Edição 1.423 página 29 Woile identificado, os guardas o convidaram a acompanhá-los, sem muitas explicações. “Por favor, venha conosco!”, disseram, apenas. Perguntei para onde o estavam levando e eles responderam que tinham ordem, apenas, para levá-lo. Nada mais a dizer. Woile foi e ficou um ar de medo e preocupação entre nós. Quatro horas depois ele voltou. Contou que nada fizeram com ele, nem mesmo interrogá-lo. Apenas o deixaram sentado em uma cadeira, onde passavam muitos deles, e quando se cumprimentavam chamavam um ao outro por Guimarães. Woile supunha que fora preso porque, muitos anos antes, quando trabalhava na Folha, morou em uma pensão e seu antigo telefone estava na agenda de um colega que morava no mesmo endereço, e que, naquele momento, também tinha sido preso. 3 – Bomba, bomba, bomba! Fim de tarde, pequena multidão sobe a avenida São Luiz, vinda da Praça da República, em direção ao prédio do antigo Estadão. Caminham e gritam palavras de ordem. O objetivo: botar bombas no edifício. Policiais a cavalo guardam o prédio, na entrada da Major Quedinho. Júlio Mesquita Filho – provavelmente devia ter sido avisado em casa do ataque – chega rapidamente à sede do jornal. Sobe para o sexto andar, onde ficam as redações, e vai para a sacada observar o movimento, a chegada das pessoas que gritam comandos para “botar fogo” no prédio. De repente, olha ao seu lado um guarda mirando os que atravessam a avenida em direção do prédio. Censura a postura do guarda e pede para que saia dali e vá para a porta de entrada, do lado de fora. Rua! Os manifestantes chegam a colocar uma bomba no prédio, mas, felizmente, ela faz pequenos estragos e ninguém sai ferido. 4 – Ai que calor! Laranjeiro filho da p... 1970, ano de Copa do México. Nos primeiros meses de vida, a redação da revista Placar funcionava a todo vapor no sétimo andar do edifício Abril, na Marginal Tietê, ao lado da redação da revista Veja e passagem obrigatória para o restaurante, num nível acima, onde diretores e autoridades almoçavam. Numa dessas visitas ilustres, o chefão Victor Civita ciceroneia um convidado e abre a porta para mostrar-lhe a redação, mas a fecha rapidamente, num susto só. A sala não tinha ar-condicionado e não se podia abrir as janelas que davam para a Marginal, porque as laudas voavam com repentinas lufadas de vento que vinham do Tietê. O calor era insuportável, ao ponto de, muitas vezes, repórteres, redatores e editores tirarem a camisa para trabalhar de maneira mais confortável. Naquele dia, porém, teve quem exagerasse. Justamente na hora em que Civita abriu a porta, orgulhoso, para o visitante, vislumbrou Hedyl Valle Júnior apenas de cuecas, de pé, próximo à sua mesa de trabalho. Depois do incidente a redação de Placar mudou para o quarto andar, onde as salas, com divisórias em madeira, ficavam na parte do fundo do edifício. Sem ar-condicionado, o problema com o calor era o mesmo, mas ali ao menos as janelas podiam ser abertas. Os “problemas”, no entanto, não cessaram. Como o prédio da Marginal estava isolado, longe de tudo, era impossível dar uma saidinha para comer alguma coisa rápida. Por isso, um funcionário passava com um carrinho de lanche no meio da manhã e no meio da tarde. Mal o vendedor entrava com o carrinho na sala, Hedyl comandava o coro de muitas vozes: “Laranjeiro, laranjeiro, hei, hei, filho da puta”. Quase todos riam, até o “laranjeiro” se divertia com a indelicadeza. Só quem não ria era Lígia, secretária nova, que ficava vermelha como pimentão. No início, até chorava. Depois, acostumando-se ao impropério, apenas fechava os olhos e cobria os ouvidos. 1969, Rio de Janeiro, Hotel Glória, recebendo o Prêmio Esso 1973, Montevidéu, entrevistando Obdulio Varella, Placar 1974, Vila Belmiro, despedida de Pelé. Placar
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