão, cujas existências foram drasticamente reduzidas. Entender esse novo fenômeno e como ele vai impactar a produção jornalística é o propósito desse estudo, que está sendo organizado em duas etapas: esta primeira, que é o resultado de uma pesquisa quantitativa, feita pela metodologia de escala Likert, que está sendo detalhado neste especial J&Cia; e uma segunda, qualitativa, que será realizada ao longo do segundo semestre para aprofundar as análises sobre as novas e enormes transformações no modo de fazer, pensar, distribuir, comercializar e viver o jornalismo. Apresentado em primeira mão nessa terça-feira, 9 de abril, no campus da ESPM em São Paulo para os alunos de graduação do Curso de Jornalismo da instituição, o projeto, que tem apoio deste J&Cia, contou com a participação dos professores Antonio Rocha Filho, Cicelia Pincer, Edson Capoano, Maria Elisabete Antonioli, também coordenadora do curso, e Patrícia Rangel, além de Eduardo Ribeiro, diretor de J&Cia. A apresentação, que reuniu alunos do primeiro ao quarto semestres do Curso de Jornalismo da ESPM, teve ainda com as presenças dos professores Erivam de Oliveira e Francine Altherman. Honrada com o convite para apoiar e participar da iniciativa, a equipe deste J&Cia parabeniza os professores, os alunos e a ESPM pelo projeto e espera que ele contribua para o aprimoramento tanto da atividade jornalística quanto do ensino de jornalismo no Brasil. Importante registrar também os nossos agradecimentos às marcas que apoiaram esta nossa edição especial, numa clara demonstração de valorização do jornalismo e dos jornalistas. Boa leitura! Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli ESPECIAL DIA DO JORNALISTA Eduardo Ribeiro (esq.), Edson Capoano e Antonio Rocha Filho

Edição 1.456 página 2 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA Pesquisa Jornalismo ESPM e Jornalistas&Cia mostra que um em cada quatro jornalistas no País não usa inteligência artificial no trabalho; maioria utiliza IA, mas sem treinamento A maioria dos jornalistas brasileiros usa a inteligência artificial (IA) no trabalho, porém sem receber treinamento sobre essa tecnologia. Apesar de ser adotada de alguma maneira em tarefas jornalísticas por mais da metade (56%) dos profissionais, uma parcela significativa da categoria (26,5%, um de cada quatro), diz não usar IA de nenhuma forma no seu trabalho. Esses são alguns dos principais resultados da primeira fase do estudo A Inteligência Artificial para Jornalistas Brasileiros, realizado pelo grupo de pesquisa Tecnologias, Processos e Narrativas Midiáticas − ESPM, formado por professores do curso de Jornalismo da ESPM-SP, com parceria, apoio e divulgação do Jornalistas&Cia. A pesquisa tem como objetivos identificar o nível de conhecimento da inteligência artificial generativa por jornalistas atuantes no País e conferir o grau de conhecimento e de utilização de suas ferramentas na produção e nos negócios jornalísticos, bem como as preocupações que envolvem seu uso na atividade profissional. Os nomes dos participantes são mantidos em sigilo e os dados obtidos serão utilizados para trabalhos acadêmicos e para a produção de notícias sobre o tema no Jornalistas&Cia. Na primeira fase do estudo, realizada de 19 de dezembro de 2023 a 24 de fevereiro último, 423 jornalistas responderam a um questionário online com 13 perguntas em escala Likert (com alternativas de concordância a discordância total com as perguntas). Entre os respondentes, há profissionais das cinco regiões do País, de 21 das 27 unidades da federação, de diferentes faixas etárias, áreas de atuação, funções e vínculos empregatícios. Resultados Os primeiros resultados da pesquisa revelam que o índice de respondentes que concordam parcial ou totalmente com a pergunta sobre a utilização de IA em tarefas jornalísticas é de 56%. Porém, a soma dos percentuais de jornalistas que discordam parcial ou totalmente (38,3%) mostra que um terço dos profissionais não usam essa tecnologia para suas atividades. Considerando apenas o índice de discordância total, chega-se ao índice 26,5% de respondentes, um quarto do total, que não usam IA de forma nenhuma em tarefas jornalísticas.

latinamericafund.com Criada100%comIA

Edição 1.456 página 4 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA Os dados iniciais da pesquisa mostram que, quando questionados se recebem ou já receberam treinamento sobre uso de inteligência artificial no jornalismo, 76,5% dos profissionais discordam parcial ou totalmente. Considerando apenas a discordância total, o percentual chega a 69,2%, o que significa que sete em cada dez profissionais nunca tiveram treinamento algum para o uso de IA no jornalismo. As respostas ao questionário mostram também que, embora em sua maioria não recebam treinamento, dois terços dos jornalistas (66,9%) consideram a possibilidade de se capacitar para o uso de IA no trabalho, enquanto um em cada cinco (20,8%) vê algum tipo de impossibilidade. Sobre as atividades do trabalho jornalístico em que o uso de IA é mais presente, a pesquisa aponta a produção de conteúdo, em que a maioria dos profissionais (53,9%) recorrem ao uso dessa tecnologia. Na atividade de apuração, um em cada quatro (27,2%) usam IA. Na distribuição, o índice é de 20,1%, e nas operações comerciais, de 14,9%. Preocupações e idade A pesquisa traz também dados sobre a preocupação dos jornalistas com relação aos impactos da inteligência artificial no seu mercado de trabalho. Mais da metade (52,7%) dos participantes do estudo esperam impactos positivos. Porém, o receio de efeitos negativos pesa na percepção dos jornalistas sobre uma possível redução de vagas de trabalho na área. Mais de dois terços dos participantes (68,3%) esperam cortes de postos de trabalho provocados pela inteligência artificial. Pelos dados da pesquisa, é possível perceber que a faixa etária é um fator importante na variação das respostas quanto a conhecimento, utilização e preocupações dos profissionais com a inteligência artificial no jornalismo. Os mais jovens acreditam conhecer mais, usam mais e têm menos preocupações quanto a possíveis efeitos da IA no jornalismo, em comparação aos profissionais mais velhos. Exemplos de utilização O questionário da primeira fase da pesquisa também trouxe a opção de respostas a cinco perguntas abertas, qualitativas, em que os jornalistas indicam exemplos de usos e considerações sobre a inteligência artificial no jornalismo. As respostas indicam que a IA é utilizada principalmente em quatro eixos no jornalismo: 1) na otimização de processos e para garantir a qualidade do produto final; 2) na produção de conteúdo, da geração de ideias até a revisão final; 3) na distribuição de conteúdo, pela automação de tarefas, como programação e personalização; 4) nas operações comerciais, em que é ressaltada a importância de compreender e supervisionar o uso.

Edição 1.456 página 6 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA Quanto ao uso na apuração, a IA aparece como ferramenta de apoio à pesquisa, destacando-se menções a verificação e checagem de dados, coleta e análise de informações, tradução, interpretação, revisão e edição de textos. Na produção de conteúdo, etapa em que a inteligência artificial é mais usada pelos jornalistas participantes, a IA aparece principalmente na produção e edição de textos, pesquisa e análise de conteúdo e produção de material multimídia. Apesar do uso limitado na distribuição, as respostas dos profissionais indicam que a automatização de distribuição e uso da tecnologia em estratégias de SEO são majoritariamente mencionadas pelos participantes do estudo. Com relação às operações comerciais, área em que é menos utilizada no jornalismo de acordo com a amostra da pesquisa, a IA é empregada para agilizar processos, obter confirmações de exibição e na identificação do perfil do públicoalvo. Diante de uma questão que pedia indicação de outros usos de IA em jornalismo, os respondentes mencionam principalmente quatro grupos de ações: 1) pesquisa e distribuição; 2) transcrição e tradução; 3) produção de conteúdo; 4) revisão e correção de texto. Nessa questão, aparecem respostas mais específicas, como uso de IA em roteiros de podcasts e na sugestão de pautas. Segunda fase A pesquisa A Inteligência Artificial para Jornalistas Brasileiros terá uma segunda fase, que consistirá em entrevistas abertas, qualitativas, com o propósito de aprofundar respostas relativas ao uso de ferramentas de inteligência artificial na prática jornalística, apontadas na primeira etapa. Os jornalistas serão selecionados por representatividade de perfil. Ao todo, 254 (60%) dos respondentes da primeira fase manifestaram interesse em participar das entrevistas, que serão realizadas no segundo semestre deste ano. Responsável pelo estudo, o grupo de pesquisa Tecnologias, Processos e Narrativas Midiáticas − ESPM é formado pelos jornalistas Antonio Rocha Filho, Cicélia Pincer, Edson Capoano, Elisabete Maria Antonioli e Patrícia Rangel, professores do curso de Jornalismo da ESPM-SP. No Jornalistas&Cia, a coordenação dos trabalhos referentes à pesquisa é do diretor Eduardo Ribeiro e do editor executivo Wilson Baroncellli. Os primeiros resultados da pesquisa foram divulgados nesta terça-feira, 9 de abril, em evento no campus Álvaro Alvim da ESPM-SP, com a participação dos professores do grupo de pesquisa e representantes do J&Cia. Estudantes e professores do curso estiveram presentes à apresentação. Esta edição especial traz os resultados preliminares da primeira fase do estudo. Nas próximas páginas, está um resumo dos dados, com alguns destaques da pesquisa. Interessados em conhecer mais sobre o levantamento podem contatar os pesquisadores responsáveis pelo estudo pelo e-mail [email protected].

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Edição 1.456 página 8 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA Visão geral Proporcionalmente, a maior parte dos jornalistas participantes da pesquisa tem de 35 a 44 anos (21,7%). Há ligeira predominância de mulheres cisgênero (48,7%). Jornalistas brancos são a grande maioria (75,9%). A Região Sudeste representa a maior parte dos respondentes (68,5%), sendo o estado de São Paulo o que tem o maior número de representantes (56,7%). Quase metade dos participantes atua na cidade de São Paulo. Cerca de um terço dos profissionais trabalha com registro em carteira (30%, maior índice entre os tipos de vínculo empregatício). Quanto à área de atuação, proporcionalmente, o maior número de respondentes trabalha com mídia escrita (digital ou impressa − 39,2%). A função mais presente entre os respondentes é a de produtor de conteúdo (30%). Faixa etária Entre os respondentes, há profissionais de todas as faixas etárias. Grupo proporcionalmente maior tem de 35 a 44 anos (21,7%), seguido pelos de 45 a 54 Perfil dos jornalistas participantes GBR

Edição 1.456 página 9 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA Até 24 – 25 ( 5,9%) De 25 a 34 – 74 (17,5%) De 35 a 44 – 92 (21,7%) De 45 a 54 – 89 (21%) De 55 a 64 – 88 (20,8%) 65 ou mais – 55 (13%) Faixa etária (21%) e 55 a 64 (20,8%). A soma dessas três faixas etárias, a partir dos 35 anos (63,5%, quase dois terços do total), indica predominância de profissionais maduros, em plena atividade no mercado de trabalho. Febraban

Edição 1.456 página 10 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA Gênero A distribuição é equilibrada entre mulheres e homens cisgênero, de acordo com a identidade de gênero indicada nas respostas: 48,7% (mulheres) x 48,2% (homens). Há baixo índice de homens transgênero (0,5%) e inexistência de respostas de mulheres transgênero. Mulher cisgênera – 206 (48,7%) Homem cisgênero – 204 (48,2%) Prefiro não dizer – 6 (1,4%) Outro – 5 (1,2%) Homem transgênero – 2 (0,5%) Mulher Transgênera, Travesti, Transfeminino, Transmasculino e Não-binário - 0 Gênero Raça / etnia O maior percentual de respondentes declara-se da raça/etnia branca, com 75,9%, seguida por parda (16,3%) e preta (5%). Jornalistas negros (soma de pardos e pretos) são 21,3% do total. Representantes da raça/ etnia amarela são 1,9%, e indígenas, 0,2%. Foi adotada a metodologia do IBGE, que pesquisa a cor ou raça da população brasileira com base na autodeclaração dos respondentes. Branca – 321 (75,9%) Parda – 69 (16,3%) Preta – 21 (5%) Amarela – 8 (1,9%) Indígena – 1 (0,2%) Prefiro não dizer – 2 ( 0,5%) Outra – 1 (0,2%) Raça / etnia

Edição 1.456 página 11 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA SP - 238 (56,4%) RJ – 30 (7,1%) PE – 26 (6,2%) PR – 23 (5,5%) DF – 19 (4,5%) MG – 18 (4,3%) RS – 15 (3,6%) BA – 10 (2,4%) SC – 8 (1,9%) CE – 5 (1,2%) AM – 5 (1,2%) RN – 4 (0,9%) AL – 3 (0,7%) GO – 3 (0,7%) MA – 3 (0,7%) ES – 3 (0,7%) PI – 2 (0,5%) PA – 2 (0,5%) MT – 2 (0,5%) TO – 2 (0,5%) MS – 1 (0,2%) Estado onde atua RO, AC, AP, RR, PB, SE – 0 Estado onde atua Jornalistas do estado de São Paulo são maioria (56,7%), seguidos por Rio de Janeiro (7,1%), Pernambuco (6,2%), Paraná (5,5%) e Distrito Federal (4,5%). Não aparecem na amostra representantes de seis das 27 unidades da federação: Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Paraíba e Sergipe. Região do País Há respondentes em todas as regiões do País. A Região Sudeste tem o maior percentual de participantes, com 68,5%, mais de um terço. Nordeste (12,5%), Sul (10,9%), Centro-Oeste (5,9%) e Norte (2,1%) completam o quadro. Cidade onde atua São Paulo é a mais citada pelos respondentes, com 45,9%, quase metade do total. Em seguida vêm Recife (5,7%), Rio de Janeiro (5,4%), Brasília (4,5%) e Curitiba (4,3%). Região Sudeste – 289 (68,5%) Região Nordeste – 53 (12,5%) Região Sul – 46 (10,9%) Região Centro-Oeste – 25 (5,9%) Região Norte – 9 (2,1%) Região do país Pirelli

Edição 1.456 página 12 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA Vínculo empregatício Quase um terço dos respondentes (30%) trabalha com registro em carteira de trabalho. Logo depois vêm os profissionais que atuam como pessoa jurídica (PJ), com 25,3%. Há 13% de profissionais que trabalham como freelancers. Profissionais com outros vínculos empregatícios somam 27,9%, mais de um quarto dos participantes. Este aspecto será detalhado na segunda fase da pesquisa. Contratado com carteira assinada – 127 (30%) Contratado como pessoa jurídica (PJ) – 107 (25,3%) Não contratado (colaborador free-lancer) – 55 (13%) Contratado por serviço (job) – 16 (3,8%) Outro/s - 118 (27,9%) Vínculo empregatício Escrito (impresso/ digital) - 166 (39,2%) Assessoria de Comunicação/ Imprensa – 127 (30%) Audiovisual (TV/ streaming) – 42 (9,9%) Mídias sociais – 32 (7,6%) Sonoro (rádio/podcast) – 14 (3,3%) Educação / pesquisa – 14 (3,3%) Outra/s – 28 (6,6%) Área de atuação Área de atuação Proporcionalmente, a maior parte dos respondentes (39,2%) atua em mídia escrita (digital ou impressa). Em seguida vêm os profissionais que trabalham em assessoria de comunicação (30%). Em terceiro aparece o setor de audiovisual (9,9%). Há também mídias sociais (7,6%), sonoras (rádio/podcast) − 3,3%), educação/pesquisa (3,3%) e outras áreas (6,6%) A família +Admirados da Imprensa cresceu Quer saber mais? Vinicius Ribeiro – (11) 9.9244.6655

Edição 1.456 página 13 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA Produtor de conteúdo (texto, foto, vídeo) – 127 (30%) Assessor de comunicação / imprensa – 76 (18%) Diretor – 59 (13,9%) Editor-chefe – 48 (11,3%) Editor (texto, áudio, vídeo) – 45 (10,6%) Coordenador – 30 (7,1%) Professor / pesquisador – 18 (4,3%) Outra/s – 20 (4,7%) Função Função As duas funções mais presentes entre os respondentes são produtor de conteúdo (30%) e assessor de comunicação / imprensa (18%), ambas mais voltadas à produção. A soma dessas duas funções, 48%, quase metade do total, mostra um perfil de participantes equilibrado entre profissionais de produção e de cargos diretivos, como diretor (13,9% dos respondentes), editor-chefe (11,3%), editor (10,6%) e coordenador (7,1%), que somam 42,9%. Há também professores / pesquisadores, com 4,3%. Outras funções não especificadas são 4,7%.

Edição 1.456 página 14 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA discordo totalmente – 7 (1,7%) discordo parcialmente – 20 (4,7%) não concordo nem discordo – 30 (7,1%) concordo parcialmente – 206 (48,7%) concordo totalmente – 160 (37,8%) 1 1 O nível de conhecimento cai conforme a faixa etária avança. O índice de concordância (parcial ou total) sobre o conhecimento de IA é de 93,2% entre os jornalistas de 25 a 34 anos. A taxa cai para 76,4% entre os profissionais de 65 anos e mais A taxa de concordância com a possibilidade de a inteligência artificial assumir tarefas jornalísticas é bem menor entre os profissionais de mídia sonora (rádio/podcast), com 42,8% de concordância (apenas parcial, nenhuma total). A área de educação / pesquisa aparece na outra ponta, com maior concordância (78,6%). Conheço o que é inteligência artificial e como ela se relaciona com o jornalismo Visão geral A inteligência artificial não é algo desconhecido para os jornalistas. A soma dos percentuais entre os que concordam parcial ou totalmente com a afirmação é de 86,5%, o que indica que a grande maioria considera que conhece IA e sabe como ela se relaciona com o jornalismo. Não concordam nem discordam 7,1%. Discordam total ou parcialmente 6,4%. Apenas 1,7% discorda totalmente. Eu acredito que a IA pode assumir tarefas jornalísticas Visão geral Entre os respondentes, 60% concordam total ou parcialmente que a IA pode assumir tarefas jornalísticas. Apesar da concordância da maioria, 34,3% dos profissionais, cerca de um terço do total, apresentam discordância total ou parcial quanto ao tema. RESULTADOS DA PESQUISA: Perguntas sobre conhecimento de inteligência artificial no jornalismo discordo totalmente – 52 (12,3%) discordo parcialmente – 93 (22%) não concordo nem discordo – 24 (5,7%) concordo parcialmente – 206 (48,7%) concordo totalmente – 48 (11,3%) 2 2 O BOM JORNALISMO INSPIRA E PROVOCA MUDANÇAS Nossa homenagem aos profissionais de imprensa pelo compromisso com a informação de qualidade, relevante e confiável, inspirando os debates cada vez mais necessários à nossa sociedade. PARABÉNS!

Edição 1.456 página 15 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA A utilização é maior nas faixas etárias mais baixas, atingindo o maior índice entre os profissionais de 25 a 34 anos (66,2% de concordância, total ou parcial). O grau de utilização cai conforme a idade avança, até chegar ao mais baixo entre os jornalistas de 65 anos e mais (41,8%). O uso é maior em assessoria de comunicação / imprensa, com 61,4% de concordância total ou parcial. O uso é menor em mídia sonora (35,7% de concordância) e audiovisual (42,9%). Jornalistas jovens têm um grau muito maior de concordância com o próprio preparo para utilizar IA em operações jornalísticas. A taxa é de 72% entre os profissionais de até 24 anos e menor nas demais faixas etárias (em torno dos 50%). O índice mais baixo aparece entre os jornalistas de 65 anos e mais (43,2%). Os profissionais que se declaram pretos apresentam índice bem menor de concordância com o próprio preparo para usar IA em operações jornalísticas do que os de outras raças/etnias com maior representatividade na amostra: 33,3% (concordância, total ou parcial). Amarelos (62,5% de concordância), pardos (56,5%) e brancos (51,7%) têm os maiores índices. discordo totalmente – 113 (26,5%) discordo parcialmente – 50 (11,8%) não concordo nem discordo – 24 (5,7%) concordo parcialmente – 162 (38,3%) concordo totalmente – 75 (17,7%) 3 Eu utilizo IA em tarefas jornalísticas Visão geral Mais da metade dos jornalistas (56% de concordância, total ou parcial) afirmam usar inteligência artificial em tarefas jornalísticas. Porém, mais de um terço (38,3% de discordância, sendo 26,5% discordância total, um quarto de todos os respondentes) indica não usar. 3 Eu me sinto preparado para usar tecnologias de IA nas operações jornalísticas Visão geral Pouco mais da metade dos jornalistas se sentem preparados para usar IA em operações jornalísticas, com 51,8% de concordância (soma de parcial e total). Aproximadamente um terço (35%) não se sente preparado. discordo totalmente – 71 (16,8%) discordo parcialmente – 77 (18,2%) não concordo nem discordo – 56 (13,2%) concordo parcialmente – 164 (38,8%) concordo totalmente – 55 (13%) 4 4

Edição 1.456 página 16 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA discordo totalmente – 91 (21,5%) discordo parcialmente – 84 (19,9%) não concordo nem discordo – 50 (11,8%) concordo parcialmente – 130 (30,7%) concordo totalmente – 68 (16,1%) 5 discordo totalmente – 292 (69,2%) discordo parcialmente – 30 (7,1%) não concordo nem discordo – 36 (8,5%) concordo parcialmente – 36 (8,5%) concordo totalmente – 28 (6,6%) 6 Estou preocupado em não saber como utilizar IA no jornalismo Visão geral O índice de profissionais que se sentem preocupados em não saber como utilizar IA no jornalismo é de 46,8% (soma de concordância parcial e total), quase metade dos respondentes. Os que discordam (parcial ou totalmente) quanto à preocupação somam 41,4%. Manifestaram neutralidade 11,8% (nem concordam nem discordam). Os jornalistas mais velhos, de 65 anos ou mais, têm maior preocupação quanto à própria falta de preparo, com 54,6% de concordância (parcial e total). Os mais jovens, de até 24 anos, têm o menor grau de preocupação, com 36%. O índice de falta de treinamento em IA é alto (acima de 70% de discordância parcial ou total) em todas as faixas etárias. A situação é mais crítica entre os profissionais de até 24 anos, em que atinge o maior índice, com 96%. Nessa faixa etária, 4% se declaram neutros e nenhum jornalista expressa qualquer nível de concordância (parcial ou total). As taxas de falta de treinamento são altas entre jornalistas de todas as raças/etnias. Porém, o índice é mais alto entre profissionais que se declaram pretos, com 90% de discordância (soma de parcial e total), contra 79,7% entre pardos e 75,1% entre brancos. Profissionais de audiovisual têm o menor índice de treinamento, com 85,7% de discordância (soma de parcial e total). 5 6Recebi/recebo algum tipo de treinamento para utilização de IA no meu trabalho Visão geral A grande maioria dos jornalistas diz não receber ou ter recebido treinamento: 76,3% discordância, na soma de concordância parcial e total. Os que discordam totalmente da afirmação (o que significa que não receberam nenhum treinamento) são 69,2%, mais de dois terços do total de respondentes. Apenas uma pequena parcela diz o contrário (15,1% de concordância). Os que concordam totalmente são apenas 6,6%.

Edição 1.456 página 17 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA discordo totalmente – 39 (9,2%) discordo parcialmente – 49 (11,6%) não concordo nem discordo – 52 (12,3%) concordo parcialmente – 145 (34,3%) concordo totalmente – 138 (32,6%) 7 discordo totalmente – 195 (46,1%) discordo parcialmente – 70 (16,5%) não concordo nem discordo – 43 (10,2%) concordo parcialmente – 94 (22,2%) concordo totalmente – 21 (5%) 8 Tenho possibilidade de me capacitar no uso de IA (tempo, capital, disponibilidade, apoio laboral etc.) Visão geral A maioria considera a possibilidade de se capacitar no uso de IA (66,9% de concordância − soma de parcial e total), enquanto 20,8% apontam alguma impossibilidade (entre discordância parcial e total). Homens cisgênero têm disponibilidade maior para se qualificarem em IA, com 73% de concordância (parcial ou total), do que mulheres cisgênero, com 60,2%. Profissionais contratados por job têm maior disponibilidade, com 87,6% de concordância (soma de total ou parcial). Profissionais com carteira assinada têm o menor índice de concordância, com 59% e o maior grau de discordância (24,4%), o que indica menor disponibilidade para se qualificarem. Entre as raças/etnias com maior representatividade na amostra, o uso de IA na apuração é significativamente menor entre os jornalistas pretos, com apenas 9,5% de concordância parcial (nenhuma total), contra 28,7% entre brancos e 27,5% entre pardos. 7 Perguntas sobre usos e considerações sobre utilização de IA Uso IA na apuração Visão geral Quase metade dos jornalistas não usam inteligência artificial na apuração de nenhuma maneira (46,1% de discordância total). Se somadas as taxas de discordância parcial e total, o índice de não utilização chega a quase dois terços da amostra (62,6%). Cerca de um em cada quatro profissionais usa IA na apuração (27,2% de concordância parcial ou total). 8

Edição 1.456 página 18 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA Se concorda (sobre uso de IA na apuração), de que forma? 1. Ferramenta de apoio à pesquisa: “Utilizo IA como apoio na apuração, indicando novos caminhos para buscar informações.” 2. Verificação e checagem de dados: “A IA pode ajudar em alguns momentos, mas não descarta uma contra-apuração.” 3. Coleta e análise de dados: “Pode ser utilizada na análise de dados, tratamento de dados oficiais e tabulação de grandes volumes de dados.” 4. Pesquisa e exploração de conteúdo: “Utilizada na pesquisa de imagens, conteúdos de arquivo e busca por informações científicas.” 5. Ferramenta de tradução e Interpretação: “Ajuda na interpretação de textos jurídicos e na busca por definições de termos científicos.” 6. Organização e estruturação de conteúdo: “Serve para abrir caminhos e na organização de ideias.” 7. Revisão e edição de textos: “Utilizada para corrigir algumas coisas do texto que passam despercebidas.” 8a Palavras mais citadas:

Edição 1.456 página 19 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA discordo totalmente – 125 (29,6%) discordo parcialmente – 49 (11,6%) não concordo nem discordo – 21 (5%) concordo parcialmente – 176 (41,6%) concordo totalmente – 52 (12,3%) 9 O uso de inteligência artificial na produção de conteúdo é muito maior entre os jovens. A porcentagem de concordância parcial ou total atinge 70,3% entre os jornalistas de 25 a 34 anos e vai caindo conforme a idade avança, até atingir o menor patamar entre os profissionais de 65 anos ou mais (apenas 27,5% de concordância parcial ou total). Se concorda (com uso de IA na produção de conteúdo), de que forma? 1. IA como ponto de partida e/ou final: “IA para sugestões e novas visões.” 2. Produção e edição de textos: “Produção de textos primários” 3. Pesquisa e análise de conteúdo: “Realização de pesquisas.” 4. Produção de multimídia: “Produção de imagens.” 5. Otimização e eficiência: “Automatização de operações mecânicas.” Uso IA na produção de conteúdo Visão geral A soma das taxas de concordância parcial e total com o uso de inteligência artificial na produção de conteúdo passa da metade dos jornalistas (53,9%). Em oposição, mais de um terço dos respondentes (41,2%) discordam parcial ou totalmente do uso de IA na produção de conteúdo, o que indica não utilização ou uso limitado. Manifestaram neutralidade (não concordam nem discordam) 5% dos profissionais. 9 9a Palavras mais citadas:

Edição 1.456 página 20 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA 10discordo totalmente – 198 (46,8%) discordo parcialmente – 38 (9%) não concordo nem discordo – 102 (24,1%) concordo parcialmente – 52 (12,3%) concordo totalmente – 33 (7,8%) Profissionais mais jovens, de até 24 anos, apresentam o menor índice de discordância (40%) e a maior taxa de concordância (28%). Uso IA em operações de distribuição Visão geral Discordância com uso de IA em distribuição alcança 55,8% da amostra. Cerca de um quarto dos respondentes (24,1%) ficaram neutros (não concordam nem discordam). Apenas um em cada cinco (20,1%) concordam parcial ou totalmente com o uso. 10 Dia do Jornalista 7 de abril Assim como cada notícia molda a visão do mundo, cada passo em direção a uma mobilidade consciente contribui para um futuro mais sustentável. A Bosch parabeniza todos os jornalistas e agradece a parceria para construirmos juntos um futuro mais verde enquanto contamos as histórias que importam. Acesse nosso site de imprensa e fique por dentro das novidades da Bosch https://www.bosch-press.com.br/pressportal/br/pt/news/ Sucesso aos profissionais neste dia!

Edição 1.456 página 21 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA 10aSe concorda (com uso de IA em operações de distribuição), de que forma? 1. IA como ferramenta de automatização: “Análise da IA na seleção de públicos-alvo e formatos de distribuição.” 2. Ferramentas e métodos de distribuição: “Publicação automática em redes sociais e plataformas.” 3. Automatização na distribuição: “Maior assertividade e eficiência na distribuição.” 4. Identificação de novos usos: “Coordenar a logística de distribuição.” 5. Uso da IA em estratégias de SEO: “Utilização da IA para otimização de SEO.” Palavras mais citadas: 11discordo totalmente – 214 (50,6%) discordo parcialmente – 31 (7,3%) não concordo nem discordo – 115 (27,2%) concordo parcialmente – 45 (10,6%) concordo totalmente – 18 (4,3%) 11 O índice de uso é baixo em todas as funções, mas um pouco maior entre profissionais com cargo de diretor (30,5% de concordância). A menor taxa de concordância aparece entre editores (6,7%, nenhuma total) e assessores de comunicação / de imprensa (7,9% entre concordância parcial e total). Uso de IA em operações comerciais Visão geral A utilização de IA em operações comerciais é muito baixa. Discordância (soma de parcial e total) com esse uso alcança 57,9% da amostra. Mais de um quarto dos respondentes (27,1%) ficaram neutros (nem concordam nem discordam). Apenas 14,9% concordam (parcial ou totalmente).

Edição 1.456 página 22 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA Se concorda (com uso IA em operações comerciais), de que forma? 1. Agilizar processos: “Organizar planilhas e definir tarefas.” 2. Adaptação e customização: “Ajuda na formação de textos e linguagens adaptadas à visão comercial.” 3. Identificação do perfil do público-alvo: “Ajuda na elaboração da abordagem com o cliente.” 11a Palavras mais citadas: Palavras mais citadas: Se usa IA no jornalismo de outra forma, favor especificar 1. Pesquisa e distribuição: “Produção de resumos sobre publicações.” 2. Transcrição e tradução: “Primeira versão de releases técnicos.” 3. Produção de conteúdo: “Ideias de capa e chamadas.” 4. Revisão e correção de texto: “Correção ortográfica de texto.” 5. Auxílio e apoio “Apoio em campanhas, ideias criativas e pesquisas.” 6. Usos específicos “Em fotos para restaurar áreas danificadas.” 12

Edição 1.456 página 24 ESPECIAL DIA DO JORNALISTA 14discordo totalmente – 25 (5,9%) discordo parcialmente – 58 (13,7%) não concordo nem discordo – 51 (12,1%) concordo parcialmente – 170 (40,2%) concordo totalmente – 119 (28,1%) 13discordo totalmente – 48 (11,3%) discordo parcialmente – 70 (16,5%) não concordo nem discordo – 82 (19,4%) concordo parcialmente – 178 (42,1%) concordo totalmente – 45 (10,6%) A IA traz impactos positivos para o mercado de trabalho em jornalismo Visão geral Mais da metade dos jornalistas (52,7%) concordam parcial ou totalmente que a IA traz impactos positivos para o mercado de trabalho em jornalismo. Cerca de um quarto dos profissionais (27,8%) discorda parcial ou totalmente. Um em cada cinco jornalistas (19,4%) manifestaram neutralidade. A IA pode reduzir o número de vagas no mercado de trabalho em jornalismo Visão geral Há receio entre a maioria dos jornalistas de que a IA pode provocar corte de vagas em jornalismo. A soma dos que concordam parcial ou totalmente com essa possibilidade chega a 68,3%, dois terços da amostra. A somatória dos que não se posicionam (12,1%) e dos que discordam (19,6%) diante da questão é de 31,7%, quase um terço da amostra. 13 As maiores taxas de concordância por faixa etária estão entre os profissionais mais jovens, de até 24 anos (68%, na soma de parcial e total) e de 25 a 34 anos (59,5%). O índice de concordância é maior entre profissionais com cargo de diretor (67,8% de concordância parcial ou total), seguido pelo dos jornalistas com função de coordenador (63,3%). O menor índice aparece entre editores (35,5%). O receio de redução de vagas sobre à medida que a idade avança, em especial a partir dos 35 aos 44 anos, faixa etária em que a concordância total ou parcial chega a (73,9%). O nível mais alto aparece entre os profissionais de 55 a 64 anos (77,3%). 14

Edição 1.455 página 25 Últimas n O cartunista, escritor e jornalista Ziraldo Alves Pinto morreu na tarde de sábado (6/4), em casa, no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro. Tinha 91 anos e a causa da morte foi falência múltipla dos órgãos. Depois de sofrer AVC por três vezes, estava acamado e não levava vida pública por recomendação médica. O velório foi na manhã de domingo (7/4) no Museu de Arte Moderna, e o sepultamento, à tarde, no Cemitério São João Batista. Deixa viúva sua segunda esposa e três filhos do primeiro casamento. A missa de sétimo dia será na sexta feira (12/4), às 20h, na paróquia Santa Margarida Maria, na Lagoa. u Mineiro de Caratinga, a família se mudou para Belo Horizonte por iniciativa da mãe, sob o argumento de que “o céu de Caratinga era muito baixo”. Em entrevista, Ziraldo comentou que ela intuía o “baixo astral”. Formou-se em Direito, mas desde sempre demonstrou a inclinação para o desenho. Filiado ao PCB, mais tarde optou pelo PSol. u Nos anos 1950, passou a colaborar com o jornal Folha de Minas. Daí, passou às revistas A Cigarra e O Cruzeiro, dos Diários Associados. Na década seguinte, já no Rio, trabalhou no Jornal do Brasil, com charges políticas e cartuns. Dessa época são os personagens para adultos Jeremias, o Bom, Supermãe e Mineirinho. Em 1960, lançou A Turma do Pererê, primeira revista em quadrinhos brasileira de um único autor. Tinha a selva como cenário, e o mitológico Saci Pererê liderando um grupo com crianças indígenas e animais de nosso folclore. A revista foi publicada até 1964. u É de 1969 o início da publicação do semanário O Pasquim. Com foco na contracultura e na oposição ao regime militar, teve entre seus fundadores e diretores a chamada “turma do Pasquim”. Além de Ziraldo, nela estavam Jaguar, Tarso de Castro e Sérgio Cabral, Millôr e Luiz Carlos Maciel, Henfil, Paulo Francis, Ivan Lessa e Ruy Castro, além de outros notáveis do jornalismo nacional. Maior fenômeno editorial do País, começou com modestos (para a época) 20 mil exemplares e, em seis meses, atingiu mais de 250 mil. A decretação do AI-5, no mesmo ano, e a consequente instauração do período mais sombrio da ditadura, levou à prisão a maior parte da redação do Pasquim. Ziraldo foi preso em casa e levado para o Forte de Copacabana. A expectativa de que o jornal deixasse de circular não se concretizou. O remanescente da redação recrutou novos colaboradores entre intelectuais brasileiros, n Maurício Dias morreu no domingo (7/4), em casa, aos 76 anos, em decorrência de um problema pulmonar crônico. Velório e cremação do corpo foram na segunda-feira (8/4), no Memorial do Carmo. Deixou três filhos. u Natural de Carangola, era um mineiro apaixonado pelo Rio. A revista CartaCapital, de que foi diretor, conta em seu obituário que “preferia frequentar a ponte aérea a se estabelecer em São Paulo, sede da publicação”. u Teve longa carreira no jornalismo brasileiro, atuando nos principais veículos do País. Na revista Veja, trabalhou como repórter para o diretor Mino Carta, o que definiria seu rumo profissional a partir de então. Chefiou a sucursal Rio da IstoÉ, e seguiu Carta quando este saiu da revista, no início dos anos 1990. Passou então ao Jornal do Brasil, quando editou a coluna Informe JB, espaço de prestígio só assinado por nomes relevantes do jornalismo. u Em 2004, lançou o livro A mentira das urnas – Crônicas sobre dinheiro e fraudes nas eleições, resultado do que soube em sua experiência como editor e colunista, e fez um levantamento histórico sobre o Caixa 2 na vida política brasileira. u Reencontrou Mino Carta na revista CartaCapital, e ali esteve por mais de uma década. Foi diretor adjunto de Redação, editor especial e titular da coluna Rosa dos ventos. u Deixou registrada, em entrevista para o Núcleo Piratinga, uma ideia que bem definiu sua opção pela imprensa alternativa, partindo de um antagonismo proposto por Hegel, que é a relação do senhor com o escravo: o jornalista, depois de algum tempo, assimila a consciência do patrão. O adeus a Ziraldo, patrimônio cultural brasileiro,... e a circulação cresceu. O Pasquim vendia em bancas mais do que as revistas Veja e Manchete somadas. Por suas críticas ao regime, Ziraldo foi preso três vezes. u Como autor de livros – histórias aparentemente para crianças, que cativavam também os adultos –, Ziraldo começou com O menino maluquinho, de 1980. Inicialmente uma revista em quadrinhos, logo se tornou um livro de grande repercussão: vendeu quatro milhões de exemplares, foi adaptado para o cinema e a TV. A este seguiram-se Flicts, um clássico; O bichinho da maçã (na série, Cada um mora onde pode) e mais de 20 livros, alguns títulos desdobrados em séries. Deles, Menina Nina: duas razões para não chorar foi escrito e ilustrado para sua neta, após a morte da avó. u Versátil, continuou a colaborar com diversas publicações, criou cartazes e marcas publicitárias, descritos por Márcio Ehrlich. Em 1999, lançou a revista Bundas, uma sátira ao mundo das celebridades exposto na revista Caras. u Premiado com o Jabuti de Literatura, ganhou ainda o Internacional do Humor no Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas, Bélgica; o italiano Andersen − Il mondo dell’infanzia; o Ibero-americano de Humor Gráfico Quevedos, do governo espanhol. Suas ilustrações figuraram em publicações internacionais como as revistas Private Eye, da Inglaterra; Plexus, da França, e Mad, dos Estados Unidos. Em mais de seis décadas de carreira, teve os livros traduzidos para vários idiomas. u Nelson Motta assim definiu o homem de múltiplos talentos – jornalista, cartunista, chargista, escritor, pintor: “um patrimônio cultural brasileiro”. (Ver também Memórias da Redação, na pág. 49) Autorretrato de Ziraldo com alguns de seus personagens ...e a Maurício Dias Maurício Dias CartaCapital

Edição 1.455 página 26 n Percival de Souza deixou a Record após 21 anos. Na emissora, ele atuava como comentarista de Segurança no programa policial Cidade Alerta. Ganhou notoriedade por fazer dupla durante cinco anos com Marcelo Rezende, apresentador que faleceu em 2017. u Em comunicado, a emissora agradeceu a Percival pelo tempo de trabalho, descrevendo-o como “um dos mais reconhecidos e premiados” jornalistas investigativos: “Ao longo de duas décadas, suas análises e críticas contribuíram significativamente para a compreensão dos telespectadores em incontáveis casos, não só policiais, mas em diversos assuntos de interesse da sociedade brasileira”. u Com mais de 60 anos de profissão, Percival de Souza passou por veículos como Folha de S.Paulo, Jornal da Tarde, Rádio Capital, Rádio Eldorado, Rádio Gazeta, Globo e TV Cultura. Também escritor, são de sua autoria Autópsia do Medo, Eu, cabo Anselmo, Sindicato do Crime. PCC e Outros Grupos e Narcoditadura − O Caso Tim Lopes. u Ele deve permanecer analisando casos policiais em seus outros projetos, como o blog no R7.com e o podcast Arquivo Vivo. n Milton Leite deixará o Grupo Globo após participar dos Jogos Olímpicos de Paris. Com 34 anos dedicados ao jornalismo esportivo, os últimos 19 na Globo, e narrador de diversas modalidades, Leite preferiu diminuir o ritmo de trabalho e voltou a morar em Jundiaí, no interior de São Paulo, onde está a família. Aos 65 anos, ficou conhecido pela irreverência e por seus bordões. u Contratado em 2005, para integrar as transmissões do futebol no SporTV e Premiere, no ano seguinte cobriu sua primeira Copa para a Globo, a da Alemanha. Com cinco Copas na bagagem, e igual número de Jogos Olímpicos – contando os deste ano em Paris –, foi também apresentador dos programas SporTV Repórter, Arena SporTV e Grande Círculo. u Porém, conforme o Lance, ele tem outros motivos para querer se afastar. Segundo o jornal, desde o ano passado, Leite vinha perdendo espaço nos jogos da emissora. Sentiu também a demissão de Maurício Noriega, companheiro de transmissão, ainda no ano passado. Agora, viu a chegada do narrador Paulo Andrade, ex-ESPN, para o SporTV e o Premiere, com estreia prevista para sábado (13/4), no Morumbi. n No X, antigo Twitter, Paulo Andrade postou: “Estarei em São Paulo x Fortaleza, ao vivo no SporTV e Premiere no sábado, dia 13 de abril, na primeira rodada do Brasileirão 2024. Com direito a ‘friozinho na barriga’ de estreia. Vamos juntos!” u Depois de passagens como jogador de futebol nas categorias de base, começou no jornalismo esportivo no interior de São Paulo, em 1999, narrando e apresentando programas ligados aos times do ABC Paulista. Esteve em TV Gazeta e RedeTV. Fez parte da equipe esportiva do SBT em campeonatos importantes. u Em 2003, convidado por José Trajano, transferiu-se para a ESPN e considera um aprendizado a experiência que lá adquiriu nesses 20 anos. Como apresentador do canal, comandou o programa Linha de Passe. Obteve grande reconhecimento nas transmissões dos jogos dos campeonatos inglês e espanhol e da Uefa Champions League. Ele se destaca pela emoção nas narrações. n A Justiça condenou a Globo a indenizar a jornalista Veruska Donato, que deixou a emissora em 2021, por misoginia e danos morais. A decisão diz que a emissora tentou impor padrões estéticos à jornalista, o que ficou entendido como prática misógina. Cabe recurso da decisão. u Em janeiro de 2023, Donato, que trabalhou na Globo por 21 anos, entrou com uma ação contra a emissora, acusando-a de misoginia e etarismo. Ela declarou que recebia críticas da chefia da área de figurino “quanto a flacidez, ruga ou gordura fora do lugar”. Foi anexado ao processo um comunicado interno com “regras de beleza” para as profissionais mulheres da emissora, que incluíam cortes de cabelo proibidos, cores de esmalte e até roupas com tecidos pouco apertados para não “evidenciar barriguinhas indesejáveis”. u Na sentença, o juiz Adenilson Brito Fernandes, da 37ª Vara do Trabalho de São Paulo, reconheceu que houve “perseguição estética” e “misoginia intolerável”, e determinou indenização por danos morais de R$ 50 mil para a jornalista. A Justiça também anulou o contrato de Pessoa Jurídica (PJ) de Donato com a emissora, que vigorou entre 2002 e 2021, entendendo que ficou configurado vínculo empregatício. A Globo deverá também arcar com diversos benefícios trabalhistas, como adicional de tempo de serviço, diferença de aviso-prévio e 13º salário, vale-refeição, FGTS, horas extras, adicional noturno e multas. conitnuação - Últimas Percival de Souza deixa a Record após 21 anos Percival de Souza Milton Leite despede-se da Globo... Milton Leite ...e Paulo Andrade começa na emissora Paulo Andrade Justiça condena Globo a indenizar Veruska Donato por misoginia e danos morais Veruska Donato Ponto D podcast/YouTube

Edição 1.455 página 27 Nacionais n A 6ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) manteve a decisão que censura a reportagem publicada pela Agência Pública sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Ao solicitar a remoção da publicação, feita em 2023, o desembargador Alfeu Gonzaga Machado considerou ter havido “abuso do direito à liberdade de expressão”. u A reportagem em questão trazia acusações de abuso sexual feitas contra Lira por sua ex-esposa, Jullyene Lins, que não foram analisadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O suposto episódio de violência teria ocorrido em 2006, mesma época em que ela também afirmava ter apanhado do ex-marido. Lira, contudo, foi absolvido da denúncia de violência doméstica em 2015. u No julgamento do recurso da Pública, realizado em 3/4, o tribunal aprovou de forma unânime a manutenção da proibição de circulação da reportagem. O relator, Alfeu Gonzaga defendeu em seu voto o “esquecimento” das acusações contra Lira: “(…) imputando ao autor suposto estupro praticado em novembro de 2006 sob pena (…) Nós estamos em 2024, 18 anos atrás, reesquentando novamente matéria e espero que a comissão do novo Código Civil insira e traga o direito ao esquecimento, porque nós estamos com discurso num país cristão, de perdão, mas o esquecimento que é o fato não está sendo praticado, lamentavelmente, por uma parte da imprensa nesse País. Provavelmente amanhã eu serei chamado de censor e vou ter que dizer isso aqui: não sou censor e nunca fui a favor da censura, porque pela minha idade eu sei o que que a Revolução de 64 fez em termos de censura neste País”. u Após o resultado, a Pública divulgou um texto ressaltando que a matéria trata de um assunto de interesse público e que tomará as medidas cabíveis para a defesa dela: “Mais uma vez, a Agência Pública reitera a lisura da reportagem e repudia a censura e a violação da liberdade de imprensa, um preceito constitucional tão caro para as democracias”. n Relatoras da ONU ligadas aos diretos das mulheres enviaram uma carta ao Estado brasileiro na qual pedem a anulação de processos contra a repórter Schirlei Alves, que denunciou humilhações sofridas no tribunal pela influencer Mariana Ferrer, que declarou ter sido vítima de estupro em 2018. u A jornalista foi condenada a um ano de prisão em regime aberto e R$ 400 mil de multa por difamação, após publicar uma reportagem na qual expõe falas ofensivas e humilhantes direcionadas a Mariana Ferrer pela defesa do empresário André de Camargo Aranha, acusado de estuprá-la. A influenciadora chegou a chorar e implorar por respeito após ter sido desqualificada pelo advogado de defesa, Cláudio Gastão da Rosa Filho. Aranha foi absolvido em 2021. u O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) advertiu o juiz do caso, Rudson Marcos, por ter permitido “excessos de comportamento do advogado de defesa”. Posteriormente, Schirlei Alves foi condenada por difamação em processos movidos pelo próprio juiz e pelo promotor Thiago Carriço de Oliveira. Ela recorre da decisão. u Na carta, as relatoras da ONU destacam o trabalho da jornalista em denunciar a má conduta do judiciário brasileiro: “Desejamos expressar nossa preocupação com o processo e a condenação da Sra. Alves sob a acusação de difamação criminosa em relação ao seu trabalho como jornalista investigativa e defensora dos direitos humanos. Tal ação parece ser uma tentativa de intimidá-la e silenciá-la por denunciar, criticar e expor a má conduta do judiciário”. u As relatoras lembram também que a reportagem de Alves levou a uma “reforma judiciária significativa”, com a aprovação da Lei Mariana Ferrer, sancionada em 2021, que protege vítimas e testemunhas de crimes sexuais no contexto de julgamentos. A carta pede também medidas protetivas para mulheres jornalistas que cobrem crimes sexuais. u Assinam a carta as relatoras especiais Rene Khan (promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e expressão), Mary Lawlor (situação dos defensores dos direitos humanos) e Reem Alsalem (violência contra mulheres e meninas, suas causas e consequências), além de Dorothy Estrada-Tanck, presidente do Grupo de Trabalho da ONU sobre discriminação contra mulheres e meninas. Tribunal do DF mantém proibição de reportagem da Pública sobre Arthur Lira Arthur Lira ONU pede anulação de processos contra Schirlei Alves no caso Mariana Ferrer Schirlei Alves Intercept Brasil HÁ 10 ANOS APERFEIÇOANDO O MERCADO DE COMUNICAÇÃO VOCÊ TEM QUE ESTAR AQUI! A MAIOR FERRAMENTA DE ENVIO DE RELEASES DO BRASIL! MAIS DE 55 MIL JORNALISTAS NO MAILING DE IMPRENSA! O QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO PARA CONTRATAR?

Edição 1.455 página 28 n Teve início em 8/4 o julgamento de 27 pessoas envolvidas no escândalo Panama Papers, investigação jornalística de 2016 publicada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), que denunciou um grande esquema de evasão fiscal e lavagem de dinheiro envolvendo personalidades do mundo inteiro através do extinto escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca. u O julgamento ocorre oito anos após a investigação do ICIJ, que envolveu 376 jornalistas de 76 países. O Panama Papers vazou em 2016 cerca de 2,6 TB de informações confidenciais sobre mais de 210 mil paraísos fiscais offshore, de autoria do escritório Mossack Fonseca. O caso revelou que chefes de Estado e de Governo, líderes políticos, personalidades das finanças, do esporte e das artes ocultaram propriedades, empresas, bens e lucros através da criação de empresas de fachada e contas bancárias em outros países onde poderiam esconder o dinheiro. u Entre os réus estão os fundadores do escritório, Jürgen Mossack e Ramón Fonseca Mora, acusados de lavagem de dinheiro, além de outros advogados e ex-funcionários do extinto escritório. As audiências continuarão até 26 de abril. O julgamento estava marcado para 2021, mas foi adiado. conitnuação - Nacionais Julgamento de envolvidos no Panama Papers começa oito anos após o escândalo ICIJ Por Ignácio de Loyola Brandão (*) 31 de março de 1964. Ao chegar ao jornal Última Hora, dei com a porta de ferro baixada. Pequena abertura me deixou entrar. Duas da tarde, redação superlotada e silenciosa. Soubéramos que o general Mourão, à frente das tropas, descia para o Rio de Janeiro, aguardando a adesão de Amaury Kruel, chefe do Exército em São Paulo. UH era pró Jango Goulart, herdeiro de Getulio. Havia dias o noticiário nos deixava inquietos. A policia viria nos empastelar. Nessa tarde, o que nos atemorizava era a informação de que o Comando de Caça aos Comunistas, armado, deixara o Mackenzie e descia rumo ao Anhangabau, onde estávamos. Diretores pediram que as mulheres saíssem, UH tinha muitas jornalistas, colunistas, diagramadoras, telefonistas. Sabíamos que o encontro poderia ser violento. Nenhuma arredou pé. A grega Alik Kostakis, poderosa colunista social, com sua voz rouca, dizia: “Pensar que vamos morrer aos pés do convento de São Bento é ironia”. Soubemos que o CCC desviou na praça Ramos de Azevedo e foi atazanar os estudantes de Direito da São Francisco. Mas ficou a tensão. Até que, seis da tarde, um batalhão da Força Publica, hoje PM, invadiu o jornal, quebrou teletipos, telefones, máquinas de escrever, rasgou jornais e livros, estourou armários, prendeu alguns. Naquela noite, fui ao Gigetto, onde se reunia a classe artística. A certa altura, Mauricio Loureiro Gama e o repórter Tico-Tico (conhecido como um dedo-duro), jornalistas da Tupi, abriram a porta gritando: “Vencemos o comunismo!”. O jornal foi fechado. Todos os dias eu passava em frente, havia PMS encostados. Os policiais sumiram, o jornal reabriu duas semanas depois, 40 por cento de gráficos (altamente politizados) e jornalistas estavam desaparecidos. Presos, ou o quê? A ditadura tinha começado. Mas havia um elemento novo. O censor. Sentava-se junto ao editor. Este fechava as páginas e entregava àquele senhor que sequer disse o nome. Quando perguntei como saber o que podíamos ou não publicar, ele respondeu: “Eu sei. Obedeça. Outra pergunta dessa, te prendo”. Na primeira edição pós-golpe, o jornal apareceu com espaços em branco. Eram os lugares de matérias vetadas (assim dizia o carimbo verde), textos, notas e fotos. O Estadão contornou publicando receitas ou poemas de Camões. Cada um criou uma forma de escapar. Todas reprimidas. Mal imaginava eu que em 1976, meu romance Zero seria proibido. Tinha levado dez anos para escrevê-lo. 500 livros foram cancelados. Anos depois voltaram à vida. Vlado Herzog, que trabalhara na UH, nunca mais voltou. Foi morto. Nunca esquecer 64 (Para Clarice Herzog) (*) Jornalista, membro da Academia Brasileira de Letras Ele publicou este artigo na edição do Estadão de 7/4/2024 e pediu que o reproduzíssemos no J&Cia, com o que o jornal concordou. Ignácio de Loyola Brandão Especial

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