Jornalistas&Cia 1423

Edição 1.423 página 30 O coro, afinado e cada dia mais forte, saía pelas janelas e chegava ao sétimo andar, onde ficara a redação de Veja. De lá veio o pedido para que baixássemos o tom. 5 – A bola fora de Faustão na Rádio Globo De volta à Casa dos Mesquitas, em 1982, após a Copa da Espanha, fui trabalhar no Estadão. Minha cadeira, nas mesas conjugadas na editoria de Esportes, ficava ao lado da qual se sentava Fausto Silva, que já contava suas piadas, mas ainda não era o famoso Faustão. Acumulava Estadão com Rádio Globo, e, na maioria das vezes, gravava da própria redação do jornal sua participação nos programas esportivos da noite, enviando o boletim por telefone. Gravava por volta das 17 h e ligava o radinho às 18 h para ouvir como ficou. Belo dia, Fausto começou a gravação e deu uma parada, assim: “...aqui direto do Parque São Jorge como.../Espera um pouquinho aí, deixa eu tirar o chiclete da boca.../Vamos lá outra vez, então. Contando:3, 2, 1...e aqui direto do Parque São Jorge...” O problema é que lá na rádio, talvez na pressa de colocar o boletim no ar, a edição comeu mosca e foi tudo para o ar, sem cortes. A redação inteira estava ouvindo o programa e caiu na gargalhada. Sem jeito, Fausto ligou para a rádio indignado; “Porra, Tim (Tim Teixeira, um dos chefes da equipe de Osmar Santos). Você quer me foder...” 6 – Repórter “ladrão” de cinzeiro Mais uma do Estadão. Uma noite chega do Rio o repórter da sucursal carioca do jornal, Gílson Menezes. Ele deixa na minha mesa sua mochila de viagem e vai passear pela redação. Pego um cinzeiro − tempos em que ainda se fumava na redação − e o coloco dentro da mochila do turista. Pelo ramal interno, ligo para o Luciano Ornellas, subchefe da redação e conto a travessura. Luciano chama o contínuo Clóvis e pede que ele chame o Gilson e pergunte se aquela mochila é dele e se ele passou pela revista na entrada do prédio. Missão cumprida, Clóvis pergunta quem ele é, o que faz ali e o que tem na mochila. Gilson explica que é da sucursal carioca e me aponta como testemunha. Nego. Digo que nem o conheço. Clóvis pede para que ele abra a mochila para ver se está armado. Mochila aberta, lá está o cinzeiro da redação. Clóvis acusa Gilson de furto e o leva para a segurança – naquela altura, todos já estavam avisados do teatro que tínhamos armado e só ele, Gílson, não conseguia rir da situação constrangedora em que fora metido. 7 – Marijuana é marijuana em qualquer língua Trabalhando em jornal e revista, às vezes levávamos a “redação” para outros lugares. Em 1976, no Canadá, montei meu espaço de trabalho na Universidade de Montreal, onde me hospedei para fazer a cobertura dos Jogos Olímpicos para a Placar. Estava junto com o fotógrafo Rodolfo Machado. Era um pequeno quarto, com uma cama, uma pia e uma mesinha. Verão, tarde tranquila, deixei a porta aberta enquanto escrevia a primeira reportagem, mostrando os favoritos para a medalha de ouro, com destaque para a romena Nadia Comanecci, na ginástica, graças à indicação de um colega inglês, especialista na modalidade. Entre uma lauda e outra, dando uma relaxada, olhei para fora da porta, atraído pelo barulho de passos suaves. E vi, espantado, uma jovem estudante, nua, dirigindo-se para os chuveiros, colocados do lado oposto no corredor. Sim, estava nua e não correu quando me viu. Os chuveiros, se bem me lembro, seis, eram usados indistintamente por alunos e alunas. Preocupado, fechei a porta, sabendo que logo a moça passaria de volta. Rodolfo tinha saído para um passeio pelo campus e voltou com uma pergunta, que me deixou curioso. As moças que trabalhavam como voluntárias, atendendo aos jornalistas que se hospedavam na Universidade, perguntaram se ele tinha “marijuana”. Brinquei, indagando a ele como havia entendido as moças, se ele não falava nem espanhol, nem inglês, nem francês. E ouvi como resposta: “Zé, marijuana é igual em todas as línguas”. Dei a ele uns charutinhos que havia ganhado do deputado Cunha Bueno, no aeroporto de Los Angeles, dizendo que era uma “marijuana’ desenvolvida no Brasil. 8 – Um hino a Perón A Copa da Argentina, em 1978, foi disputada sob duro governo militar. A seleção brasileira jogou na sede de Mar del Plata e eu fiquei na de Buenos Aires, onde jogava a dona da casa, com o companheiro João Rath, gaúcho, grande conhecedor das coisas do Cone Sul. Gostávamos de jantar num restaurante espanhol, de boa cozinha e frequentado pela elite portenha. Uma noite, com mais dois amigos, fomos ao restaurante, que estava lotado. Inverno forte, as mulheres embrulhadas em ricos casacos e os homens em pesados sobretudos de lã, não demonstravam o menor sinal de que pediriam a conta tão cedo, de modo que pudesse vagar uma mesa. Falei em desistirmos e procurarmos outro local, mas Rath disse não. “Vamos assobiar o hino do Peronismo e vocês vão ver quantas 1980, Espanha, cobrindo o Torneio Tereza Herrera, revista Placar

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