Edição 1.423 página 2 Últimas n O ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado em 14/8 pela 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de SP por 175 agressões contra a imprensa. A ação civil pública foi movida pelo Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. Ele terá que pagar multa de R$ 50 mil, mas ainda poderá recorrer a instâncias superiores. u Os ataques aconteceram em 2020 e juntam 26 ocorrências de agressões diretas a jornalistas; 149 tentativas de descredibilização da imprensa e duas ocorrências direcionadas à Fenaj. A ONG Repórteres Sem Fronteiras, em seu balanço anual de violações e ataques à liberdade de imprensa, monitorou 580 ataques a jornalistas e veículos em 2020 no Brasil, sendo 103 apenas do então presidente. A RSF afirmou ainda que o mandato de Bolsonaro foi um período de “forte hostilidade contra jornalistas” e que o ex-presidente “atacou sistematicamente jornalistas e veículos de imprensa” no Brasil. Em 2021, ele foi incluído na lista “predadores da imprensa”, criada pela organização. u Esta foi a terceira derrota de Bolsonaro no mesmo processo. Em 7/6 do ano passado, a juíza de 1ª instância Tamara Hochgreb Matos condenou o ex-presidente, impondo uma multa de R$ 100 mil. Ele recorreu da decisão. Em maio último, a 4ª Câmara do TJ-SP manteve a condenação, mas reduziu o valor da multa à metade. Inconformado, Bolsonaro ingressou com novo recurso, e chegou a alegar que suas “críticas” não se dirigiam à imprensa como um todo, e sim apenas a uma parte dela, que chamou de “imprensa de esquerda”. n O Intercept Brasil denunciou em 11/8 que sofreu censura do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro por causa de uma reportagem sobre o próprio Judiciário do estado. A decisão proíbe o Intercept de sequer falar do assunto da reportagem, replicar trechos da matéria e citar o nome das magistradas e da promotora envolvidas, sob a justificativa de segredo de justiça e preservação da privacidade dos envolvidos. u “O que podemos dizer é que a reportagem é mais um exemplo do tratamento que mulheres rotineiramente recebem daqueles que deveriam proteger vítimas”, escreveu Flávio VM Costa, editor- -chefe do Intercept Brasil. Sobre a justificativa de segredo de justiça e privacidade dos indivíduos, o Intercept explicou que em nenhum momento revelou os nomes dos participantes da audiência, e sim apenas dos membros do Judiciário envolvidos, da promotora e das juízas, ambas da 9ª Vara de Família da Comarca do Rio de Janeiro. A censura foi pedida pela própria promotora citada na reportagem. A manutenção da reportagem no ar custaria R$ 150 mil ao Intercept, além do risco de outras penas mais pesadas. O veículo declarou que vai respeitar a decisão, mas vai recorrer. u O Intercept lançou uma campanha para arrecadar R$ 100 mil para seu Fundo de Defesa Legal. O dinheiro será utilizado para arcar com os custos de processos judiciais que o Intercept enfrenta. Interessados podem contribuir aqui. Judiciário do Rio de Janeiro censura Intercept Brasil Bolsonaro é condenado em segunda instância por 175 agressões contra jornalistas Ataques não intimidaram a imprensa n O estudo Ataques contra jornalistas no Brasil: Efeitos catalisadores e resiliência durante o governo de Jair Bolsonaro mostra que os ataques do ex-presidente em vez de intimidarem, motivaram a imprensa. Publicada em julho no The International Journal of Press/Politics, um dos principais periódicos das áreas de imprensa e política, a análise revelou que as ofensas contra comunicadores tiveram o efeito oposto do esperado. u Produzido por João Vicente Seno Ozawa, doutorando da Escola de Jornalismo e Mídia na Universidade do Texas, em Austin, em conjunto com os professores Josephine Lukito, Anita Varma, Rosental Alves e Taeyoung Lee, o artigo utilizou métodos quantitativos e qualitativos na avaliação. u As primeiras hipóteses foram divididas em duas; a primeira era “um aumento nos ataques contra jornalistas leva a uma diminuição na cobertura jornalística sobre Jair Bolsonaro”, e a segunda, “um aumento nos ataques contra jornalistas leva a um aumento na cobertura jornalística”. No entanto, nenhuma mostrou-se comprovada, segundo a análise quantitativa. u Durante o estudo qualitativo, quando 18 jornalistas que sofreram ataques pessoais do ex-presidente e seus aliados foram entrevistados, constatou-se como reação maior disposição para o trabalho. “Vários jornalistas usaram a palavra ‘gás’ para articular sua reação aos ataques, que catalisaram a cobertura em vez de esfriá-la”, dizem os autores. “O objetivo de Bolsonaro de silenciar jornalistas por meio de ataques não parece funcionar. Em vez disso, eles não estão recuando”. u O resultado surpreendeu os pesquisadores e o principal autor do artigo. Osawa revelou à LatAm Journalism Review (LJR) que, “embora a democracia no Brasil seja falha e para poucos, ela mostrou resiliência. Esse estudo me deu ainda mais admiração pelo jornalismo brasileiro”.
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