Jornalistas&Cia 1452

Edição 1.452 página 29 Roberto Muggiati Roberto Muggiati completa nesta sexta-feira (15/3) 70 anos de carreira. Desde quando começou, aos 16 anos, na Gazeta do Povo, de Curitiba, até agora, aos 86 anos, como colaborador da piauí, entre outras publicações, foram muitas as histórias e muita História deste que foi editor da Manchete, no auge da revista, mas sempre se considerou um repórter. Origens De volta às origens, ele relembra o bisavô Ernesto Muggiati, que veio com mulher e filhos da municipalidade de Muggia, na Itália – daí o nome da família – para a Colônia Cecília, comuna experimental baseada em premissas anarquistas, instalada no Paraná. Era o final do século XIX, tempo da febre amarela, que matou Ernesto, cuja viúva transferiu-se com os filhos para Curitiba. Em meio às dificuldades para se manter, o avô Diogo Muggiati começou como engraxate até montar, com um irmão, uma indústria de calçados. A tuberculose o levou, não sem antes tentar voltar para a Itália em busca de tratamento. Um dia, Roberto Muggiati encontrou um cartãozinho em que o avô Diogo reclamava das péssimas condições da viagem. Isso o inspirou a obter a cidadania italiana, uma vez que, nos anos 1990 a Itália estimulava a concessão da cidadania. Em 2014, Roberto visitou o que restava da Colônia Cecília, que motivou a vinda dos Muggiati para o Brasil. Mocidade Ainda em Curitiba, obteve o Cambridge Certificate of Proficiency in English (CPE). Cursou também a Aliança Francesa e já trabalhava como jornalista. Por isso, foi indicado pela entidade para uma das duas bolsas oferecidas pelo governo francês para estudar jornalismo em Paris. Assim, em 1960, lá foi ele, do Paraná, com Zuenir Ventura, que então trabalhava na Última Hora, do Rio. No Centre de Formation des Journalistes de Paris, empresas de mídia do sindicato patronal mantinham o curso com a finalidade de aperfeiçoar os profissionais locais. “Para fazer RP com o Terceiro Mundo, encaixavam sul-americanos e africanos das antigas colônias”, comenta, ácido. Curso essencialmente prático e todo em francês, da prova final constava o noticiário das agências naquela noite, e o aluno tinha que escrever e diagramar a página do dia seguinte. “Ao contrário das escolas no Brasil, que ficavam discutindo estruturalismo e coisas que não têm nada a ver”, avalia. Família A ex-mulher, Lena Muggiati, 14 anos mais moça, era fotógrafa da Manchete. Bons tempos, quando viajaram muito juntos e cobriram o Festival de Jazz de Montreux com trabalhos que se complementavam. Viveu 37 anos numa casa de vila na rua Real Grandeza, em Botafogo, no Rio. “Nunca morei tanto tempo no mesmo lugar. Mas a mulher foi embora, os filhos foram embora, a casa era enorme e o aluguel estava caro”, lembra, sem mágoa dessa fase difícil. A Manchete, quase falida, mal pagava, e ele trabalhou com traduções. Agora, voltou a morar com a exmulher, em Laranjeiras, mesmo não deixando de ser um ex-casal. Esta semana, ela estava na casa da cuidadora, preparando-se para uma cirurgia. Os dois filhos do casal deixaram o Brasil há vários anos. Roberto, de 43 anos, era jornalista, mas mudou de ideia, fez curso de gastronomia e hoje Por Cristina Vaz de Carvalho, editora de J&Cia no Rio de Janeiro Os 70 anos de profissão de Roberto Muggiati Roberto Muggiati Muggiati na Colônia Cecília, em 2014 Nesta ilustração, que o autor intitulou Brazilian Caipira – Lena e Roberto Muggiati à maneira do American Ghotic, arte de Roberto Mendonça Muggiati sobre foto de Cláudia Alves

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