Jornalistas&Cia 1438

Edição 1.438 página 33 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 A Bíblia dá conta de que cornos são a representação da força e do poder divinos. O bordel mais famoso do Estado de São Paulo foi a Casa da Eny, em Bauru. Muita gente importante e conhecida virou noites nesse bordel, cujos produtos de comer, de comer mesmo, custavam os olhos da cara. Essa casa de Bauru foi estudada por Lucius de Mello, autor do livro Eny e o Grande Bordel Brasileiro. No La Licorne passaram nomes como Nat King Cole, Julio Iglesias e Henry Kissinger, para quem “o poder é afrodisíaco”. Da área do cinema norte-americano foi visto num dos inferninhos da noite paulistana um cara chamado John Wayne, figurinha carimbada dos filmes de faroeste. “Os conservadores não têm por que temer o futuro do bordel”, escreve Emmett Murphy no seu livro História dos Grandes Bordéis do Mundo.. E acrescenta: “Depois de mais de três mil anos de serviços à comunidade, poucos duvidam que ele irá sobreviver sob uma ou outra forma durante milhares de anos mais, ou pelo menos enquanto continuar sendo uma fonte de renda”. Os bordéis se metamorfoseiam e se multiplicam por aí das formas as mais diversas. Sempre haverá uma mulher ou homem disposto a oferecer o corpo. Os lugares para uso dele podem variar: ora uma casa, ora um apartamento. Pode ser também num sítio alugado ou próprio. Os caminhos de acesso ao prazer sexual são fáceis. Para tanto, basta um clique num site pornô e, como num passe de mágica, aparecerá ou aparecerão uma ou mais mulheres ou homens, dependendo do gosto do interessado ou interessada. A imaginação humana não tem limite. O escritor japonês Yasunari Kawabata, no livro A Casa das Belas Adormecidas, conta a história de uma hospedaria que tinha como especialidade oferecer aos velhotes que a procuravam moçoilas belas e virgens. O detalhe da narrativa feita por Kawabata, Nobel de Literatura em 1968, é que as mocinhas ofertadas estavam sempre deitadas nuas, dormindo, sob o efeito de drogas. Licenciosidade na cultura popular (XXXVII) (continuação de J&Cia 1.437) Os clientes dessa história pagavam para admirar esses corpos inertes, sem avançar o “sinal”. Em última análise, a tal hospedaria era uma espécie de bordel. Corria os anos de 1960 quando o baiano de Irará Tom Zé conquistava o primeiro lugar no IV Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record. A música premiada tinha por título São São Paulo, meu Amor. Um trecho: Salvai-nos por caridade Pecadoras invadiram Todo o centro da cidade Armadas de rouge e batom Dando vivas ao bom humor Num atentado contra o pudor A família protegida O palavrão reprimido Um pregador que condena Uma bomba por quinzena Porém com todo defeito Te carrego no meu peito A propósito, bordel, prostituição e coisas do gênero, como orgia, se acham às pampas na discografia da nossa música popular. Alguns títulos e autores: Orgia, de Luiz Peixoto e A. Neves; Cabaré, de João Bosco; Bordel Lilás, Pablo; Mulher de Bordel, Adalberto e Adriano; Rei do Puteiro, Gasparzinho; Tango do Meretrício, João de Almeida Neto; Vida de Cabaré, Felipão; Mulher de Cabaré, de Luiz Guimarães. E quase todos os grandes e conhecidos cantores e cantoras gravaram discos interpretando coisas que tais. Nelson Gonçalves foi um deles, como Chico Alves, Orlando Silva, Sílvio Caldas, Alceu Valença, Roberto Müller, Marília Batista, Zaira Cavalcanti, Elis Regina e mais tantos e tantas. Marília gravou, de Noel Rosa, a canção dor de corno A Dama do Cabaré. Essa dama é conquistada num papo de meia hora. O piauiense Roberto Müller, de batismo, é dos anos 1930 e em 1975 gravou o bolerão de Luiz Guimarães, Mulher de Cabaré. Lá pras tantas, ele canta: Mulher de cabaré Não tem amor sincero Mulher de cabaré Eu amo, mas não quero Sob luzes fluorescentes Passa a noites acordada Forçada a um copo de bebida Morta de sono, amargurada. Nelson, dentre todos, foi provavelmente o artista que mais gravou músicas falando de orgia, bordel, prostituição e prostituta. Alguns exemplos: Abre a Janela, Auto-retrato, Fica Comigo Esta Noite, Leviana, Quem há de dizer, Meu vício é você, Dolores Sierra e o tango Carlos Gardel, de David Nasser e Herivelto Martins. Lá pras tantas diz a letra: Carlos Gardel Se cantavas a tragédia das perdidas Compreendendo suas ouvidas Perdoavas seu papel Por isso enquanto houver um tango triste Um otário, um cabaret, uma guitarra Tu viverás também Carlos Gardel Além de cantoras e cantores, o tema também tem sido gravado por grupos musicais como O Raimundos. Esse grupo, formado no ano de 1987 em Brasília, começou a gravar discos quatro anos depois. Em 1994, o Raimundos lançou sua música mais famosa: Puteiro em João Pessoa. No puteiro do título em questão um dos integrantes do grupo perdeu a sua inocência. O chargista Angeli conta essa história em quadrinhos. (continua na próxima edição) Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

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