Jornalistas&Cia 1427

Edição 1.427 página 17 (*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo. 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) Os conteúdos em áudio estão se tornando cada vez mais populares em todo o mundo e na China. Mas, ao contrário do que acontece no ocidente, em que a publicidade pública ou privada acaba mantendo o sistema de radiodifusão em funcionamento, lá o público mais jovem está ajudando a financiar plataformas e emissoras, que por sua vez estão criando programas diferentes dos veiculados nas rádios tradicionais. Esse processo de monetização dos programas de áudio permite que os ouvintes contribuam, com valores desde muito baixos até quantias consideráveis, para ouvir seus programas favoritos, assim permitindo um aumento dos ganhos dos apresentadores, produtores e produtoras de conteúdo, dependendo da popularidade do conteúdo feito. Um bom exemplo desse processo é a Himalaya FM, pioneira nas transmissões ao vivo via rede, na produção de audiolivros e de podcasts no mercado chinês. Em outubro de 2019, a emissora tinha mais de 600 milhões de usuários interagindo com seus materiais online. O objetivo da emissora é tornar a experiência do consumidor algo único, o que permitiu que produtores amadores e profissionais pudessem criar mais conteúdo para um público crescente. A missão da emissora é “partilhar a sabedoria humana através do áudio”. Por isso, advogados, médicos, entre outros profissionais liberais e especialistas, compartilham seus conhecimentos com o público a partir da comercialização, com direitos autorais, por canais de distribuição amplos, que podem atingir diferentes públicos. A plataforma da empresa oferece uma grande gama de conteúdos pagos, em que qualquer pessoa pode se beneficiar. Como, por exemplo, um dos apresentadores que organizou um grupo de pessoas cegas para gravarem audiolivros, podendo pagar um bom salário a cada um deles. Para os profissionais da rádio há um tripé de conceitos que são fundamentais para o bom desenvolvimento dos projetos. O primeiro é buscar ter mais atenção às necessidades dos ouvintes, principalmente observando a “taxa de conclusão” dos áudios acessados, ou seja, a probabilidade de os usuários irem até o fim de um arquivo escolhido para ouvir. No caso da Himalaya, a pesquisa revelou que, em 2019, O exemplo que vem de longe os ouvintes acompanharam em média 170 minutos dos programas, mas os dados revelavam que muitos deixaram a página e seguiram para outros conteúdos na rede sem ouvir os materiais. Para evitar esse problema, um produtor/apresentador passou a buscar o ponto de vista de seus ouvintes, fazendo o que ele chama de triturar o material. Shi Zhan separa as notícias mais importantes por duas horas e depois leva mais oito escrevendo um roteiro original que liga todas as pontas do conteúdo para ser veiculado em um programete de 8 minutos finais. O segundo conceito utilizado é transformar as trilhas e músicas tocadas em ferramentas para chamar a atenção dos ouvintes para os conteúdos, promovendo um bom casamento entre texto, voz e trilha. Com isso, conseguiram melhorar a experiência do ouvinte, indo na contramão do uso de músicas altas e sem conexão com os conteúdos, usadas nas rádios comerciais. E, por último, o terceiro conceito utilizado é que eles têm dois elementos como fundamentais para a produção: seleção e criação, pois buscam escolher conteúdos que não estejam acessíveis para o público em outras mídias, interpretando notícias e acontecimentos, tornando-os únicos para seus ouvintes. Um dos projetos desenvolvidos pela emissora foi criar um guia de áudio sobre os guerreiros de terracota do Mausoléu do Primeiro Imperador Qin. Os turistas e curiosos só precisam escanear um QR Code para ouvir a narração com todos os detalhes. Shi Zhan também apresenta um programa sobre a história da China, em que retrata os principais eventos de forma humorística e pessoal. Ele não imaginava que, ao se inscrever em um curso de capacitação da plataforma, iria se tornar um dos comunicadores mais conhecidos da Himalaya. Essas capacitações são feitas para profissionais de comunicação e outros interessados em compartilhar seus conhecimentos em formato de áudio. O programa de Zhan tem mais de 800 mil fãs listados e a quantidade cresce a cada mês. Diferentemente dos seus colegas, que atuam em emissoras convencionais e que brigam ponto a ponto pela audiência. Importante: este texto foi elaborado com base em pesquisas feitas pelo autor e material da Unesco. E a segunda parte da entrevista com Leo Lopes sairá em breve. Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link. Shi Zhan Himalaya FM

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