Edição 1.452 página 31 Roberto Muggiati Jaquito (Pedro Jack Kapeller) inclusive. “Nepotismo às avessas de Adolpho Bloch”, conclui Muggiati. Os únicos que tiveram os apartamentos em seu nome foram Carlos Heitor Cony e Zevi Ghivelder. Detalhe curioso: Adolpho não tinha escritório. Ficava ao lado da Manchete, “ocupava uns 20 cm2, colocava o cotovelo na mesa da secretária Marta”. Sua ferramenta era o telefone, monitorava tudo pelo telefone. Muggiati deixou a Manchete para trabalhar na Veja em 1968. Quando souberam que ele pretendia sair, “vieram com uma conversa”, convidaram-no para ser editor da revista Pais&Filhos, que acabava de ser lançada, uma franquia da alemã Eltern. Disseram que, se a revista rendesse bem, ele teria aumento. Mas a revista era uma sala e um office-boy. Pediu demissão. Na Veja Mudou-se para São Paulo e começou na Veja em setembro de 1968. A revista foi lançada dia 9 de dezembro, “a sexta-feira 13 que antecedeu o AI-5”. Na Veja, era o editor de Artes e Espetáculos, num tempo da Tropicália bem vibrante, Glauber Rocha premiado em Cannes. Muggiati tinha um editor para cada especialidade, mas, quando chegou, os cargos já tinham sido preenchidos por Mino Carta. Só escolheu o editor de Cinema, Geraldo Mayrink. Pouco mais de um ano depois, voltou ao Rio e à Manchete. Faz uma reflexão, em que se pergunta por que não foi importunado pela ditadura, quando tantos sucumbiram. Autodenominou-se O homem invisível dos anos de chumbo e acredita que foi por ter-se mudado para o Rio e para a Manchete. De volta à Manchete Voltou para a Bloch para editar Fatos&Fotos, e logo Cony o levou para chefiar a redação de EleEla, revista masculina – que não tinha mulher nua porque a ditadura não permitia – com boas matérias culturais. Depois, Justino o escolheu como segundo, em confiança, sem achar que Muggiati o apunhalasse pelas costas. Justino era brilhante na concepção de uma revista, mas não tinha cabeção para as miudezas. Além disso, fazia muita vida social na própria Manchete, passava bastante tempo com visitantes. Muggiati respondia às vezes por umas 30 matérias para completar a revista. Num choque de personalidade – ciúmes, talvez –, Adolpho resolveu tirar Justino. Muggiati, então editou a revista de 1975 até 1980. Justino voltou, mas não deu certo. A TV Manchete foi ao ar em junho de 1983 e Justino morreu um mês depois, no que Muggiati considera uma “morte simbólica”. Sabia que as revistas seriam sepultadas pela TV. Manchete passou a ser usada como house organ da TV. Mesmo inadvertidamente, por um golpe de sorte, houve um sucesso estrondoso com a novela Pantanal. Poderiam ter feito dela um trampolim para se tornar uma grande empresa, mas a administração continuava toda torta. As pessoas não sabem por que a novela das 8h, da Globo, passou para as 9h: esticavam o Jornal Nacional para não coincidir com Pantanal. Na medida em que a política se tornou proibitiva, no seu segundo livro Muggiati partiu para o tema da contracultura, e lançou, em 1973, Rock, o grito e o mito – A música pop como forma de comunicação de contracultura. O livro foi adotado em faculdades de Comunicação do Brasil inteiro. Dezesseis autores – a nata de editores e editoras da Bloch – fizeram o livro coletivo Aconteceu na Manchete: as histórias que ninguém contou. Com o lançamento do livro, passou a existir, e já dura 16 anos, Panis Cum Ovum – O blog que virou Manchete. Tornou-se Lançamento de Veja-1968 Adolpho Bloch na inauguração da TV Manchete
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